Você já ouviu falar em relacionamento abusivo? Apesar do nome, muitas vezes ele não significa apenas o sofrimento da violência física, podendo ser também a psicológica, financeira, sexual ou moral. Quando acontecem de formas mais sutis, podem passar despercebidos, ou ainda apresentar certa dificuldade em identificar o problema. Mas, vale lembrar que o assunto é sério e não pode ser deixado de lado.
Geralmente, muitas mulheres, que são 3 em cada 5 vítimas de relacionamentos abusivos, segundo o ONG Artemis, acabam sofrendo caladas, podendo nem perceber que vivem nessa situação. “Inicialmente, o namoro tem um tom apaixonado e vai se tornando abusivo. Por isso, às vezes, apresentamos alguns preconceitos sobre como a pessoa não percebeu essa situação desde o começo. No entanto, apesar do abusador revelar alguns comportamentos com o passar dos dias, o que vai torna-lo tóxico é a constância dessas ações”, explica a psicóloga Daniela Faertes, especialista em terapia cognitiva e mudança de comportamentos prejudiciais.
O que é um relacionamento abusivo?
O relacionamento abusivo pode ser definido como a junção de violências, sejam elas físicas, psicológicas, morais, sexuais, entre outras. No entanto, é possível notar ainda com constância a presença da manipulação ou controle, seja ela no uso de roupas, redes sociais, ciúme excessivo, amizades ou ainda a vitimização. Apesar de acontecerem muitas vezes de maneira velada, pode-se notar a privação dessas atividades pelo agressor.
Segundo a psicóloga, quando falamos em relacionamento abusivo, é importante lembrar sobre a importância de diferenciar de uma discussão comum, por exemplo, que pode não caracterizar essa situação. “Num relacionamento abusivo há uma constância dos comportamentos e tentativas de controle e manipulação”, ressalta.
O que é um relacionamento tóxico?
A constância do desejo de controlar o parceiro ou parceira, que geralmente acontece de forma velada, e que causa sofrimento e dor, é considerado um relacionamento tóxico. No entanto, a definição se dá ainda pela constância desses comportamentos, de acordo com a psicóloga. O relacionamento tóxico pode ser notado também em relacionamentos amorosos, de amizade ou ainda familiares.
O relacionamento abusivo também pode causar impactos nos filhos
Segundo a especialista, existe sim um impacto na criança quando ela está no meio da relação. Pode surgir a necessidade de tentar defender a vítima, mesmo sem saber como, ou muitas vezes, ouvir ou desabafos sem conseguir sair da situação. “Quando há uma percepção da criança a respeito do abuso, ela acaba ficando com sentimentos intensos de insegurança, raiva e medo, que normalmente não conseguem ser ditos e acabam sendo manifestados em comportamentos impulsivos, de isolamento, na escola ou com outras pessoas”, comenta.
Sinais de um relacionamento abusivo
Ciúme excessivo: pode ser uma justificativa para o controle agressor-vítima. Quando a situação passa dos limites, as agressões, invasão de privacidade, ou ainda ofensas podem se tornar cada vez mais frequentes, tendo como argumento o medo de perder alguém que ama.
Afastamento de amizades ou outras pessoas: geralmente, o agressor pode dizer que não gosta de uma pessoa em específico, ou ainda justificar que ela a trata mal. Para “resolver o problema”, ele pode pedir para que a companheira ou companheiro se afaste daquele relacionamento.
Destruição da autoestima: o agressor cria na vítima o medo de que outra pessoa não irá mais amá-la caso a relação termine. Essa alteração de comportamento pode começar com crítica, sejam de aparência ou personalidade, que começam a acontecer com cada vez mais frequência.
Filhos podem ser usados como chantagem: se o casal possui filhos, o agressor pode usar a criança como uma ferramenta para que a separação não aconteça. “Muitas vezes, a criança é um dos mecanismos que o pai utiliza para fazer essa manipulação, dizendo que caso se separe ficará longe da criança, ou vai ter uma guarda compartilhada em que vai ter menos cuidado”, explica Daniela.
Obrigar que relações sexuais aconteçam: quando o sexo é forçado, mesmo que dentro de um relacionamento, é considerado estupro. Apesar de muitas vezes não ser algo explícito, o agressor não respeita as vontades da vítima e pode fazer ameaças sobre a relação.
Esconder objetos: também como uma forma de controle, o agressor enxerga a situação como uma maneira de proteção. Além disso, podem acontecer também o roubo de itens, documentos e objetos pessoais.
Controle: pedir constantemente para que a vítima mude a maquiagem, troque a roupa por estar “muito curta”, ou ainda dizer que não quer que a pessoa converse com um amigo ou familiar, por exemplo, pode ser também um sinal de relacionamento abusivo, pois envolve a manipulação.
Controle financeiro: geralmente, as principais decisões de como o dinheiro será guardado, ou gasto, vem do agressor. Dessa maneira, a vítima não tem acesso a esse controle e, muitas vezes nem sabe o que está acontecendo.
Outros sinais: o agressor também pode ignorar a vítima, como uma maneira de causar instabilidade, flertar com outras pessoas como forma de causar ciúmes, colocar constantemente a vítima para baixo, ameaçar de terminar o relacionamento caso algo não seja feito, comportamento de dominação e controle, culpar por tudo o que aconteça, seja uma causa grande ou pequena, ligar o tempo todo ou mandar mensagens perguntando onde está e com quem está, agressão verbal, moral, psicológica ou física.
Como sair de um relacionamento abusivo
Apesar de não ser fácil, a psicóloga explica que é possível mudar esse cenário. “A primeira coisa que a vítima precisa receber é apoio a partir de uma rede de ajuda, obter informações sobre a situação, entender o que está acontecendo, e principalmente, entender qual é o tipo de dependência que faz com que a pessoa não consiga sair daquele tipo de relacionamento”, comenta. “Se for a dependência emocional, é preciso trabalhar questões mais intrínsecas. Se forem questões financeiras, temos que trabalhar com situações mais práticas e ver qual é a principal dependência”.
Muitas vezes, as causas das dependências podem ser várias e estarem ainda interligadas. “As vezes a pessoa se acha incapaz de viver sozinha, ou de criar um filho sem a presença de um cônjuge com aquela constância, mas é fundamental compreender a vítima e entender o que causa a dependência do relacionamento”. Para denunciar qualquer tipo de abuso e ter informações, ligue para o 180.
Como ajudar alguém a sair de um relacionamento tóxico?
Para ajudar alguém que está passando por essa situação, é superimportante ser paciente e nunca culpar a vítima. Além disso, você pode sugerir que ela ou ele converse com pessoas que já passaram por essa situação para entender melhor sobre o problema.
Outro ponto muito importante, é mostrar que você sempre estará por perto para o que a vítima precisar. Com bom senso, você também pode contar para alguns amigos e familiares próximos da pessoa dependendo da gravidade do relacionamento tóxico.