A pandemia do coronavírus atingiu o mundo todo. Praticamente todos os países sentiram os efeitos da doença, direta ou indiretamente. Larissa Cassavia, jornalista, e mãe de Matias, vive na Suíça, região que, atualmente, apresenta 28.355 casos, 20.600 recuperados e 1.557 mortes devido ao vírus. O número que mais chama atenção é quantidade de infectados a cada um milhão de habitantes, com 3.302,26. Ela explicou para a Pais&Filhos como a população tem enfrentado essa fase e os sentimentos em relação ao período:
“Assim como a maior parte dos países afetados pelo coronavírus, a Suíça aderiu ao isolamento no dia 17 de março. Na época, o país registrava pouco mais de dois mil casos. A maior preocupação era com os cantões (estados) que fazem divisa com a Itália e Alemanha. No mesmo mês, dia 22, o país registrou o pico da doença e chegou a ser considerado o segundo mais afetado pelo vírus, se comparado por milhão de habitantes. Apesar de ser estruturada e rica, a Suíça também sofreu com a falta de testes e espaços em hospitais para administrar os mais de 27 mil casos no país.
Felizmente, moro em um dos cantões menos afetados, com pouco menos de 200 casos registrados e oito mortes. Ainda assim, ficamos muitos assustados e preocupados com a contaminação, já que Zug, onde moramos, fica na região central da Suíça, ao lado de Zurique, e a 3 horas de Milão (duas cidades bem afetadas na Europa). Este mês, o país já se prepara para o relaxamento da quarentena, que será feito em três etapas.
A primeira delas será dia 27 agora, quando salões de beleza, consultórios médicos e odontológicos, estúdios de tatuagem e alguns comércios, vão reabrir. Se o número de infectados não aumentar significativamente, dia 11 de maio, as escolas obrigatórias e o restante das lojas do país retornam. O último passo será dia 8 de junho com reabertura de escolas profissionais, universidades, bibliotecas, museus, zoológicos e jardins.
Enquanto isso não acontece, os suíços, que seguiram atentamente as regras da quarentena, têm aproveitado os dias de sol da primavera. As temperaturas subiram bastante nos últimos dias, o que preocupa o governo por conta das possíveis aglomerações. Como se sabe, o país possui poucos meses de calor e a população adora aproveitar a natureza em dias de sol, como os de agora.
Por orientação médica e seguindo as recomendações de distanciamento e higiene, não paramos as caminhadas com nosso bebê de 10 meses. Como vivemos em uma região de fazendas, foi fácil nos adaptarmos com as mudanças. Aqui, os moradores costumam sair para correr e andar ao ar livre diariamente. Vivemos próximo às fazendas que vendem os produtos em suas lojas, o que nos ajudou muito para sair às compras com o bebê. Alguns destes lugares, inclusive, funcionam sem atendentes. Você escolhe o que quer, anota e deixa o dinheiro em uma caixa.
Durante o trajeto, sempre encontramos muitos pais com as crianças e idosos, que são extremamente ativos no país. Em Zug, frequentemente, as pessoas se cumprimentam pelas ruas. O hábito continua, mas de maneira diferente. Com o medo da aproximação, as pessoas têm atravessado as ruas ou se distanciado de maneira significativa para saudar os outros. A regra do país, que proibiu o encontro de cinco ou mais pessoas em um ambiente público, aparentemente, permanece respeitada por todos. Os mercados possuem um número limite de clientes e fornece álcool gel e até luvas descartáveis na entrada, enquanto moradores de prédios se mobilizam para ajudar nas compras e necessidades dos vizinhos que não podem sair.
Conviver com uma população que encarou a seriedade do problema de cara, nos ajudou a sentir segurança durante a pandemia. Desde cedo, os suíços aprendem que são os únicos responsáveis por suas atitudes. Esta é uma das primeiras lições na escola. Até por isto, são muitos os seguros contratados quando se vive no país. Logo no início do coronavírus, nossa maior preocupação foi com a família que vive no Brasil. Temos medo que nosso país sofra ainda mais com o contágio do vírus e que não tenha uma boa reação econômica pós pandemia.
Acredito que, aos poucos, a Suíça retorne as atividades normalmente. Como é um país de menos contato social, se comparado ao Brasil, não devemos sofrer uma mudança de comportamento. Mas pra nós, sem dúvidas, muita coisa vai mudar. Nossa relação em família, cuidado com o nosso filho e nossas prioridades já mudaram bastante. Sair do Brasil com um bebê de dois meses nos fez sentir muitas coisas, mas conseguimos aprender ainda mais agora, longe da família e sem previsão para reencontrá-los com segurança”.
Larissa tem compartilhado os aprendizados como mãe e estrangeira no Instagram @criandofora, feito quando se mudou para a Suíça, devido a transferência de emprego do marido. O país pode servir de exemplo para que os brasileiros também comecem a tratar a doença com mais seriedade.