Durante a exibição de ginástica artística nas Olimpíadas de Paris, Dona Rosa, mãe da atleta Rebeca Andrade e de outros seis filhos, não conseguia esconder o orgulho que sentia. Residente em Guarulhos, São Paulo, ela costumava sair de madrugada para trabalhar como empregada doméstica. Seu filho mais velho levava Rebeca de bicicleta aos treinos antes de seguir para seu próprio trabalho.
“E pensar que muitos me criticaram na época, porque logo aos 9 anos ela foi morar fora, foi se dedicar aos treinos. Diziam você é doida de deixar sua filha ir embora. Mas eu tive a sabedoria e a mente aberta para deixá-la seguir seus sonhos. Eu deixei que ela voasse atrás de um objetivo. Deixando também claro que se não desse certo, as portas de casa sempre estariam abertas para ela. Hoje eu vejo que agi certo, por ter ouvido o meu coração”, declarou Dona Rosa ao UOL.

Os irmãos mais novos de Rebeca também se inspiraram nela durante a infância, desejando seguir carreira na ginástica, mas acabaram desistindo da ideia. Uma das irmãs seguiu na área artística como cantora e teve filhos. Rebeca recebeu diversos convites para integrar equipes importantes, optando por treinar no Flamengo sob a orientação da técnica Keli Kitaura. Ela aprimorou suas habilidades com a seleção brasileira em Três Rios, interior do Rio de Janeiro, aprendendo movimentos complexos como o duplo-duplo e alcançando excelência internacional.
Durante sua apresentação nas Olimpíadas de Paris, Dona Rosa assistia emocionada a todas as categorias em que a filha participou. E agora, campeã olímpica do solo, se tornando a maior medalhista olímpica brasileira da história (entre homens e mulheres), o orgulho foi ainda maior. Em entrevista ao vivo para a Globo, ela disse: “Não dá nem pra descrever, a emoção é muito grande. Ela batalhou muito, ela sempre dá o melhor dela. E hoje veio esse ouro tão sonhado”.
Como muitos atletas, Rebeca enfrentou lesões sérias e precisou passar por três cirurgias no joelho. Em julho de 2015, no Hospital Samaritano, ela enfrentou o pré-operatório com bom humor. “Ela falou assim: mãe, quando eu voltar da cirurgia e chegar no quarto, a senhora me acorda logo e me dá comida, porque eu estou morrendo de fome”, relembra Dona Rosa.