Engravidar é o sonho de muitas mulheres — mas realizar esse desejo vai muito além do positivo no teste. Para quem quer viver essa fase com saúde e tranquilidade, o acompanhamento dos hormônios pode ser um verdadeiro divisor de águas. E não estamos falando só da gravidez, viu? A jornada começa antes mesmo da concepção e vai até o puerpério, com impactos diretos na saúde da mulher e no desenvolvimento do bebê.
Antes da gravidez: o corpo já começa a se preparar
De acordo com a endocrinologista Alessandra Rascovski, diretora clínica da Atma Soma, o cuidado com os hormônios deve começar antes mesmo da gestação. “É muito importante entender um pouco mais sobre o estilo de vida da paciente: o que ela come, se consome muito álcool, se pratica exercícios físicos, se prioriza o sono. Isso tudo terá um impacto importante na saúde do bebê”, explica.
E não é só teoria: um estudo publicado na revista acadêmica BMJ analisou quase 20 mil crianças e mostrou que filhos de mulheres que consumiam muitos ultraprocessados tinham 26% mais chance de desenvolver obesidade ou sobrepeso. Ou seja, o cuidado com a alimentação e o estilo de vida já começa lá atrás, bem antes da barriga crescer.
Alessandra observa que o equilíbrio hormonal pode melhorar significativamente a fertilidade. Mulheres que perdem peso, adotam hábitos saudáveis e equilibram os hormônios aumentam suas chances de engravidar — seja de forma natural ou por fertilização.
Durante a gestação: oscilações hormonais à vista
Gravidez é sinônimo de transformação — e os hormônios comandam boa parte desse espetáculo. “O corpo da mulher vivencia um período de forte flutuação hormonal. Quando ela engravida, o aumento do hormônio Beta HCG pode render uma série de efeitos, como aumento da sonolência e dores nas mamas. Já o aumento da progesterona e a queda do estrogênio está ligado com uma possível elevação da resistência insulínica, com o maior risco de diabetes e doenças cardiovasculares”, explica Alessandra.
Por isso, entre a 24ª e 28ª semanas de gravidez, o exame de curva glicêmica é essencial. Ele ajuda a identificar o risco de diabetes gestacional, especialmente em mulheres com obesidade, histórico familiar ou uso de corticóides. Segundo a endocrinologista, quem apresenta oscilações importantes na glicemia durante a gravidez tem maior risco de desenvolver diabetes no futuro.
Puerpério: mais uma avalanche hormonal
Se o parto já é um evento marcante, o puerpério não fica para trás. “Logo após o parto, ocorre uma queda abrupta de determinados hormônios, fazendo do puerpério uma época de atenção. Nessa fase, o risco de mudança no eixo do cortisol e de depressão aumenta consideravelmente”, explica Alessandra. Muita gente confunde a exaustão natural dessa fase com depressão pós-parto, mas é importante diferenciar: nem toda mulher cansada está deprimida — mas o acompanhamento é essencial para detectar qualquer sinal de alerta.
Outro ponto importante é a amamentação. Durante esse período, há um aumento da prolactina, hormônio que pode causar fadiga e secura vaginal. Quando a mulher deixa de amamentar, os hormônios nem sempre voltam rapidamente ao normal, e por isso o acompanhamento deve continuar.

Os hormônios mais monitorados durante a maternidade
Alessandra lista os principais pontos de atenção hormonal durante a gestação e o pós-parto. Um deles é a tireoide. Alterações tireoidianas não tratadas podem impactar o desenvolvimento do bebê. Hipotireoidismo, por exemplo, pode afetar o neurodesenvolvimento fetal e, em casos graves, causar cretinismo congênito. Por isso, o teste do pezinho é tão importante — ele ajuda a identificar disfunções logo nos primeiros dias de vida.
E não é só o bebê que precisa de atenção: a tireoidite pós-parto pode provocar irritabilidade, queda de cabelo e cansaço. “Essa condição geralmente começa com hipertireoidismo e depois evolui para hipotireoidismo”, explica a endocrinologista.
Outro cuidado importante é com o metabolismo lipídico. Os níveis de colesterol e triglicerídeos tendem a subir na gravidez, o que pode ser agravado pelo ganho de peso ou predisposição genética. Também é preciso ficar de olho nos níveis de cálcio e vitamina D, já que durante a amamentação prolongada o corpo prioriza o leite — e a mulher pode acabar com perda óssea.
Suplementação: o que pode fazer a diferença
Para quem está tentando engravidar, a suplementação com ácido fólico deve começar pelo menos três meses antes. “Esse nutriente é essencial para a formação do tubo neural do bebê”, explica Alessandra. Ela ainda faz um alerta: o uso prolongado de anticoncepcionais pode reduzir os níveis de ácido fólico no corpo — por isso, é importante investigar e suplementar, se necessário.
Outros suplementos importantes são o ferro, para prevenir anemia, e o ômega-3 (especialmente DHA), que colabora com o desenvolvimento neurológico e visual do bebê.
Saúde em primeiro lugar
Cuidar dos hormônios é mais do que uma recomendação médica – é uma forma de viver a maternidade com mais equilíbrio e bem-estar. Como reforça Alessandra Rascovski: “É um momento tão especial, tão esperado por muitas mulheres, que buscam vivê-lo em sua plenitude. Se não houver um cuidado intensivo com a saúde, a chance de ter que lidar com problemas é grande. Um pré-natal muito bem feito é o melhor presente que a mulher pode se dar”.