Ela está em todos os cantos da casa. Na lancheira pronta, na agenda assinada, no brinquedo consertado, na consulta marcada e até na foto tirada (mas nunca nela). Apesar de estar presente em absolutamente tudo, muitas mães seguem invisíveis. E não é força de expressão — é realidade. Vamos olhar com mais atenção para um tema que toca fundo: a invisibilidade materna.
A psicanalista e especialista em comportamento, Fabiana Guntovitch, lançou um olhar importante sobre o assunto. Para ela, a exclusão simbólica das mães nos registros do dia a dia, especialmente nas redes sociais, tem impactos sérios na autoestima e na forma como essas mulheres se enxergam no mundo. “Elas estão sempre ali, cumprindo uma função que envolve milhares de pequenas tarefas, mas raramente são vistas. É como se fossem o alicerce invisível que sustenta a família”, afirma.
Quando cuidar vira sinônimo de sumir
Muita gente não percebe, mas quem cuida costuma ser deixado de lado. Não por maldade, mas por um hábito cultural que precisa ser questionado. Fabiana explica com uma metáfora certeira: “Ninguém tira foto do fotógrafo, ninguém cozinha para o cozinheiro e ninguém cuida do cuidador.” No fim, quem está sempre no modo “fazer acontecer” acaba esquecida. E isso vale (e muito) para a maternidade.
Segundo ela, o problema é quando essa dedicação vira apagamento: “A maternidade não é apenas uma função, mas a soma de muitas. Quando a mulher é vista apenas como a cuidadora, sua individualidade se perde. Ela cuida de todos, mas ninguém cuida dela.” A pergunta que fica é: quem cuida de quem cuida?

A falta de reconhecimento pesa — e não só no corpo
Não é exagero dizer que a ausência de reconhecimento adoece. O sentimento de estar sempre nos bastidores, sem aplausos, sem agradecimentos, sem registros, gera solidão. E, como reforça Fabiana, não é preciso esperar datas comemorativas para mudar isso: “Tirar uma foto dela com os filhos deveria ser o mínimo, mas a maioria das mulheres precisa pedir, às vezes até implorar, para que isso aconteça.”
Pedir para ser incluída é, por si só, um fardo a mais. Quando as mulheres se veem obrigadas a exigir espaço até nos momentos de afeto, a mensagem que recebem é clara: elas não importam tanto quanto os outros.
Como mudar essa história: enxergar quem está sempre lá
Dá para mudar esse cenário — e não exige grandes revoluções. São os gestos simples e diários que fazem toda a diferença. Dividir as tarefas, agradecer de verdade, ouvir com atenção, oferecer ajuda sem que ela precise implorar. “Perguntar como ela está, oferecer ajuda sem que ela precise pedir. Pequenos gestos que mostram: ‘Eu te vejo, você importa e sou grato por ter você na minha vida’”, conclui Fabiana.
E, claro, vale lembrar que reconhecimento vai muito além de presentes no segundo domingo de maio. A visibilidade começa no dia a dia. É incluir nas fotos, nas conversas, nas decisões. É valorizar quem faz tanto, mesmo quando parece que ninguém está vendo.
Neste Dia das Mães (e em todos os outros dias), que tal começar diferente? Porque toda mãe merece ser vista, lembrada e reconhecida. Não como heroína incansável, mas como mulher real, cheia de vida, sonhos e identidade própria.