Às vésperas de completar quatro anos da morte de Paulo Gustavo, vítima da Covid-19, o médico Thales Bretas mergulha em uma jornada íntima de resgate, memória e amor. Viúvo do humorista e pai dos gêmeos Romeu e Gael, hoje com cinco anos, Thales revela como a saudade se transformou em ação por meio da exposição inédita “Rir, um ato de resistência”, aberta ao público no Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, a partir de 13 de abril.
Vivendo no mesmo apartamento em Ipanema onde compartilhou sua vida com Paulo, Thales enfrentou o luto cercado pelos objetos, roupas e lembranças do marido. A convivência diária com esses itens sempre foi emocionalmente desafiadora. No entanto, a insistência carinhosa da amiga Juliana Cintra foi decisiva para que esse acervo se tornasse uma mostra pública.
“Eu sempre tive vontade de mostrar aos fãs um pouco mais do Paulo, dos gostos pessoais”, explica Thales. O projeto ganhou forma com a curadoria conjunta de Juliana e Nicolas Martin Ferreira, resultando em uma experiência sensorial que convida o visitante a mergulhar na trajetória artística e pessoal de Paulo Gustavo.
O material partiu do lar que o casal construiu na Zona Sul do Rio de Janeiro em direção a Niterói, cidade onde o humorista nasceu. O destino foi o emblemático MAC, cuja arquitetura futurista contribui para a proposta da exposição: transportar o público para um universo onde o riso é resistência e memória viva.
“Eu espero que todo mundo se conecte com carinho à história desse homem genial, que deixou marcas na vida de tantas pessoas”, declara Thales. “Paulo passou por aqui como um meteoro, uma estrela, e foi brilhar em outro lugar.”
Composta por cinco espaços distintos, a exposição revela facetas pouco conhecidas do artista. Além de figurinos icônicos e vídeos raros, também estão expostas obras de arte que ele colecionava com entusiasmo. Na área externa do museu, uma escultura monumental de Amilcar de Castro, com 2,5 metros de altura, reforça o vínculo do humorista com o universo das artes plásticas. A peça foi trazida da casa de campo do casal em Petrópolis.
Ao longo do processo de curadoria, Thales encontrou uma maneira de ressignificar a dor da perda. “Acho que essa exposição também vai fazer eu me reconectar de forma mais saudável com as memórias”, compartilha. “Por muito tempo, tentei ser pragmático, tocar a vida e o trabalho recebendo o carinho e a saudade que as pessoas sentem do Paulo. Mas o meu amor, a minha saudade, eu tinha dificuldade de sentir e expressar.”
Pai solo desde 2021, Thales teve que aprender a lidar com a ausência do parceiro enquanto cuidava dos filhos ainda bebês. Hoje, amparado por Déa Lúcia e Juliana Amaral — mãe e irmã de Paulo Gustavo —, ele encontra forças em sua rede de apoio e em experiências que ultrapassam a realidade.
“Em sonhos e pensamentos, eu também peço ajuda ao Paulo. Criar filhos era um projeto em conjunto, né? Ele me diz que está tudo bem, que agora a decisão é minha. Tenho a sensação de que ele está satisfeito com a minha performance como pai solo.”
Entre as peças mais emocionantes da mostra, Thales destaca o traje de casamento usado por Paulo e o casaco cravejado de cristais, utilizado no espetáculo “Filho da Mãe”. Para ele, esses itens simbolizam não apenas momentos marcantes da carreira do artista, mas também da vida a dois e da construção da família.
“Esse espetáculo foi de realização pro Paulo. Ele pôde nutrir a mãe como artista e colocá-la nos palcos, mostrando ao Brasil a mulher que tinha retratado como personagem, com tanto sucesso. Ao mesmo tempo, estávamos ‘grávidos’, à espera dos meninos”, relembra com ternura.
A mostra “Rir, um ato de resistência” pretende não só celebrar o legado artístico de Paulo Gustavo, mas também reafirmar a importância do amor, da diversidade e da representatividade. Sua trajetória, repleta de conquistas, humor e coragem, continua inspirando famílias em todo o país.