“O meu maior desejo sempre foi ser pai. Desde os 15 anos eu já entendia que aos 30 eu teria o meu primeiro filho”. O sonho de Francisco Borges sempre esteve muito claro: além de querer formar uma família, ela começaria por meio da adoção – pauta presente logo no início da vida do jornalista.
Francisco foi abandonado pela mãe biológica quando tinha 3 anos nas ruas de Perdizes, bairro nobre de São Paulo. Após ser encontrado pela equipe técnica da Febem ele foi levado para a instituição, onde viveu até ser adotado por um casal aos 5 anos de idade. “Eles eram fora da curva: um casal negro com um entendimento sobre raça e gênero quando não se falava disso, de necessidade de pertencimento e, ao mesmo tempo, respeito ao próximo. Tive uma estrutura familiar por parte dos meus pais adotivos, muito forte, embora curta. Quando eu tinha 12 anos de idade, minha mãe adotiva faleceu vítima de leucemia”.
Ao longo desses 7 anos juntos, Francisco e a mãe construíram um vínculo forte. “Ela me encheu de amor, de valores bons. Quando nós nos abraçávamos, eu sentia uma energia muito boa, sabia o que ela estava pensando. A gente tinha isso”. Três anos após a mãe perder a batalha contra o câncer, o pai de Francisco também faleceu. “Ele era uma pessoa mais reservada, mas extremamente guerreira. Minha mãe era a chefe da família, e ele seguiu com o filho que ele desejou, mas que o sonho maior era dela. E ele não soube lidar com isso”.
O baque das perdas trouxe novamente a sensação de estar sozinho. Mas, apesar de tudo, Francisco sempre acreditou que o futuro seria melhor, ainda que tudo no momento parece só tristeza. Com o passar dos anos, o sonho da paternidade criou raízes em sua vida. “Acredito que ter sido abandonado me permitiu vivenciar a dor da perda, a dor da falta, o desejo de ter uma família e o desejo de fazer parte de algo”.
De um para sete
Foi Victor quem trouxe a paternidade solo por meio da adoção para a vida de Francisco, quase 14 anos atrás. Ele chegou ainda recém-nascido para a casa do jornalista, que contava com a ajuda de uma babá para conseguir cuidar do menino. “Nunca tinha trocado uma fralda nem vivenciado o dia a dia como pai ou cuidando de uma criança”.
Depois dessa primeira experiência, Francisco percebeu que ele poderia exercer a paternidade não só com bebês e crianças pequenas, mas também com adolescentes. “Talvez eu não vivenciasse as primeiras vezes de andar e falar, mas eu poderia vivenciar outras experiências. As pessoas que estão nestes lugares [casas de acolhimento] foram precarizadas e foram tiradas delas as possibilidades de vivenciar coisas muito básicas para mim. Muitas coisas elas ainda não viveram, essa é real. Eu iria vivenciar as primeiras vezes que fossem possíveis”.
Foi essa a virada de chave necessária para que a próxima adoção de Francisco fosse diferente. Em fevereiro de 2020, ele conheceu os irmãos Gabriel e Maikon, de 11 e 9 anos. Um mês depois, os meninos se juntaram à família do jornalista e foram morar com ele e o Vitor. Em agosto de 2021, receberam oficialmente o sobrenome Borges.
A família aumentou para valer durante o primeiro semestre de 2021 quando Francisco conheceu três meninos do Espírito Santo por meio de um programa de adoção chamado ‘Esperando por você’, focado em crianças que têm poucas chances de conseguirem um novo lar. “Por ser grupo de irmãos, eles não tinham pretendentes no cadastro nacional e nem no internacional. Vi um vídeo dos três e me interessei em saber mais sobre suas histórias e realidade”.
40 dias após o primeiro contato, aproveitando as férias de junho e julho, Francisco viajou de mala e cuia junto dos outros filhos para conhecer o trio: Miguel, de 11 anos, David, de 5, e João, de 4. O encontro deu tão certo que tudo depois aconteceu muito rapidamente. “Ficamos em aproximação com autorização judicial, e em agosto do mesmo ano eles vieram morar conosco. Hoje faz 7 meses que a nova formação da minha família está deste jeito”.