Apesar da internet ter um grande papel na comunicação e transmitir informações para um grande número de pessoas, é superimportante ter cuidado no respeito com o outro. Na última semana, após o Porta dos Fundos compartilhar um vídeo intitulado “Responsável”, em que Fábio Porchat aparece interpretando um homem durante uma reunião online e é interrompido pela mãe diversas vezes, o canal recebeu diversas críticas sobre ter praticado etarismo.
Apesar do nome complicado, que também pode ser conhecido como ageismo, significa uma atitude ou pensamento como forma de preconceito, discriminação ou estereótipo contra uma pessoa, ou grupo baseado na idade. Por ser uma forma tão comum de preconceito, as vezes acaba passando de maneira velada e despercebida, mas que precisa ser falado e desconstruído como todos os outros. O etarismo pode surgir como o pensamento de “você não deveria mais fazer isso por causa da sua idade”, ou “esse emprego não é mais para você”, ou, até mesmo, “você é velho/a demais para ela/e”.
Durante o diálogo no vídeo, o humorista interage com a mãe como se estivesse conversando com uma criança: “Toma o celular aqui, vai brincar com ele. Brinca aí com ele, bonitinho, que eu vou trabalhar aqui”. Em seguida, uma das colegas de reunião o questiona: “Supervisão pra quê? Uma mulher adulta, de 57 anos”. Por fim, ele rebate: “Exatamente, nessa idade que é muito perigoso largar o celular nas mãos deles. Você não sabe o que ela está acessando, pode estar recebendo fake news de um estranho”.
Em resposta ao vídeo do Porta dos Fundos, a escritora e publicitária Cris Guerra, mãe de Francisco, fez um IGTV no Instagram, atualmente com mais de 200 mil visualizações, para falar sobre o assunto. “Querido Fabio Porchat, eu adoro o seu trabalho e o do Porta dos Fundos. Você já me matou de rir diversas vezes, mas hoje eu estou aqui para falar de um episódio recente que a mim, incomodou bastante, e também incomodou outras pessoas maduras, mais velhas”, começou.
Envelhecer é amadurecer e criar experiências pessoais
No vídeo, Cris explica que a personagem foi descrita como uma fã de noticiários sensacionalistas, vítima de fake news e uma mulher de 57 anos. “Envelhecer não é para os fracos. Ainda mais num país em que a palavra soa como um crime. A pessoa faz aniversário e já vai tentando arrumar uma identidade falsa. Não dá para continuar incentivando esse preconceito“, pediu.
Sobre o amadurecimento, a publicitária citou sobre as experiências pessoais e compartilhou uma mensagem inspiradora sobre as mudanças: “Mas, mesmo com esse mundo caótico, eu vejo que amadurecer tem o seu lado bom, sim. Hoje, eu sei escolher melhor as batalhas que valem a pena, eu aprendi com o tempo e com a minha contadora a optar pelo simples, sou bem mais flexível hoje do que quando eu tinha 20/30 anos, tem um ano que eu assumi o cabelo grisalho e foi libertador. O tempo passa sim, para todo mundo, o tempo todo. E envelhecer, não significa não poder mais fazer as coisas, mas também não é a certeza de que eu posso tudo, aliás, eu nunca pude. Mas, eu te garanto, eu não troco os meus 50 pelos meus 20”.
“Nós estamos envelhecendo o tempo todo”
Em entrevista exclusiva à Pais&Filhos, Cris Guerra disse que a frase “a vida começa aos 40” tem um certo sentido, mas, para ela, começou aos 50. “Para mim, foi muito mais marcante os 50 do que 40, porque nos 40 eu não senti uma diferença muito grande, mas nos 50 eu senti. Eu assumi meus cabelos brancos, então o envelhecimento era externo, ele era comunicado aos outros”, lembrou.
Durante a conversa, ela disse ainda que ia sempre se escondendo e deixando o momento da confissão para depois, escondendo que, de fato, havia envelhecido. “Eu acho que eu, hoje, já penso assim, sim eu envelheci. Mas não existe uma marca, um momento em que você envelhece. Na verdade, a gente está envelhecendo o tempo todo. Mas, se a gente parar para pensar o que é envelhecer, no sentido do conceito, como que eu vejo, qual é o marco do envelhecer, o que é envelhecer do ponto de vista físico, eu diria isso”, explica.
Sobre o amadurecimento, Cris comenta que a palavra não é sinônimo de envelhecer: “Amadurecer é uma conquista. Envelhecer também é uma conquista, porque você precisa se cuidar para envelhecer, continuar vivo. Conquista é sorte, mas eu acho que quando você amadurece com o envelhecimento, que não necessariamente são duas coisas que estão juntas, eu acho que vem uma leveza. Você sabe distinguir o que é essencial na vida, você distinguir qual é a luta que vale a pena, que tipo de coisa tira ou não sua energia, porque você entende principalmente que o mundo não é a atitude do outro, que as suas atitudes embora não controlam nada, elas controlam o seu mundo. Ou seja, você, a sua maneira de reagir aos acontecimentos. É fundamental pro desfecho que você ter diante dos acontecimentos, a maneira que você vai encarar os acontecimentos e isso faz toda a diferença. Eu acho que o amadurecimento traz isso, é claro que isso não vem só com o tempo, vem também com os acontecimentos que o tempo traz, como uma perda, como fins de relacionamentos, mas é isso, a gente vai curtido pelo tempo, então tem um lado muito legal, porque a gente desdramatiza as coisas, as coisas não são mais tão dramáticas”.
Invertendo os papéis
A publicitária contou que o “etarismo tem a ver com você acreditar que o mais velho não é capaz, que ele tem que se recolher, tem a ver com você acreditar que ele é ridículo, que velho é um adjetivo ruim”.
Pensando no papel entre a convivência de pais e filhos, existe a dúvida sobre se existe o limite entre a inversão dos papéis, assim como acontece no vídeo do Porta dos Fundos, ou ainda não concordar com as opiniões de uma pessoa mais velha. “A discordância não é o etarismo. De uma certa forma, pode haver sim uma inversão de papéis, como se os pais se tornassem os filhos dos filhos. Mas eu acho que essa inversão não necessariamente acontece, existem mães e pais que continuam independentes dos filhos e isso depende de várias circunstâncias. Então, eu acho que o etarismo é você colocar o velho em um estigma”, explica.
Ser o exemplo vale ouro!
Seja na educação dos filhos ou abrindo o coração na internet, ser o exemplo é o primeiro passo para mostrar aquilo que você quer passar. “Quando eles virem o nosso exemplo fica mais fácil aprender com as nossas atitudes acima de tudo”, comenta Cris Guerra.
Nas redes sociais, a escritora e publicitária explica que é importante corrigir e falar sobre si própria, assim como ela fez no vídeo. Contudo, o segrego não é atacar o outro, mas sim “se comunicar de uma maneira carinhosa que faça a pessoa experimentar ou tentar se colocar no seu lugar”, conclui.