Junho chegou, e com ele um lembrete importante: é o Mês Mundial da Conscientização sobre a Infertilidade. É aquele momento do ano em que precisamos falar, de verdade, sobre um assunto que impacta milhões de pessoas no mundo todo, mas que ainda vive cercado de silêncio, tabus e um monte de perguntas sem resposta.
Quando o assunto é reprodução assistida, é comum pensar logo em exames, hormônios, fertilização in vitro (FIV), congelamento de óvulos… Mas e tudo aquilo que não está nos folhetos explicativos das clínicas? E os sentimentos que surgem entre um procedimento e outro? É exatamente sobre esse lado — mais humano, real e por vezes doloroso — que a Dra. Isis de Negreiros Costa, especialista da Geare, unidade do FertGroup em Recife e João Pessoa, resolveu falar.
“Muitas pacientes chegam extremamente bem informadas sobre taxas de sucesso e detalhes técnicos dos tratamentos, mas completamente despreparadas para viver o turbilhão emocional que esse processo pode trazer”, explica a médica. Então, se você está nesse caminho ou apenas considerando suas opções para o futuro, vale conferir as 10 verdades que ela reuniu. São aprendizados valiosos, daqueles que ajudam a encarar a jornada com mais clareza, e menos romantização.
O tempo emocional não combina com o tempo biológico
Enquanto você se dedica à carreira, vive novos amores ou reorganiza os planos de vida, seus óvulos seguem firmes no ritmo da natureza. E ele é implacável. A fertilidade começa a diminuir aos poucos antes mesmo dos 35 anos, e muita gente só se dá conta disso quando o relógio biológico já está adiantado demais para os desejos emocionais e profissionais.
Congelar óvulos é apostar em chance, não certeza
Sim, a ciência avançou muito. Mas isso não transforma o congelamento de óvulos em uma garantia de gravidez. Quanto mais jovem o material é preservado, maiores as chances. Ainda assim, estamos falando de probabilidade, e não de promessa.

Os hormônios podem mexer, mas não com todo mundo
Durante a estimulação ovariana, é possível sentir inchaço, cansaço ou mudanças no humor. Mas calma: isso não é regra. Algumas pessoas atravessam essa fase com sintomas leves ou quase imperceptíveis. A reação é bem individual, e tudo volta ao normal após a punção dos óvulos.
O custo não está só na conta bancária
Além do investimento financeiro, há um peso emocional e social enorme. Lidar com a ansiedade, o desconforto físico e os comentários (muitas vezes sem noção) de familiares e amigos pode ser um pacote pesado para carregar.
Você pode se sentir sozinha, mesmo cercada de apoio
Ter um parceiro presente, amigos e família por perto ajuda, mas não elimina a solidão que aparece no dia a dia do tratamento. As decisões, as injeções, os altos e baixos… é uma vivência que só quem está passando realmente entende.
Culpa e pressão social fazem parte do pacote
A sociedade adora julgar quem “demorou demais” para tentar engravidar. E isso mexe com a cabeça. Surgem dúvidas sobre escolhas passadas e uma necessidade constante de se justificar. Mas não existe caminho certo ou errado, existe o seu.
A vida segue, mesmo no meio do tratamento
A estimulação ovariana não vai esperar seu chefe remarcar aquela reunião. E o dia da coleta pode cair bem no aniversário da sua tia. A vida continua, e conciliar tudo é um desafio real. Flexibilidade e organização são grandes aliadas.

Luto por planos que não aconteceram também é real
Nem sempre tudo sai como o planejado. E lidar com o que não aconteceu, ou com o que foi diferente do sonhado, exige tempo e acolhimento. Esse luto é legítimo, e precisa ser respeitado.
Você é muito mais do que um número
Estatísticas são importantes, mas não definem você. Cada corpo reage de um jeito, cada história tem seu ritmo. E os números, por mais que ajudem a entender o cenário, não contam a sua trajetória.
A força que você vai descobrir em si mesma é surpreendente
Independentemente do resultado, essa jornada vai revelar uma coragem e resiliência que você talvez nem imaginasse ter. Vai perceber que pode mudar de planos, encarar frustrações e seguir em frente com ainda mais potência.
Como resume a Dra. Isis: “Situações que, quando nomeadas, se tornam mais leves de entender e de enfrentar. Desafios comuns a pacientes tão diferentes, mas que podem se apoiar ao compartilharem essas vivências”. Falar sobre infertilidade é também uma forma de acolher — e de transformar uma experiência difícil em algo mais humano e possível.
Se você está passando por isso, saiba: você não está sozinha. E informação, acolhimento e escuta fazem toda a diferença no caminho.