A jornalista Celia Almudena já tinha dois meninos pré-adolescentes e achava que, próxima da menopausa, as chances de engravidar eram mínimas. Até que, junto com o atraso menstrual começou a notar sinais claros de que estava errada: os seios começaram a inchar como quando esperava o meninos. “Imagine, agora que os meninos começavam a ficar mais independentes, já abriam a geladeira e se alimentavam sozinhos eu ia voltar pras fraldas e mamadeiras! Fiquei em choque. Levei uma semana para contar minha suspeita ao meu marido”, conta. Ela levou a gravidez com traquilidade, sonhou em repetir o parto normal das duas primeiras vezes, mas a pressão alta era um risco que não pôde ser ignorado e ela cedeu à cesárea. De resto, achava tudo normal e só percebeu que estava tendo filho numa idade fora do padrão quando o médico pediu a amniocentese (exame que recolhe células do embrião por meio da introdução de uma agulha no útero, retirando líquido amniótico, e rastreia síndromes genéticas como a síndrome de Down, implicando num risco de aborto entre 0,5% e 1%). Confira a entrevista com ela:
Como você soube que estava grávida?
Na verdade, eu disse a ele que tinha ‘quase certeza’ de que estava grávida. Ele correu na farmácia, comprou um teste e nos trancamos no banheiro pra fazer. Os meninos ficaram do lado de fora, batendo na porta, desconfiados da movimentação estranha. Com o resultado positivo ele quis sair gritando pra todo mundo que finalmente ia ter a menina que tanto queria. Pedi pra ele esperar o resultado do teste de sangue, mas ele não se aguentou e saiu contando pros meninos que eles iam ganhar uma irmãzinha. Engraçado que desde o começo ele sabia que seria uma menina. Ele estava eufórico e muito feliz.
Você ficou preocupada? Com o quê?
Minhas maiores preocupações foram de ordem prática e econômica. Se já estava apertado criar dois, imagine três. Morávamos num apartamento de dois dormitórios. Como íamos colocar mais um naquele quarto? E se fosse mesmo uma menina? Confesso que em nenhum momento fiquei preocupada com minha saúde ou a do bebê. Sabia que tiraria de letra as mudanças no corpo, a fase dos inchaços, o aumento de peso. Só não gostei quando o médico sugeriu fazer cesárea. Os dois meninos nasceram de parto normal, e eu achava que tinha condições de fazer o mesmo com a Luiza. No final da gravidez, eu já vinha apresentando pressão aumentada o que deixou o médico preocupado e tentando me convencer a marcar uma cesárea. Insisti muito em esperar o máximo possível e as consultas passaram a ser duas vezes por semana. Até o dia em que ele disse que não dava mais para esperar, que o risco para o bebê estava ficando maior e, vencida, marquei a cesariana. Meu filho mais novo perguntou se podíamos esperar um pouco para a irmãzinha nascer no mesmo dia do mês que ele (os dois nasceram em dias 21, ele em janeiro, ela em julho). Dois dias depois, na hora marcada, fomos os quatro para a maternidade e eles ficaram junto comigo até a hora de ir à sala de parto. Naquele momento, quando já estavam me preparando comecei a ter contrações, mas não dava mais para voltar atrás e fazer o parto normal.
Que cuidados específicos você tomou durante a gravidez?
Particularmente, não tomei nenhum cuidado especial. Continuei com minha rotina pesada de trabalho, brincando direto com os meninos. Quem estava mais preocupado era mesmo meu obstetra. Me fez passar por um pré-natal muito mais rigoroso que das outras duas vezes. Quis me acompanhar muito mais de perto. Pedia ultrassons praticamente todos os meses. Minha ficha de que eu estava tendo um filho numa idade fora do padrão só caiu mesmo quando ele pediu a amniocentese.
Ficou com medo do risco de aborto?
Confesso que fiquei com bastante medo da amniocentese. Questionei o médico sobre a necessidade do exame e discuti com ele qual era a utilidade de passar por aquilo. Afinal, nada iria mudar se o exame apresentasse um resultado diferente. Enrolei o médico por mais um mês e só fiz o exame no limite.
Fiquei com medo de tudo, da agulhada, do risco e, depois, do resultado. Até então não pensava que pudesse haver algum problema, mas passei a matutar “e se…”. Quando saiu o resultado mostrando que o bebê não tinha problemas fiquei aliviada. Mas queria deixar claro que essa dúvida toda só surgiu quando o médico ponderou os riscos de ter um bebê com alguma deficiência genética na minha idade. Antes eu não via problema algum em ter um bebê aos 45 anos. Achava tudo normal.
Como é administrar a diferença de idade?
É bem legal ter filhos de idades tão diferentes. O Daniel está com 18 anos, o Caio tem 16, e a Luiza fará 7 agora em julho. A reação dos meninos passou por muitas fases: de revolta por ter mais um bebê em casa, de alegria, de responsabilidade, de medo de algo acontecer com a mãe… Acho que fizemos uma ótima integração. Levei os meninos a muitas consultas do pré-natal e eles nos acompanharam em todos os ultrassons. Nunca vou esquecer a carinha deles quando ouviram o coração da irmãzinha pela primeira vez no consultório (“Parece um cavalinho, mamãe”) ou quando conseguiram identificar um bebê na tela do ultrassom ou a raiva deles quando vimos que era uma menina (eles queriam outro moleque pra jogar futebol). Eles nos ajudaram a arrumar o quarto dela, ajudavam a escolher roupinhas, a decoração e tudo mais. Foram se sentindo cada vez mais responsáveis pela irmãzinha.
Hoje eles colaboram muito com os cuidados com a irmã, buscam na escola quando eu não chego a tempo, dão comida, cuidam dela quando eu peço, tentam ensiná-la a fazer coisas, como surfar e andar de skate, por exemplo, dão dicas nos jogos eletrônicos… Os três são bem companheiros, apesar de rolarem umas desavenças aqui e ali. Coisa normal entre irmãos.