Na última semana, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) solicitou ao Ministério da Saúde o fim da obrigatoriedade do teste da linguinha. Desde 2014, nenhum bebê sai do hospital ou maternidade sem ter feito o teste, de acordo com a lei nº 13.002/2014.
“A referida lei foi publicada sem consulta prévia às entidades envolvidas com esse aspecto da saúde da criança, sobretudo a Sociedade Brasileira de Pediatria. A entidade, por meio de seus Departamentos Científicos de Neonatologia, Otorrinolaringologia e Aleitamento Materno, já havia se manifestado contrária à lei e à obrigatoriedade da aplicação do protocolo para avaliação do frênulo lingual em recém-nascidos”, diz o texto da SBP.
O que é o teste da linguinha?
É um procedimento usado para a detectar a anquiloglossia, alteração no tecido que se estende da língua até a cavidade inferior da boca. O exame avalia se o freio da língua é curto, o que pode dificultar a pega na amamentação. Ter esse diagnóstico desde cedo ajudaria a prevenir problemas na amamentação, mastigação, deglutição e desenvolvimento da fala, como língua presa.
Existem outros sinais que os bebês dão quando apresentam o problema. “Há aqueles que mordem o bico do seio da mãe ao mamar, ou não conseguem colocar a língua para fora ou mesmo quando a colocam, ela tem um formato de coração”, explica a fonoaudióloga e especialista em linguagem Raquel Luzardo, mãe de Gabriel.
Possíveis alterações no frênulo levam os bebês a fazerem muito esforço na hora de mamar, gastando mais energia. E ainda existe o risco de machucar o mamilo da mãe. Segundo a especialista, algumas mães acreditam que o desmame precoce acontece porque o leite delas está fraco, quando na verdade o bebê não está conseguindo mamar corretamente. “Elas acabam introduzindo a mamadeira, além de relatarem ferimentos e muita dor nos mamilos. Por isso, o exame é tão importante”.
O teste é feito 48 horas após o nascimento da criança. “É simples, indolor e consiste em examinar com os dedos o movimento da língua e a posição do frênulo”, explica Raquel.
Por que ele é importante?
Neste domingo (21), o Conselho Regional de Fonoaudiologia da 7ª região se posicionou contra o pedido da Sociedade Brasileira de Pediatria. Segundo o órgão, a avaliação não é invasiva e permite que o bebê seja encaminhado para o tratamento com fonoaudiólogos, que são capacitados para recuperar as atividades de respiração, fala, sucção, mastigação e deglutição. Os profissionais também ressaltam que, assim como a maior parte de problemas relacionados à saúde, o diagnóstico precoce evita complicações e facilita o tratamento efetivo.
Por que a SBP é contra a obrigatoriedade do exame?
A SBP acredita que somente um médico pode dar o diagnóstico da anquiloglossia e dizer a melhor maneira para corrigir o problema. “O diagnóstico para esse transtorno pode ser feito apenas pelo médico, como prevê a lei que define o escopo de atuação da categoria (Lei nº 12.842/13). Da mesma forma, qualquer prescrição de tratamento ou mesmo intervenção que se faça necessária somente pode ser realizada por este profissional. Esse é um cuidado importante para com a saúde e o bem-estar de todos, em especial de crianças e adolescentes”, destaca o secretário-geral da SBP, dr Sidnei Ferreira.
Não é a primeira vez que a SBP pede a revogação da lei. “A Sociedade Brasileira de Pediatria já solicitou que essa lei seja revogada, devido à baixa frequência de anquiloglossia, ao reduzido risco envolvido, à ausência de dificuldades de diagnóstico de casos graves e acima de tudo, porque o exame da cavidade oral do recém-nascido e lactente já faz parte do exame físico realizado pelo pediatra, de forma simples e indolor, nas maternidades e nas consultas de puericultura”, diz o texto.
O documento da SBP conclui que um exame clínico bem realizado e uma observação completa de uma mamada podem ser suficientes para o diagnóstico de anquiloglossia, não sendo necessário um protocolo específico para a avaliação e, menos ainda, a necessidade de uma lei que obrigue sua realização.
“Todo e qualquer procedimento que tenha como meta intervir na dinâmica e no sucesso do aleitamento materno deve ter critérios muito bem embasados, estabelecidos e analisados criteriosamente por todos os setores profissionais envolvidos em questão”, conclui o documento.
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