A amamentação é fundamental para garantir o desenvolvimento saudável do bebê, principalmente nos primeiros meses de vida. O leite materno fornece os nutrientes ideais, fortalece o sistema imunológico e promove o vínculo entre mãe e filho. No entanto, muitas mulheres enfrentam dificuldades nesse processo, o que pode levar ao desmame precoce. Entre os principais desafios estão a pega incorreta do bebê, dor, mamas ingurgitadas, lesões nos mamilos e o retorno antecipado ao trabalho.
Uma alternativa eficaz para enfrentar essas barreiras tem sido o uso de serviços de telelactação, ou seja, atendimentos por videoconferência com especialistas em aleitamento materno. Um estudo realizado nos Estados Unidos e publicado na revista científica Jama demonstrou que esse tipo de suporte pode aumentar as taxas de amamentação exclusiva até os seis meses de vida do bebê, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A pesquisa avaliou 1.911 mulheres em 39 estados norte-americanos, todas em sua primeira gestação e com intenção de amamentar. Elas foram divididas em dois grupos: um deles recebeu smartphones com acesso a consultores de lactação 24 horas por dia; o outro recebeu apenas um e-book sobre cuidados infantis. Ao longo de 24 semanas após o parto, foram monitorados os resultados.
O levantamento revelou que 46,9% das mulheres com acesso ao suporte virtual mantiveram a amamentação exclusiva, enquanto no grupo que não teve acesso ao serviço esse número foi de 44,1%. Quando a análise focou nas mulheres negras, os dados mostraram que 65,1% delas continuaram amamentando após seis meses com o suporte da telelactação, comparado a 57,4% no grupo sem acompanhamento. A diferença foi ainda mais evidente no aleitamento exclusivo: 42,7% com apoio virtual contra 33,9% entre as que não utilizaram o serviço.

Esses números reforçam o papel da telelactação como uma ferramenta importante para reduzir desigualdades raciais nas taxas de amamentação e promover maior equidade no acesso a informações e orientações qualificadas. O apoio oferecido por meio de videochamadas ajuda as mães a entenderem melhor a técnica da amamentação, corrigirem erros comuns e enfrentarem dificuldades que poderiam levá-las a interromper o processo precocemente.
Nos Estados Unidos, esse tipo de serviço existe há mais de uma década. Inclusive, em 2013, a Academia Americana de Pediatria lançou um guia específico para orientações sobre amamentação por telefone. O avanço da tecnologia tem permitido que essas orientações cheguem a mais mulheres, inclusive em regiões onde o acesso a profissionais especializados é mais difícil.
Apesar dos avanços, os dados do estudo ainda revelam que o número de mães que conseguem manter a amamentação exclusiva até os seis meses está abaixo do ideal. A realidade brasileira também reflete esse desafio. De acordo com o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), apenas 45,8% dos bebês com menos de seis meses recebem exclusivamente leite materno. A duração média da amamentação exclusiva no país é de apenas três meses, bem abaixo do recomendado pela OMS.
Fatores sociais, econômicos e estruturais têm impacto direto nesse cenário. Mulheres negras, por exemplo, enfrentam desafios históricos e sociais que dificultam o aleitamento: falta de orientação adequada no pré-natal e pós-parto, maior incidência de cesarianas, retorno precoce ao trabalho, menor incentivo institucional e a influência da indústria de fórmulas infantis. Além disso, o racismo estrutural na saúde contribui para que essas mulheres tenham menos acesso a informações de qualidade sobre amamentação.
No Brasil, o serviço de telelactação ainda não está amplamente disponível, principalmente na rede pública. Muitas mães não conseguem contar com o acompanhamento de profissionais qualificados após o parto. Em situações como essa, uma das alternativas é procurar orientação na maternidade onde o bebê nasceu ou buscar ajuda em bancos de leite humano. Esses locais oferecem suporte gratuito e podem ser localizados por meio do site da Rede Global de Bancos de Leite Humano.
Durante a pandemia de Covid-19, algumas instituições no Brasil começaram a oferecer atendimento virtual para mães que não podiam se deslocar até os hospitais. Nesses atendimentos, são utilizados materiais didáticos, como bonecos e modelos anatômicos, para ensinar técnicas de amamentação de forma prática, mesmo à distância. Essa iniciativa foi fundamental para garantir o suporte às mães em um momento em que o isolamento social era necessário.
Muitas mulheres acabam desmamando precocemente por não conseguirem sanar dúvidas básicas, o que demonstra a importância de abordar o tema ainda durante o pré-natal e garantir continuidade no pós-parto. Amamentar não é algo que acontece automaticamente. É um aprendizado que exige paciência, apoio e instrução correta. Por exemplo, se o bebê não realiza a pega adequada, pode não se alimentar corretamente, e isso reduz o estímulo da produção de leite, gerando frustração na mãe e prejudicando o processo.
Embora o atendimento virtual tenha se mostrado eficaz, há situações mais complexas que exigem avaliação presencial. Ainda assim, é possível combinar os dois formatos — virtual e presencial — para garantir que as mães tenham o suporte necessário, especialmente nas primeiras semanas de vida do bebê.