Ivan Moré é pai de Mel, de 11 anos, e Lui, de 9 anos. O jornalista não esconde a felicidade em desempenhar esse papel e, em entrevista exclusiva para a Pais&Filhos, deu mais detalhes sobre como enxerga a paternidade e a importância da família hoje.
Ser pai sempre fez parte dos seus planos?
Sim, eu sempre quis ser pai. A paternidade chegou em um momento planejado. Eu tive a Mel em 2013 e depois o Lui em 2015, e foi algo desejado, trabalhado, projetado e transformador. Eu acredito que a gente renasce quando um filho surge, porque existe uma necessidade do nascimento de uma figura paterna. E nessa, você começa a relativizar tudo, a maneira de encarar o mundo, a maneira de encarar as adversidades.
Qual foi a parte mais desafiadora em ser pai?
A parte mais desafiadora foi o início, porque tudo é novidade quando você tem o seu primeiro filho, a questão do sono, a questão das cólicas, a questão dos dentes que estão nascendo, dar banho, trocar fralda, entender os ciclos de alimentação… Tudo isso é muito rico e eu mergulhei muito para contribuir nesse momento inicial. A Mel, minha primeira filha, foi uma criança muito desejada e eu tinha certeza que teria uma menina. No início, foi aquele momento de maior impacto, porque nunca tive experiência com uma criança tão pequena. Mas tem uma característica muito interessante, que eu nunca esqueci. O meu primeiro vínculo com a Mel começou na barriga, porque durante a gravidez eu falei muito com ela na barriga. E o reflexo disso aconteceu no parto, porque logo depois que ela nasceu e a médica colocou no berço, ela estava berrando e os médicos me pediram para colocar a mão nela e conversar. Foi uma das coisas mais incríveis que eu vi na minha vida. Ela imediatamente parou de chorar e começou a tentar olhar o que era, ao identificar a minha voz. Então eu percebi ali, nesse primeiro contato, o tamanho desta conexão.
Você passou por um momento de depressão bem delicado, como foi passar por isso enquanto pai?
Foi um período em que eu estava com um olhar muito turvo para todos os aspectos. Eu estava esgotado fisicamente. Eu estava de uma certa forma perdido profissionalmente, no olho de um furacão em um processo de transição de carreira; eu tive covid-19 e fiquei muito mal, nove dias internado na semi UTI, com o pulmão tomado. E nesse período de isolamento, diante de todas as outras dificuldades que eu enfrentava na vida pessoal e na vida profissional, a distância dos filhos, aquela separação, os efeitos da covid, foi exatamente aí que minha autoestima caiu bastante. Eu estava muito magro, muito debilitado, muito triste, muito sem esperança.
Como foi lidar com seus próprios sentimentos?
Eu tenho um comportamento muito proativo para a vida, sempre fui muito energético e na época não me dei conta de que aquilo era uma depressão. Mas esse processo foi curto, porque graças a Deus eu tinha uma rede de apoio interessante, que me ajudou a olhar pro horizonte e aos pouquinhos eu fui melhorando. Foi só um ano depois, conversando com um profissional que nós diagnosticamos uma depressão. Foi muito duro, mas passou.
Sendo pai de menino e de menina, como você enxerga a criação deles hoje?
Com a ajuda de muita gente, com as tendências da sociedade e lendo sobre muitos assuntos e temas que acho relevantes na criação dos filhos, eu entendo que o meu maior desafio hoje é transformar a educação que eles têm em relação a minha. Eu fui criado num mundo para ser machista, e nessa sociedade patriarcal que nós vivemos, eu sempre olhei com muito protagonismo para a figura masculina. E hoje, levando em conta tudo que a gente vê na sociedade, esses movimentos de transformação, eu acredito que muito daquilo que eu vi e que se transformou em hábito, em decisões automáticas, o meu desafio é olhar para os dois e dar condições de educação mais igualitárias.
Para o Lui, por exemplo, é dar o melhor tipo de educação para que ele saiba tratar muito bem uma mulher com todo respeito que ela merece nessa sociedade, não achando que o homem tem privilégio, apesar de ainda vivermos numa sociedade patriarcal. E para minha filha, é dando empoderamento e um senso de pertencimento para que ela entenda que pode ser protagonista e dona das escolhas que quiser ter na vida, sejam elas de ordem sexual, profissional… Esse é o grande desafio de um pai conectado com os tempos atuais.
Quais os desafios como pai deles atualmente?
Agora eles estão na iminência de entrar na adolescência. A Mel está com 11 anos, então eu até vou procurar uma orientação para tentar aproximar a minha comunicação com ela sobre alguns temas que acredito serem muito relevantes, como por exemplo, a educação sexual. Eu acho importante, porque tenho uma experiência muito grande que eu posso, como homem, compartilhar e dar minha perspectiva para ela e tentar encontrar esse canal de aproximação. O próximo desafio a curto prazo que eu vejo é ter essa abordagem e construir esse canal. Não existe fórmula pronta e essa correção de rota em casa é constante. E ela é feita num ambiente super acolhedor.
Aqui a gente fala que pai e mãe precisam ser felizes para criarem filhos felizes. Você faz coisas por você hoje?
Eu tenho passado por um momento de tanta agitação profissional, agenda super apertada, que hoje eu invisto em qualidade de vida. Hoje o que eu faço para me manter equilibrado é praticar atividade física de forma recorrente; tenho procurado estudar de uma forma mais profunda filosofia, mais especificamente o estoicismo; participei recentemente de um curso de aprofundamento de espiritualização; e eu tenho valorizado como nunca os momentos com os meus melhores amigos, e eu descobri que os meus melhores amigos são os meus dois filhos e a minha noiva.
E quais são os planos para agora?
Os meus planos a partir de agora são sempre viajar. Eu tenho tentado viajar o máximo possível com os meus filhos e com a minha noiva, porque eu acredito que é uma maneira de você colocar qualidade de vida, novidade e quebrar rotinas. Esse é meu projeto de vida: viver na estrada.
O que você espera deixar para os seus filhos?
Eu queria muito que os meus filhos entendessem que nada na vida cai do céu e é tão simples quanto o mundo se apresenta hoje. A minha maior luta, e acho que estou conseguindo plantar isso na cabecinha deles, é explicar, por meio da minha trajetória, de alguém do interior de São Paulo que começou a trabalhar com 14 anos, que eu sempre tive que correr atrás dos meus sonhos, trabalhando e estudando ao mesmo tempo.
Eu passei por muita adversidade para alcançar algum espaço na minha profissão. E essas adversidades me fortaleceram e me transformaram na pessoa que eu sou hoje, cheio de defeitos e que está sempre em busca de melhoras. Mas é exatamente isso que eu gostaria de deixar pra eles: um ensinamento de que tudo necessariamente depende do seu esforço, da sua disciplina e da sua força de vontade, e que isso é uma recorrência na vida.
O meu objetivo principal não é deixar patrimônio, bens, dinheiro, mas formar pessoas conscientes para ajudar na transformação desse mundo hoje. O meu objetivo é fazer com que eles sejam muito melhores do que eu fui e sou, e acho que eles já são.
Família é tudo para você?
Família é tudo e mais um pouco. Tanto que eu, agora, com a formação de uma nova família, com meus filhos e minha noiva, encontrei o meu núcleo duro. Diante disso, eu tomei até uma decisão recentemente de reverter uma cirurgia de vasectomia pra gente agora construir do zero uma nova família. É um recomeço total de uma forma que eu não imaginava no passado, em dar irmãos para a Mel e o Lui.
