Francesca Bussey, de 42 anos, cresceu como uma criança ouvinte, filha de pais surdos, e teve que assumir muitas responsabilidades desde cedo. No entanto, descobrir que seu pai estava morrendo foi difícil, porque ela sabia que teria que dar a triste notícia ao pai.
O pai de Francesca foi internado no hospital em 2019, e ela largou tudo para se dedicar a traduzir todas as atualizações médicas sobre o quadro clínico na língua de sinais para ele.
A tradutora pediu repetidamente às enfermeiras para ter um intérprete, mas ele recebeu apenas duas horas de assistência de um intérprete na Língua de Sinais Britânica (BSL, na sigla em inglês).
“Àquela altura, ele mal conseguia enxergar. Colocaram uma placa atrás da cama dele — com a foto de uma orelha riscada com uma cruz —, as pessoas apareciam lá e gritavam com ele. E ele ficava assustado e confuso, não sabia o que estava acontecendo. Já fiz muitas coisas difíceis na vida. Mas esta foi a mais difícil”, contou Francesca a BBC.
Assim como dezenas de milhares de outras pessoas que costumam emprestar seus ouvidos e competência na língua de sinais aos pais surdos para ajudá-los a sobreviver em um mundo feito para quem ouve, Francesca interpretou a notícia para o pai naquele dia. “Não havia mais tempo. Me foi dito. E eu interpretei (para a linguagem de sinais)”, lamentou.
Convivência silenciosa
Francesca cresceu como uma criança ouvinte filha de pais surdos, na década de 1980 — uma época anterior aos telefones celulares e às mensagens de texto — e começou a usar a linguagem de sinais com apenas sete meses de idade. “Minha primeira língua é a Língua de Sinais Britânica (BSL). É uma grande parte de mim”, exclamou.
A responsabilidade ao longo da vida de Francesca de servir de intérprete dos pais também a moldou. Ela tem uma carreira de sucesso na área de legendagem em uma emissora britânica de TV e se descreve uma pessoa muito boa em “ser adulta” e nunca se atrasar para nada.
Desde cedo, seus pais não tiveram escolha a não ser confiar nela para realizar tarefas importantes como lidar com o banco e fazer ligações em nome dos pais. “Eles sempre foram muito conscientes em termos de não quererem me sobrecarregar. Mas era mais fácil para eu fazer. Eu me sentia muito adulta, era diferente e importante, apesar de estar de plantão o tempo todo”, afirma.