A taxa de problemas relacionados ao coração aumentou muito nos últimos anos. Entenda e saiba como se cuidar
Por Marianna Perri, filha de Rita e José
Cerca de 90% das mulheres que engravidam têm um período gestacional tranquilo, seguindo as recomendações médicas e tomando alguns cuidados básicos. Mas há outros 10% que precisam de mais atenção, e que correm mais riscos.
Uma pesquisa publicada no jornal da Associação Americana do Coração apontou que as internações de mulheres com AVC (acidente vascular cerebral, também conhecido como derrame) durante a gestação e pouco tempo após o parto aumentaram 54% entre os anos de 1994-95 a 2006-07.
Os motivos para estas mulheres apresentarem uma doença tão grave em um período teoricamente saudável são variados. As gestantes têm diversas mudanças orgânicas e inflamatórias quando o feto começa a crescer. O organismo passa a funcionar diferente, há um aumento na tireóide, na pressão e na frequência cardíaca. Estima-se que o coração trabalhe 28 vezes mais do que o usual em uma gravidez de feto único – quando a mulher espera por gêmeos, este número aumenta ainda mais.
Se em algumas estas mudanças são normais, e não afetam a rotina, para outras, trazem alguns problema, e agravam outros.
Grande vilã, a gravidez
Mesmo que os números não sejam grandes, mulheres saudáveis podem ter problemas graves durante a gestação. E a causa dos problemas é exatamente este: ter um bebê crescendo dentro de você. Algumas delas apresentam alterações na pressão arterial, uma das responsáveis por algumas das complicações mais graves durante a gestação, como AVC, eclampsia e pré-eclampsia, que podem ser fatais.
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A mulher também pode desenvolver a miocardiopatia periparto, uma inflamação do músculo cardíaco que pode ocorrer no fim da gestação e até seis meses após o parto. Esta é uma doença imunológica: o próprio organismo da gestante fabrica anticorpos, que atingem o coração. A complicação faz com que o coração aumente de tamanho e diminua o ritmo, causando insuficiência cardíaca.
Os principais sintomas são inchaço e palpitação, que podem ser confundidos com sintomas normais de qualquer gestante no último trimestre. Nestes casos, ter feito o pré-natal durante toda a gravidez, e falar sobre os sintomas ao médico, são medidas essenciais.
O tratamento da miocardiopatia periparto é semelhante ao da insuficiência cardíaca e cerca de 70% das mulheres se recuperam depois de seis meses. Não há como prevenir ou prever o surgimento da doença, mas as chances de a mulher apresentar o quadro nas próximas gestações são grandes.
Antes do bebê
A pesquisa também mostrou que muitas mulheres engravidam já com outros problemas de saúde, que pioram durante a gestação. Segundo o cardiologista José Renato das Neves, pai de Lucas e Letícia, elas estão engravidando mais velhas, acima do peso, hipertensas e diabéticas.
Nenhuma destas condições impede a gestação, mas trazem alguns problemas e exigem um cuidado maior por parte dos médicos e da própria mãe, que deverá fazer um acompanhamento rigoroso com ginecologista e cardiologista.
Em casos de gravidez planejada, a mulher deve procurar o médico e fazer uma avaliação cardiológica geral, baseada no histórico clínico. A maioria destas doenças tem causa genética, e pode ser prevenida.
Em casos de gravidez “surpresa”, o ginecologista será o responsável pelo encaminhamento da mulher aos especialistas que ele achar necessários. O pré-natal vai mostrar as condições de saúde em que a mulher se encontra, e garantirá a saúde da mãe e do bebê.
Consultoria: José Renato das Never, pai de Lucas e Letícia, é cardiologista do Hospital Samaritano de São Paulo. Tel.: (11) 3821-5300