Em maio de 2014 tive a felicidade de ser contratado para fotografar o Chile. Estive em Santiago, Ilha de Páscoa e no Deserto do Atacama.
A viagem foi tão especial que rendeu uma exposição fotográfica que ficou três meses em São Paulo.
Eu, que adoro sorvete, fui conhecer uma sorveteria famosa em Santiago, “Il Maestrale”, indicação do amigo e viajante profissional Marcelo Sampaio.
A sorveteria fica em um charmoso centro turístico. Fui dar uma olhada nas lojas e umas bonecas bem pequenas me chamaram a atenção. Uma simpática vendedora me explicou que as bonecas fazem parte de uma lenda chilena. Se você tem algum problema, basta colocá-las dentro da fronha do travesseiro que, ao acordar, os problemas terão sido resolvidos. Achei bacana e comprei pra Nina, minha filha de cinco anos.
Voltei pra casa com alguns presentes para a Lu e as crianças, mas as bonequinhas coloridas fizeram o maior sucesso.
Fiz uma sutil adaptação na lenda e contei pra Nina que as bonequinhas protegem o sono das crianças. “Quando você tem algum medo, é só dormir com elas por perto que o medo desaparece.”
Hoje, vivemos na era digital, uso bastante o aplicativo Instagram e gosto desse intercâmbio de fotos. É fascinante acordar e ver que uma pessoa no Japão deu um “like” na sua foto. Nesse movimento, amizades se formam.
Foi assim que eu conheci a Carol H., uma brasileira gente boa radicada no Chile.
Nessa viagem que acabei de contar, nós quase nos encontramos, mas eu estava num ritmo acelerado com as fotos e infelizmente não conseguimos nos ver.
Ok, vamos voltar às bonequinhas dorminhocas.
Há mais ou menos três semanas, cheguei em casa e ouvi a Nina chorando e dizendo pra mãe:
– Liga pro papai, tenho certeza que ele vai resolver. Buaaaaaaa!!!
Me aproximei pra saber como eu poderia ajudar.
-Pai, a Jô “que trabalha aqui em casa” lavou a fronha do meu travesseiro. Buaaaaaa! Eu esqueci de dizer que as bonequinhas estavam dentro e elas perderam o cabelo. Estão completamente carecas – e abriu a mão para me mostrar o seu drama.
Dei um abraço apertado nela e aproveitei a situação para ensinar algo.
– Você sabia que existe uma doença que se chama câncer? Um dos tratamentos dessa doença é a quimioterapia, ela faz as pessoas perderem todo o cabelo. O meu pai passou por isso, ficou careca, mas isso não faz as pessoas perderem seus poderes. Pode confiar nas suas bonecas que elas vão continuar protegendo o seu sono.
Ela se acalmou, sorriu e foi dormir com as bonecas.
No dia seguinte, usei o Whatsapp para acionar a Carol H., que eu sabia que viria passar o Natal e Reveillon aqui no Brasil. Expliquei o que aconteceu e pedi pra ela, por favor, tentar encontrar as tais bonecas. A minha ideia nunca foi aposentar as carequinhas e sim aumentar a família, além de fazer uma surpresa pra Nina. Afinal, quando ouvi “tenho certeza que o papai vai resolver” isso ficou na minha cabeça. Essa confiança foi muito linda.
A Carol comprou as bonecas, chegou no Brasil e como ela ia a Campinas antes de vir à São Paulo, foi ao Correio e nos enviou as bonecas pra chegar antes no Natal. Quanto carinho, quanta atenção! Uma amizade virtual mais leal que muitas amizades “reais”.
Bom, chegou a encomenda numa caixa de Sedex. Para: Ike Levy (Nina).
Abrimos e lá estavam 3 bonecas grandes com seus filhinhos no colo. Achei ótimo e disse pra Nina, que estava emocionada com o presente:
– Filha, essas protegem durante o dia e a noite. Veja só, as mamães estão de olhos abertos e os filhos de olhos fechados. Fizemos uma foto dela abraçada nas bonecas e enviamos para a Carol H., que além das bonecas, mandou duas cartas lindas. Uma pra mim e pra Lu e outra pra Nina, com o cuidado de mandar um beijinho pro Tony.
Carol, a nossa amizade não é mais virtual. Temos um enorme carinho por você, vamos nos encontrar em breve, mas isso virou apenas um detalhe.
Conte sempre comigo!
Um beijo do Ike