Algumas condições de saúde podem aparecer ou piorar durante a gravidez. É o caso da enxaqueca, que afeta milhões de pessoas, principalmente mulheres, e que pode se intensificar ou surgir justamente nesse período por causa das flutuações hormonais.
Apesar de ser comum, a dor de cabeça intensa muitas vezes é tratada como algo “comum da gravidez”, e o problema acaba sendo empurrado para debaixo do tapete. “A grande questão é que, em grande parte dos casos, a mulher passa os meses da gestação sofrendo com fortes dores por ouvir e acreditar que não existem tratamentos seguros para enxaqueca nessa fase, ficando restrita aos remédios para crises que, além de não solucionarem o problema, ainda podem piorar o quadro”, explica o Dr. Tiago de Paula, neurologista especialista em cefaleia e membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC).
Recentemente, um estudo publicado no periódico científico Cephalalgia, concluiu que a toxina botulínica (mais conhecida como Botox), é uma alternativa segura e eficaz para tratar a enxaqueca durante a gestação.
Estudo mostra eficácia do Botox no controle da enxaqueca
A pesquisa, que acompanhou pacientes por 14 anos, analisou 126 mulheres que engravidaram enquanto faziam tratamento para enxaqueca com toxina botulínica. E os resultados são animadores.
“Quando aplicada em pontos nervosos específicos, a toxina botulínica bloqueia a saída de vesículas que são moduladores de dor. Assim, é capaz de reduzir a sensibilidade do cérebro à dor, ajudando no controle da enxaqueca. É um tratamento de primeira linha amplamente utilizado no combate à enxaqueca”, explica o Dr. Tiago.
As participantes foram monitoradas por 12 semanas, e os dados coletados mostraram que, entre as 97 que seguiram com o tratamento após engravidar, 100% permaneceram em remissão das crises. Apenas 2% delas tiveram abortos espontâneos — um número dentro da taxa considerada normal na população geral. Além disso, nenhuma apresentou malformações fetais.

Interromper o tratamento pode trazer mais riscos
Já entre as participantes que interromperam o uso da toxina botulínica após descobrirem a gestação, 79% voltaram a sofrer com as crises de enxaqueca, e a taxa de abortos espontâneos foi de 3%. Ou seja, parar o tratamento pareceu ter um impacto direto tanto na qualidade de vida quanto nos riscos associados.
“O estudo também destaca que a interrupção do tratamento está relacionada a um maior risco de remissão da enxaqueca durante a gestação”, pontua o especialista.
Segurança e benefícios vão além do alívio da dor
Apesar de o uso da toxina botulínica para enxaqueca não estar previsto em bula para gestantes, o Dr. Tiago ressalta que o procedimento é realizado com frequência e segurança. E mais: além do alívio das dores, tratar a enxaqueca na gravidez é fundamental para prevenir complicações mais sérias.
“O manejo da enxaqueca na gravidez é especialmente importante porque não se trata apenas de um desconforto. Além de ser uma condição incapacitante em um momento em que a mulher já tem que lidar com uma série de questões, a enxaqueca ainda pode aumentar o risco de desenvolvimento de complicações como eclâmpsia, pré-eclâmpsia e parto prematuro”, alerta.
Por isso, o ideal é que o tratamento seja iniciado antes da gravidez e mantido durante toda a gestação. Se a gravidez acontecer de forma não planejada, o mais importante é buscar orientação médica o quanto antes para avaliar a melhor abordagem.
Converse com o médico e avalie a melhor opção
Se você sofre de enxaqueca e está grávida (ou pensando em engravidar), vale conversar com seu neurologista sobre essa possibilidade. A toxina botulínica surge como uma opção que pode trazer alívio real e seguro, sem comprometer a saúde do bebê.
E o mais importante: informação é poder. Saber que existem alternativas seguras ajuda a fazer escolhas conscientes e cuidar de você durante toda a jornada da maternidade.