Não está tudo certo. O trabalho em casa é uma correria, os filhos têm aula à distância, bate saudades da rede de apoio, algumas dúvidas sobre o futuro continuam sem respostas. A rotina mudou e não é um problema assumir que está sendo difícil, cada um com a sua realidade. De acordo com Dr. Pablo Vinicius, médico psiquiatra, neurocientista e pesquisador, filho de Sebastião e Mariazinha, esse retrato enfatiza a necessidade de investirmos na saúde mental: “Para que depois que tudo isso passar, continuemos nossas vidas saudavelmente”.
O especialista comenta que enquanto não se desenvolve vacina ou medicamentos eficientes, a principal forma de combate é o isolamento social. “Porém, ao mesmo tempo em que ele faz parte da solução, é fator de risco para o adoecimento emocional”, alerta. Antes de tudo, uma questão precisa ficar clara. Garantir a saúde mental não é fingir que nada está acontecendo e colocar um sorriso no rosto, muito pelo contrário. Trata-se de reconhecer e respeitar seus pensamentos e sentimentos frente à todas as mudanças e lidar com eles da melhor forma.
Transtornos, quem?
De acordo com uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), 89,2% dos especialistas entrevistados ressaltaram o agravamento de quadros psiquiátricos nos pacientes por conta do covid-19. O mesmo levantamento apontou que 47,9% dos consultados aumentaram a frequência de atendimento após o início da pandemia. Dr. Pablo esclarece que o primeiro sintoma desses transtornos é a alteração de comportamento: “Tanto adultos quanto crianças tornam-se mais irritadas, impacientes, entristecidas, sem ânimo para realizar as atividades habituais e sem prazer nas atividades que antes eram prazerosas”. Com o passar do tempo, aparecem outros como alterações de sono, apetite e produtividade.
O especialista explica que os perfis de transtornos mais comuns nesse período são os ansiosos, depressivos e a insônia. Veja o que ele diz sobre cada um deles:
Ansiedade patológica: “É caracterizada pela falta de capacidade de relaxamento na maior parte do dia. A pessoa passa a maior parte do tempo irritada, tensa e com preocupações excessivas. Muitas vezes o apetite aumenta, com o consequente ganho de peso. Nesse quadro patológico é muito comum ouvir as pessoas dizerem: ‘Dr, minha a cabeça não para’, principalmente na hora de dormir. Além disso, sintomas físicos são comuns como palpitações, sudorese, queda de cabelo e diarreia”.
Depressão: “É uma tristeza profunda, na maior parte do dia. A pessoa perde a capacidade de se alegrar diante das situações prazerosas. Os pensamentos ficam extremamente pessimistas, chegando a ideias de morte em casos mais graves. Desesperança, falta de energia e desmotivação são bastante comuns”.
Insônia: “É a dificuldade para iniciar ou manter o sono. Nas situações de muito estresse a qualidade do sono fica muito prejudicada. As queixas mais comuns são sono não reparador, sono superficial com múltiplos despertares, e dificuldade para ‘pegar no sono’”.
Não esconda, enfrente
O primeiro passo para garantir a saúde mental é justamente entender o que te motivou a estar assim. Alguns fatores como a pandemia, estão fora do seu alcance, mas outros podem ser repensados e alterados. Dr. Pablo Vinicius destaca a importância de manter a rotina mais próxima do “normal”, ou seja, seguir os horários de acordar, dormir, trabalhar estudar, fazer as atividades de lazer. Você é o principal exemplo para o seu filho e adotando essas medidas irá colaborar para que os demais em casa também adotem.
“As crianças sofrem mais com alterações da rotina, apresentando mais sintomas comportamentais, pois não apresentam ainda maturidade para lidar com mudanças abruptas e significativas em suas vidas”, acrescenta. Por isso, o foco agora deve ser investir o máximo em qualidade de vida. Alimentação equilibrada, exercícios físicos regulares, sono de qualidade são quesitos fundamentais para alcançar não apenas a saúde mental, mas física nesse período, segundo o médico.
Caso suspeite de algum transtorno emocional o especialista alerta: “Nunca tome um medicamento sem prescrição médica. Os psicotrópicos são medicamentos controlados exatamente pelo risco de desenvolverem dependência física e psicológica nas pessoas”. Procure sempre um profissional da área e siga as recomendações indicadas. É fato que esse momento do mundo nos convidou a parar e refletir.
“Aqui temos dois destinos para a humanidade. O caos ou a transformação. Se não fizermos nada, continuarmos acreditando que a competitividade é melhor que a cooperação, que a vaidade é melhor que a simplicidade, estaremos perdidos. Será um caos emocional. Nesse caso, a pandemia dos transtornos emocionais será muito maior que a pandemia do vírus, inclusive na letalidade. O segundo caminho é a transformação. Nesse grupo de pessoas, estão aqueles que vão sair mais fortes que entraram. Elas estão, neste momento de isolamento e intenso sofrimento, refletindo sobre a própria vida. Analisando o passado. Percebendo onde estavam errando. O que havia de excesso. O que estava faltando. À medida que percebem essas questões em suas vidas, elas começam um processo de transformação interna”, finaliza.
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