*por Rhaisa Gaz Trombini, filha de Edileyne e Geraldo
Uma brincadeira se espalhou pelas redes sociais e arrancou risadas dos internautas. Nela, os pais fingem que os filhos desaparecem depois de uma “mágica” e as crianças ficam desesperadas pensando que eles sumiram de verdade. Nos vídeos de crianças postados na internet, os responsáveis pela pegadinha fingem que os filhos ficaram invisíveis e os tratam como se fossem apenas vultos. O alívio cômico fica por conta dos parentes, que se divertem sozinhos com a reação, mas a criança passa por momentos de apuro nessa situação.
Mas por mais “engraçadas” que sejam as reações, essa brincadeira pode ter consequências psicológicas para quem é a vítima, ainda mais quando se trata de crianças. Especialistas alertam que esse tipo de brincadeira não é recomendada para crianças até 3 anos, pois ela ainda não assimila o que é estar escondido.
A psicóloga Ellen Moraes Senra, mãe de Rafael e especialista em terapia cognitivo-comportamental, afirmou que seu filhonão tem noção de que algo se esconde. “Para ele, se algo não está ali, aquilo não existe. Nessa idade, geralmente, a mãe pode colocar algo na frente do rosto e ficar brincando de ‘cadê a mamãe? Achou!’, pois dessa forma a criança ainda vê a mãe e começa a entender o significado de se esconder”.
Não é brincadeira
Feita dessa forma, essa brincadeira é prejudicial para a vida da criança e até mesmo para o futuro. A psicopedagoga Luciana Brites, fundadora do Instituto NeuroSaber e mãe de Helô, Gustavo e Maurício, explica que essa situação deixa um sentimento de abandono na cabeça da criança. “Ela pode ficar traumatizada, perder a confiança das pessoas que são mais importantes na vida dela: os pais. Deixar de ver a pessoa, o “não existir”, é muito significativo e traumatizante para a criança.” Segundo a psicopedagoga, essa tipo de situação pode deixar a criança com ansiedade, depressão, acarretar transtornos psiquiátricos de base, além de ser gatilho para a criança desenvolver pânico, fobias, situações em geral contraindicadas para o desenvolvimento de uma criança.
Prova disso é que, em muitos desses vídeos, as crianças choram desesperadas para que os pais as vejam e isso é um pedido de ajuda. “Uma coisa é você perceber que seu filho está chorando para fazer pirraça com você, outra é a criança chorar e você deixá-la chorando mesmo quando está precisando de ajuda. Isso gera uma sensação de desamparo, abandono, que tem impacto na vida toda.” afirma Ellen.
Consequências perigosas
As consequências são principalmente psicológicas e podem permanecer para sempre. “Pode não parecer, mas as sensações que experimentamos na nossa primeira infância têm impacto direto no nosso desenvolvimento psíquico durante o resto da vida” explicou Ellen. “A criança pode crescer com esse medo, não querendo ficar na escola, não querendo ficar horas longe da mãe e do pai porque acha que eles não vão voltar, além de poder tornar-se um adulto inseguro, achar que sempre precisa de alguém por perto apenas por ter experimentado essas sensações de abandono muito cedo”.
Outras brincadeiras como esconde-esconde e “cadê a mamãe” exercitam de forma lúdica e não traumatizante as sensações de estar separado da família. Elas também ajudam com o raciocínio, promovendo uma interação entre você e seu filho de forma saudável, realmente fazendo uma brincadeira para todos.
Ellen recomenda que, caso a reação da criança seja de desespero, você “interrompa a brincadeira na mesma hora, e acolha seu filho mostrando que ele não está desamparado, que aquilo era só uma brincadeira”.