Sabemos que decidir a gestação de um filho implica por em jogo o desejo de projetar-se para o futuro. Isso equivale à intenção de driblar o destino inexorável de todo humano: a morte.
E quando esse filho morre? Simplesmente acontece uma fratura do futuro e a nossa morte fica iminente. Todos somos finitos.
A morte de um filho não tem uma palavra que a nomeie. É inominável, não tem explicação e não tem naturalidade, posto que o natural é os filhos enterrarem seus pais. O oposto é algo por demais perverso.
Também não existem palavras a serem ditas para os pais, os irmãos etc.; os clichês não servem: “seja forte”, eu me pergunto onde se compra a força?, até “esse brutal tsunami”. Outro clichê: “Deus assim o quis”, eu penso “por que com meu filho e com a gente?”
Poderia repetir muitos outros desejos ditos para acalmar o desespero nessa ocasião. Sei do que estou falando, há três anos meu querido Thiago morreu dormindo, o que resulta algo mais incompreensível e paradoxal que perder o filho numa guerra ou numa epidemia. Tão paradoxal como perder um filho numa noitada de música e diversão.
Li em alguns jornais o grito de muitos pais exigindo justiça. A morte de nossos filhos não tem nada de justo ou justificável. Claro que os responsáveis devem ser punidos, mas a dor da perda e, logo, a melancolia da falta, nenhuma punição nem dinheiro as diminui.
Dr. Leonardo Posternak é presidente do Instituto da Família e autor de E Agora, O que Fazer? – A Difícil Arte de Criar os Filhos (Ed. Ágora), O Direito à Verdade – Cartas para uma Criança (Ed. Globo) e Livro dos Avós – Na Casa dos Avós é Sempre Domingo? (Primavera Editorial)