Em um mundo onde campanhas publicitárias e as redes sociais mostram a maternidade como um objetivo de vida perfeito, muitas mulheres enfrentam, em silêncio, os desafios da fertilidade. A cada seis casais no mundo, um enfrenta dificuldades para conceber, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora esse seja um problema comum, o impacto emocional e psicológico das tentativas frustradas para engravidar muitas vezes passa despercebido.
Montanha-russa emocional
A frustração de meses, ou até anos, de tentativas frustradas para engravidar pode gerar um impacto emocional profundo. Depois de cada ciclo de expectativa e de mais um exame negativo, uma série de sentimentos pode surgir, incluindo tristeza, raiva e desânimo. Como destaca a psiquiatra e psicoterapeuta Dra. Nina Ferreira, “a mulher passa a viver em função do ciclo menstrual, da ovulação, dos testes de farmácia. Cada mês se torna uma montanha-russa emocional. E quando o resultado é negativo, vem a sensação de fracasso, como se ela tivesse falhado em algo que ‘deveria ser natural’”. Esse processo pode afetar a autoestima e, em alguns casos, gerar ansiedade ou até depressão.
A pressão do tempo, o desgaste emocional dos tratamentos e a expectativa social em torno da maternidade contribuem para que a mulher se sinta pressionada. Muitos desses sentimentos ficam silenciosos, porque, em uma sociedade onde a maternidade é vista como uma realização plena, pode ser difícil admitir a dor que vem com a dificuldade para engravidar.

A carga emocional das tentativas frustradas
Além do impacto psicológico, esse processo pode afetar outras áreas da vida da mulher. O foco exclusivo na tentativa de engravidar pode interferir no trabalho, nas amizades e até nas relações familiares. É como se tudo fosse prejudicado e impactado por essa dedicação muito intensa, quase exclusiva. Muitas vezes, a mulher nem percebe o quanto está deixando de viver outras experiências em nome do desejo de ser mãe. Esse comportamento pode criar um ciclo vicioso de desgaste emocional.
Por que é importante buscar ajuda profissional
Quando a pressão emocional se torna persistente e começa a afetar o dia a dia, é essencial buscar apoio especializado. A médica alerta: “Muitas mulheres demoram a procurar ajuda porque acham que precisam ser fortes o tempo todo ou porque sentem vergonha de admitir que não estão bem. Mas saúde mental não é luxo, é parte fundamental do processo. É possível enfrentá-lo com mais leveza quando há acolhimento profissional e uma escuta qualificada.”
É fundamental que a mulher se permita procurar apoio para lidar com os desafios emocionais dessa fase. O acompanhamento psicológico pode ajudar a suavizar a carga emocional, permitindo que ela possa se dedicar ao processo de uma forma mais equilibrada e saudável.
Estratégias de autocuidado
Além do acompanhamento especializado, práticas de autocuidado podem ser grandes aliadas. Estabelecer limites em relação a conversas ou conteúdos que podem gerar gatilhos emocionais é uma maneira importante de proteger a saúde mental. A prática de atividades físicas, o contato com amigos e familiares que oferecem apoio sem julgamento e momentos de prazer e descanso são essenciais para o bem-estar emocional.
“Não se trata de apagar o desejo de ser mãe, mas de construir um caminho mais gentil até ele. Cuidar de si mesma durante essa espera é, também, uma forma de amor”, conclui Dra. Nina Ferreira. O autocuidado não significa abrir mão do sonho de engravidar, mas criar um equilíbrio emocional que torna o processo mais leve e saudável. É possível ser gentil consigo mesma, mesmo durante a espera.