A vontade de ficar mais tempo com os filhos foi um dos motivos que levou ao crescimento do empreendedorismo feminino no Brasil. Segundo dados do livro Minha mãe é um negócio, de Patricia Travassos e Ana Claudia Konichi, cerca de 65 mil empreendedoras, dentre as 17 milhões que existem no Brasil, estão à frente de uma franquia e chegam a faturar até 34% a mais do que lojas gerenciadas por homens.
A empresária Vanessa Roos, mãe de Isabella e Bruno, é dona da Trullis Dolce Indulgenza, que investe no mercado de doces no Sul do país. Ela optou por abandonar a carreira de executiva por não conseguir participar da vida da filha mais velha. “Ou eu embarcava de fato na vida de executiva e abria mão da infância da minha filha, ou montava o meu próprio negócio para ter mais flexibilidade”, conta. Com o lucro da indenização, decidiu abrir uma pequena empresa e hoje atende vários clientes. “Abrir a minha empresa não significa que trabalho menos, mas faço de tudo um pouco”, explica.
Abrir o próprio negócio ajudou Vanessa a ter autonomia para organizar o seu horário e acompanhar o crescimento dos filhos. “Eu faço algo que me dá prazer e sinto que estou criando alguma coisa”, diz. Ela se encaixa na pesquisa realizada pela Sebrae em parceria com Dieese, que analisa que o mercado de empreendedoras cresceu, de 2001 a 2011, 21,4% e que 40% das mulheres são chefes de família, sendo que 70% delas tem pelo menos um filho.
Segundo Patricia Travassos, filha de Clovis e Marion e coautora do livro Minha mãe é um negócio, o lado bom do empreendimento é que a mãe consegue estar mais próxima da criança e, ao mesmo tempo, participar ativamente de atividades, como reuniões escolares e lições de casa. “Acompanhando o trabalho da mãe, o filho também aprende valores importantes para a educação, como ética, o valor do dinheiro e do trabalho em si”, explica.
Procure planejar
Para o negócio dar certo, o planejamento é obrigatório. Funciona como o pré-natal da grávida, que é fundamental para conduzir o desenvolvimento do bebê da melhor maneira. O plano da empresa deve ser feito antes do nascimento: estudar as variações do mercado, concorrência, matéria-prima que será utilizada e o desenvolvimento do produto.
Segundo estudo de Harvard, 30% das empresas fecham antes de completar dois anos de vida. As perguntas fundamentais antes da criação, para não entrar nessa estatística, são:
- O que é?
- Quem é o cliente?
- Quem é o público alvo?
- Quanto tempo eu tenho até conseguir o retorno financeiro?
- Quanto dinheiro eu tenho para investir?
- Quanto do meu tempo ele vai tomar?
Tenha em mente que mudanças podem acontecer nessa empreitada. Se o seu foco eram os doces, pode ser que o salgado acabe rendendo mais e você acabe desviando a aposta.
Deixe o negócio crescer
Não se engane achando que o negócio não dá trabalho. Ele exige atenção, e muita. “A empresa é mais um filho para criar. Também exige presença e concentração da empresária”, explica Patricia Travassos. É verdade que a mãe ganha mais autonomia e flexibilidade, além da autoestima que melhora quando o empreendimento dá certo. “Não dá pra pensar em manter uma empresa do mesmo tamanho de quando foi inaugurada ou fechar o negócio porque deu certo. A empresa precisa crescer para sobreviver, pois os clientes e os funcionários vão exigir aumento nos gastos”, explica Patricia.
Foi o que aconteceu com Lislene Cordeiros, mãe de João Pedro e Larissa, que abriu um restaurante especializado em frutos do mar, o Momento Peixe. “Queria investir em algo para ter a vida mais tranquila e dar um futuro melhor para a minha filha. A vantagem é não ter patrão, cuidar de algo que é seu e crescer como profissional”, conta. Mas o negócio cresceu tanto que acabou ocupando seu tempo integral. Mais tarde, achou melhor passar adiante para se dedicar à família. “Minha filha podia estar sempre comigo e aprendeu tudo sobre o restaurante. Tanto que hoje, aos 16 anos, é gerente de um”, diz.
Elas se preocupam mais
Segundo Patricia Travassos, a mãe empreendedora se preocupa com o legado que vai deixar para as próximas gerações. Por isso, há uma preocupação maior com os seus funcionários e assuntos que estão relacionados à maternidade. Vanessa Roos, por exemplo, se organiza para que as funcionárias possam sair mais cedo para alguma atividade com o filho, como uma apresentação na escola. “Sou flexível porque também sou mãe. Sei que elas precisam, assim como eu”, diz.
“O instinto materno transborda para as suas funcionárias e para o negócio”, explica a coautora de Minha mãe é um negócio. Esse é um dos grandes desafios das empresas: manter os talentos femininos e dar mais autonomia e flexibilidade para que elas estejam satisfeitas com o trabalho.
Para dar certo
O empreendimento pode ser um aliado para você conseguir passar mais tempo com a família, mas tudo depende da organização. Lembre-se:
- Organize o seu cronograma de acordo com as suas prioridades. Se o seu filho está em época de provas, por exemplo, reserve mais tempo para isso.
- Se os seus filhos já forem maiores, converse com eles. Explique que em alguns momentos vocês podem ficar mais tempo juntos e, em outros, precisa se concentrar no trabalho.
- Transmita esses valores ao seu filho. Mostre que é ativa e trabalha, mas que eles são a prioridade.
Consultoria:
Patricia Travassos, filha de Clovis e Marion, é publicitária, jornalista e coautora do livro Minha mãe é um negócio.