Tudo começa com o risco a mais no exame de farmácia, com a palavra “positivo” escrita no laudo médico ou com a chegada do filho que foi gestado no coração. Depois, o corpo e a alma começam a mudar. Segundo a definição formal do dicionário, mãe é a mulher que deu à luz um ou mais filhos e os cria; pessoa generosa e bondosa que dispensa cuidados maternais, que protege muito os outros. Mas a gente acredita que ser mãe vai muito além disso. A maternidade faz você ensinar a amar e ser amada. É no toque, no cuidado e na troca de olhares diários que a gente se torna mãe.
“Sentir-se mãe não cai do céu, faz parte de um processo de aprendizado, descobertas e mudanças que percorrem anos de uma vida inteira. É um trajeto difícil, mas que pode ser de alegria, conquistas, valorização de si, ao ir sendo capaz de percorrê-lo”, explica Silvia Lobo, mãe de Adriana, Suzana e Mauricio, psicóloga, psicanalista e autora do livro “Mães Que Fazem Mal”. Segundo a especialista, ser mãe é uma ampliação da própria existência, com generosidade e esperança. É o verdadeiro prazer em ajudar a constituir um outro ser que ocupe seu lugar no mundo. Ser mãe é um turbilhão de sentimentos (e hormônios!) que a gente acha que depois que a criança nasce, passam e fica tudo bem. E até fica, mas é apenas o início de uma jornada que, com o tempo, te ensina a ser cada vez melhor e a amar sem limites.
Ser mãe solteira
Em alguns casos elas não escolhem, mas acontece. E apesar da maternidade não ter nada a ver com estado civil, esse termo ainda é o mais usado para definir mulheres que criam seus filhos fora de algum relacionamento ou casamento. Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 10 anos o número de famílias compostas por mães solteiras subiu mais de um milhão. Ou seja, das mais de 71 milhões de famílias no Brasil, 42% são chefiadas por mulheres – a maioria, solteira.
A sociedade cobra as mulheres para que encontrem o príncipe encantado e realizem a fantasia da maternidade. Por isso, seja por opção ou pela falta de um parceiro ou parceira, ser mãe solteira é sair do lugar-comum. “Pensar que uma mulher possa dispensar totalmente a presença física de um pai, quer seja na hora da criação ou mesmo da concepção, é revolucionário, assustador e tão novo que ainda não sabemos nem como catalogar essa realidade. Mas ela existe”, explica o psicanalista Mário Corso, pai de Laura e Júlia, coautor do livro A Psicanálise na Terra do Nunca.
Ser mãe solteira é muito mais do que não ter um parceiro. É preciso ser corajosa para negociar entre sua condição atual e a pressão social por criar filhos dentro de uma família nuclear padrão. Mas é possível, sim, ser feliz, solteira, grávida e mãe. Afinal, estar em um relacionamento afetivo não é sinônimo de ter apoio. Apesar do sentimento constante de solidão, lembre-se que uma mãe solteira não está sozinha – existe uma verdadeira rede de apoio, seja formada por família, amigos e pessoas que te amam.
Ser mãe dói
Essa é uma das primeiras dúvidas que surgem na cabeça de uma mulher ao descobrir a gestação. E vamos jogar a real: ser mãe dói, sim. O corpo dói ao passar pelas transformações da gravidez junto com os hormônios em ebulição até chegar ao ápice do momento do parto, seja ele normal ou cesárea. Amamentar também dói, mas não poder amamentar dói mais ainda. Dói ver a dor do filho mesmo com todos os seus cuidados para que ele não fique doente. Dói não poder fazer o que você fazia antes de se tornar mãe.
Mas muito além da dor física, existe o medo de não atingir aquilo que foi planejado, se frustrar e sentir a famosa (e temida) culpa. Por isso, a gente sempre bate na tecla de que, quando o assunto é maternidade, não existe o jeito certo, mas sim o seu jeito. Afinal, ninguém no mundo conhece seu filho melhor que você.
E lembre-se sempre de não deixar a culpa tomar conta do seu dia a dia. “Ao lado do cuidado com seus filhos, as mães devem lembrar que vieram antes e têm suas próprias necessidade e desejos. Que mães possam respeitar-se na necessidade de solidão, de silêncio, de exposição e de convívio, que possam explicitar o que querem e terem voz para não desaparecerem como as pessoas que são por terem se tornado mães”, defende Silvia.
Ser mãe sozinha (ou solo)
Quando a vontade de ter um filho fala mais alto e a mulher resolve encarar o desafio sozinha, na cara e na coragem, chamamos de mãe solo. Seja por meio de produção independente, geralmente com fertilização, ou por meio de adoção, cada vez mais mulheres têm tomado essa decisão. E os números provam: a importação de sêmen para o tratamento de reprodução assistida bateu recordes no último ano e aumentou 97% em relação ao período anterior. Os dados são de um relatório divulgado pela Anvisa no final de 2018 e mostram que as mulheres solteiras representam 38% da procura pelo procedimento. “Como se adaptou à realidade da própria vida, essa mulher toma as rédeas do seu destino e realiza seus sonhos com as ferramentas que estão ao seu alcance, como a inseminação artificial”, explica o ginecologista e obstetra Eduardo Motta, pai de Daniella e Camila, diretor do Huntington Centro de Medicina Reprodutiva.
Ter uma rede de apoio ao se tornar mãe solo também é essencial. “A sociedade é muito preconceituosa por você não ter achado um parceiro, o pai do seu filho. Poder contar com a família é muito importante”, afirma o especialista. Além da coragem e vontade de ter um filho, é preciso também fugir da romantização da maternidade. “Por mais que a mãe o deseje, por mais que um filho possa encher a vida com leveza e por mais que se olhe essa experiência com poesia, não é nada fácil criar filhos sozinha. O desafio é gigante e muitas vezes assustador. Exige uma rede de amigos generosos, pessoas de boa vontade que possam ajudar”, defende Silvia. E aquela velha história de que uma mãe solo precisa cumprir o “papel de pai e mãe” ao mesmo tempo já caiu por terra. “Não há possibilidade de cumprir o propósito de ser “pai e mãe”, como se diz às vezes. A melhor maneira de criar uma criança é ser o mais verdadeiro no que se proíbe e no que se autoriza. Não se desempenha papéis como mães e pais, mas se entrega o que se é como pessoa”, completa Silvia. Afinal, mãe é mãe – não importa se tem um parceiro ao seu lado ou não.
Ser mãe cansa
A tentativa de se tornar uma mãe perfeita começa antes mesmo da gravidez. Com certeza você idealizou como tudo seria quando chegasse a sua vez – e se desesperou ao perceber que nada seria da forma que você aprendeu ou pensava até então. E neste momento, além da pressão natural que chega com a maternidade, surgem os palpiteiros de plantão. Em meio às dúvidas e ansiedades, é normal sentir culpa e cansaço.
Esses são sentimentos que parecem ter uma carga negativa, mas são compartilhados por todas as mães – até mesmo aquela blogueira que você se inspira e aparenta ter uma vida perfeita e realizada. “Ser mãe não é nada fácil. Causa dores e cansaço. Não nos alertam que se é mãe até o final da vida, existe um cuidado e preocupação perene. O crescimento dos filhos não encerra a maternidade, apenas, no melhor dos casos, muda o foco dos cuidados, pois atenta-se para o casamento, o trabalho, as conquistas e decepções”, explica Silvia.
Ser mãe não é bom o tempo todo. Você erra, cansa, se frustra, tenta de novo, aprende com cada fase do seu filho – e está tudo bem com isso! “Esses sentimentos não atrapalham a vivência da maternidade, mas a constituem, na alegria e na tristeza, no encantamento que provoca e no arrependimento de ter assumido desafio tão longo e absorvente”, completa a especialista.
Ser mãe de dois
Ter mais de um filho é a verdadeira prova de que o amor não se divide, mas multiplica. E junto com o carinho e afeto, também dobram as preocupações, anseios e medos. “Como fazer para que meus dois filhos se sintam amados igualmente?”. A conclusão é que uma mesma mãe pode e deve ser distinta para cada um deles.
“Os filhos são diferentes, a mãe é diferente para cada um. Não significa fazer mais para um do que para o outro, apenas respeitar a individualidade deles. Se num certo dia um filho tem mais sede, ele receberá mais suco que os demais. Mas não por isso é o mais amado”, explica a psicóloga Lidia Aratangy, mãe de Cláudia, Silvia, Ucha e Sérgio, que acredita ainda ser importante deixar de lado a culpa para conseguir identificar na criança qual sua necessidade, e prover de acordo com ela.
“Não dá pra ter qualidade sem quantidade. É preciso de tempo pra saber dos gostos do seu filho. Tempo individual para cada um e tempo juntos, assim aprendemos a tratar cada um do seu jeito, sem culpa. A maternidade ensina”, conclui Lidia, que sabiamente se recusa a deixar os copos das filhas idênticos, porque sabe que a sede delas nunca é igual.
Ser mãe de casal
Criar um menino e uma menina é viver em mundos diferentes. Assim como tudo na maternidade, ter um casal é um processo de aprendizado e descobertas. Cada filho é único e não se resume apenas ao sexo e gênero. “As diferenças que podem existir em ser mãe de menino ou menina dependem muito mais da mãe”, defende Silvia. É claro que cada filho tem suas particularidades, diferenças genéticas e fisiológicas desde o nascimento. Mas a criação de menina ou menino se baseia no mesmo amor, broncas, respeito, cuidado, atenção e amor.