Me conta: seu filho também nunca iria se atirar no chão do supermercado aos berros, muito menos botar a língua para todos os adultos na rua? Não usaria celular antes dos 3 anos e só comeria brócolis orgânico, certo? Nuggets, nem pensar, não é? Eu poderia arriscar que você também tinha tudo programado. Tudinho traçado nos mínimos detalhes sobre como seria sua paternidade. Já sabia o que faria e o que nunca se atreveria a cometer com o seu filho amado.

Ele seria tão perfeito quanto você. Gente! Que família sen-sa-cio-nal seríamos. Dia desses, li uma frase que anda bem famosinha na Internet: “Eu era uma mãe perfeita até ter filhos”. A gente dá risada porque se reconhece nela. Serve para homens e mulheres, porque a verdade é que assim que nascem nossos filhotes, perdemos todas as certezas que tínhamos. E quer saber? Nunca mais recuperamos. E quer saber ainda mais? Que ótimo largar de vez as verdades absolutas!
Claro, os manuais não contam como é bom não ter certeza sobre tudo. Aliás, ninguém nunca nos diz isso. Fomos criados para saber, para estarmos certos, para sermos assertivos e, principalmente, para ter resposta para tudo. E aí, nascem nossos filhos. E junto com a placenta, se vai tudo aquilo que pensávamos dominar. Vão-se os anéis, ficam os dedos. Ufa!
A paternidade pode ser definida de inúmeras formas, mas gosto muito de pensar que paternar é também construir novas verdades a partir da nossa experiência e da escuta dos nossos filhos. É entender as nuances de cada choro e a alegria de cada pequena conquista diária. É estar de ouvidos e olhos abertos para tudo, inclusive, para o que as dores ensinam. Isso tudo é ser pai e mãe.
Mas seguir nesta montanha-russa carregado de verdades absolutas só faz a gente não curtir a jornada. E, invariavelmente, dar com a cara na parede, com os burros n´água, ou como se diz: morder a própria língua, cuspir para cima. Às vezes, do nada mesmo me pego com saudades da época da gravidez. Talvez porque não fosse eu a carregar aquela tonelada toda na barriga, mas o que importa é que tenho muito boas memórias daquele período. Chamo de “o tempo das certezas”. Ficou para trás. Que bom. Hoje, prefiro ser feliz a ter razão.