Sete meses após a morte de Miguel, Mirtes Souza abriu o jogo sobre o primeiro Natal sem o filho. O menino de 5 anos morreu após cair do nono andar de um prédio em Recife enquanto estava sob os cuidados da patroa de Mirtes, Sari Côrte Real. “Todos os dias eu sofro”, desabafou a mãe em entrevista ao The Intercept.
A mãe conta que o último final de ano ao lado de Miguel, em 2019, foi “mágico”. “Fomos à praia ver a queima de fogos e ele amou tudo aquilo”, diz. Mirtes também explicou que as festas eram alternadas de ano em ano entre ela e o ex-marido, pai do menino. Em 2020, Miguel deveria passar o Natal com a mãe. “A saudade do meu filho aperta de uma forma que penso que vou morrer”, diz.
“Miguel adorava o período de festas de Natal e ano-novo. Ver a casa decorada para ele era encantador, ficava ansioso esperando o Papai Noel trazer o presente dele. Algumas vizinhas se juntavam aqui na rua para fazer uma festa para as crianças”, relata a doméstica.
A primeira audiência do caso aconteceu em dezembro do último ano. Sari é acusada por abandono de incapaz que resultou em morte, com agravantes. “O que me restou foi essa dor imensa por sua partida cruel, a saudade, as lembranças dos momentos lindos que vivemos juntos”, desabafa Mirtes.
“Querem transformar meu filho num demônio e Sarí, em santa”, diz mãe
A primeira audiência do Caso Miguel ocorreu em 3 de dezembro. No dia, apenas a mãe do menino de 5 anos, Mirtes Souza, foi ouvida pelo jurí. Além dela e de Sari Corte Real, oito testemunhas de acusação e oito testemunhas de defesa presenciaram a sessão.
Em depoimento, a mãe de Miguel acusou a antiga chefe. “Querem transformar meu filho num demônio e Sarí, em santa. Meu filho era uma criança saudável, educada, e eles querem transformar meu filho na pior criança do mundo e querem fazer que Sarí pague de doida. Ela é uma mãe de família, mãe de dois filhos, empresária. É muito fácil colocar a culpa numa pessoa que já está debaixo de sete palmos de terra”, disse, de acordo com o G1.
Em uma coletiva de imprensa realizada no Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares, no Centro do Recife, Mirtes falou sobre o racismo da ex-patroa com a criança.
“Meu filho era educado, cheio de saúde, de vida, cheio de sonhos para realizar. Sarí fez o que fez com ele e diz que não fez nada. E o que mais me revolta que era algo que eu vinha negando desde o começo com relação ao racismo, hoje ficou explícito. Sarí não poderia cuidar dele, porque ela era filho da empregada doméstica, era preto. Por isso, ele não teria o direito de ser criança, se ser protegido. Vou lutar para mostrar que ele merecia ser cuidado, como toda criança”, afirmou.