O casal Jarbas Mielke da Bitencourt, gestor de vendas, de 48 anos, e Mikael Mielke de Bitencourt, fotógrafo, de 35 anos, são os primeiros a ter uma bebê com a genética dos dois pais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e no Paraná. Eles residem na cidade de Imbé, litoral norte do estado, a 100 km da capital gaúcha, Porto Alegre, RS.
Antonella nasceu no dia 17 de maio, também Dia Internacional da Luta contra Homofobia, um dia de muito significado para os pais. A menina foi gerada através da fertilização in vitro, e foram usados o sêmen de Jarbas e um óvulo da irmã de Mikael, Marrie. Além disso, Jéssica Konig, amiga do casal, se ofereceu para gestar a criança como “barriga solidária”.

“Nós tivemos um processo de muita angústia. Muita ansiedade e muito medo, porque o processo de fertilização in vitro por um casal homoafetivo, principalmente quando a barriga solidária não é parente dos pais, ele tem umas etapas diferentes. Como, por exemplo, a autorização no Conselho Regional de Medicina para nós fazermos a fertilização”, relata Jarbas.
Antes do nascimento de Antonella
De 2005 a 2010, Jarbas foi proprietário de um bar na cidade de Imbé, onde ambos residem. Mikael era funcionário do bar e os dois se apaixonaram. Após 3 anos de união, o casal sentiu a necessidade de serem pais e procuraram uma moça de uma cidade vizinha, que, segundo eles, não teria condições de manter o filho.
O casal tinha esperança de criar esse bebê e aumentar a família, mas o desejo deles acabou não acontecendo. Mikael e Jarbas entraram em um período de luto de 90 dias após o acontecido. “Meu esposo Mikael entrou em depressão, abandonou seu trabalho, ficando sem totais condições psíquicas de lidar com todo o cenário apresentado e eu fiquei sobrecarregado por demais tendo que segurar as pontas , além de lidar com a minha própria frustação e tristeza com o acontecido”, conta Jarbas emocionado.

“Depois da tempestade vem a bonança”
Após todo o processo dolorido de superação não ter conseguido o filho por meio da adoção, os pais conheceram o processo de fertilização in vitro. Para isso, eles iriam precisar de uma barriga solidária e de um doador de óvulos.
“Então, mediante a todo o sofrimento que vínhamos vivendo , nossa comadre Jéssica (comadre porque somos padrinhos de batismo de um dos seus filhos) nos procurou e se colocou à disposição para participar desse processo de fertilização emprestando seu útero pra gerar nosso filho, sendo a nossa barriga solidária”, diz o gestor de vendas.

“Começamos então a busca de uma doadora dos óvulos, eis que minha cunhada, irmã do meu esposo, a Marrie Bortolanza se ofereceu para tal doação. Novamente vivemos uma grande carga de emoção e alegria, pois começa aqui a realização de um sonho, a patenidade”, conta Jarbas.
Assim, o sonho se deu inicío e partir do semên de Jarbas e o óvulos da irmã de Mikael, o casal se tornou o primeiros a ter uma bebê com a genética dos dois pais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e no Paraná.
Nascimento de Antonella
Jéssica conseguiu engravidar na primeira inseminação de óvulos. A filha de Jarbas e Mikael teria seu nascimento previsto em meio às grandes enchentes do Rio Grande do Sul.
Devido à distância da cidade onde moram e Porto Alegre, onde ficava o hospital que iria ocorrer o nascimento, a médica do casal resolveu que a melhor opção seria induzir o parto em uma data marcada.

“Ninguém imaginava que nós íamos passar por essa situação e o nosso hospital não estava em uma região atingida pela enchente. Ele ficava em cima de uma encosta de um morro, então lá não tinha perigo algum, mas o nosso maior medo era a Jéssica entrar em trabalho de parto e a gente ganhar bebê na estrada. E aí nós teríamos um problema muito grande porque o tempo que estava levando até Porto Alegre estava muito alto”, explica Mikael.
Assim, no dia 17 de maio, a indução do parto de Antonella foi iniciada e Jéssica deu à luz a filha dos seus amigos. “Na sexta dia 17/5, iniciamos a indução de parto exatamente as 07:30hs, foi um processo lento e de bastante apreensão, mas em todas suas etapas tirando as dores, gritos, choros, tensões e ansiedades a Antonella veio ao mundo exatamente as 20:06hs, extremamente saudável, linda e abençoada.”, conta Jarbas sobre o momento emocionante.
O nome da menina veio para homenagear a filha de Jéssica, barriga solidária do casal, que se chama Antônia. Ela é afilhada do casal e tem uma relação muito forte com ambos.
A vida em família
“Está sendo tudo muito lindo para nós, pois estamos vivendo cada momento dessa paternidade. A Antonella é uma bebê muito tranquila, quase não chora , aqui em casa está sendo uma alegria só. Eu chega do trabalho já vou direto pros braços da filhota”, comenta Jarbas sobre o dia a dia com a filha.
Mikael é autônomo e acaba conseguindo passar o dia com a filha, enquanto Jarbas consegue ajudá-lo mais a noite. “A gente tem um acordo assim, e tivermos algum perrengue com ela, nós vamos tentar lidar com isso, sabe? Porque nós somos os pais nós decidimos ter a nossa filha, então nós temos que saber das consequências que a gente tem pela frente”, diz Mikael.

Os dois atualmente querem contar sua história para cada vez mais pessoas, atráves do Instagram @2paisdaAntonella. “Não tinha como a gente se calar e não levar essa história adiante, então decidimos abrir a nossa vida. Decidimos abrir a porta da nossa casa, mostrar o nosso dia a dia. Então tá sendo muito legal.”, finaliza Mikael.