Com certeza você já teve ou conheceu alguém que tem endometriose. Mas a falta de informações em torno da doença, não só das mulheres, mas também de especialistas, dificulta o diagnóstico correto. Cerca de 15% das brasileiras sofrem com a endometriose, mas a maioria delas precisou consultar pelo menos três médicos, em um período de 5 a 8 anos, para finalmente receber o diagnóstico. “Embora a doença já desperte o interesse para pesquisas, a endometriose ainda não é compreendida no mundo e seu conhecimento é muito recente”, explica o ginecologista e obstetra Marcos Tcherniakovsky, especialista em endometriose e pai de Isabela e Daniel.
Março Amarelo é o mês mundial de conscientização da endometriose, que atinge cerca de 7 milhões de mulheres no Brasil. Responsável por 50% dos casos de infertilidade feminina, a endometriose acomete entre 9 a 13% das mulheres no mundo todo e pode atingir outros órgãos da pelve, como trompas, ovários, intestino e bexiga. Por isso, entender mais sobre o problema é importante para que o tratamento se torne mais efetivo. Segundo o ginecologista Waldir Inácio Jr., especialista no assunto, hoje já se sabe, por exemplo, que o problema não é decorrente do fluxo menstrual. “A mulher nasce com endometriose. Por isso, irmãs têm mais chance de ter. E já se estudaram natimortos do sexo feminino que tinham endometriose”, afirma.
“O endométrio não deve se expandir para outros órgãos. Quando isso se dá, causa uma reação inflamatória que pode ser discreta ou de forte intensidade. A partir daí, a mulher começa a sentir os sintomas da endometriose” explica Dr. Marcos. Segundo o especialista, a endometriose é conhecida como a doença da mulher moderna. “Por conciliar várias funções diárias, como ser profissional, mãe e parceira, a mulher acaba ficando mais estressada e com a imunidade baixa. Então, se torna mais receptiva à endometriose, que tem um componente imunológico e genético. Fora isso existe o fator hereditário. Hoje se sabe que filhas de mães que já tiveram endometriose são mais propensas. E por fim existe a causa genética”, ressalta o médico.
Posso engravidar com endometriose?
A endometriose pode, sim, causar infertilidade. Mas não necessariamente: tudo depende de quando a doença foi descoberta e de sua gravidade. Vale lembrar que infertilidade não significa esterilidade. “Os casos mais graves de endometriose têm uma complexidade maior. Mas seu diagnóstico não é uma sentença para esquecer a maternidade, mas outro fator a ser acompanhado com muita atenção na hora de avaliar o melhor tratamento”, explica Marcos.
Prova disso é a gravidez da analista de sistemas Cristiane Mauerwerk Simão, mãe de Lucas e Murilo e casada com Eduardo Simão. Perto dos 40 anos e em meio às tentativas para engravidar, ela descobriu que estava com endometriose. “Por não conseguir determinar o grau, o médico pediu para que eu fizesse uma videolaparoscopia, um procedimento que limparia os focos. Procurei um ginecologista e fiz alguns exames clínicos necessários para a cirurgia e uma avaliação cardiológica para saber se estava tudo bem”, conta.
“Quando estava tudo pronto para a internação, retornei no médico e comentei que minha menstruação estava atrasada, mas como tenho ovários micropolicísticos, meu ciclo nunca foi regular. Ele me pediu um exame de sangue Beta HCG com urgência para descartarmos as chances de engravidar, já que faria a cirurgia na próxima semana. No exame, surpresa. Estava grávida de cinco semanas. Foi uma alegria”, relata Cristiane.
Para ela, foi uma realização engravidar naturalmente, sem precisar fazer inseminação. “Tive que tomar alguns cuidados até completar 16 semanas, mas tive uma gestação ótima. O Lucas nasceu perfeito e, quando ele completou um ano, decidi engravidar novamente. Depois de quatro meses de tentativas, fiquei grávida naturalmente também do Murilo”, lembra.
Como acontece?
Ainda não se conhece exatamente a causa da endometriose, mas ela depende de fatores imunológicos, genéticos e hormonais, então fique atenta aos sintomas e converse com seu médico. “É um fenômeno que ocorre quando o tecido endometrial sai pelas tubas e vai parar dentro da pelve, podendo se alocar no ovário, embaixo do útero ou em outro local da região da pélvis. Quando esse tecido começa a sangrar durante o período menstrual, o corpo reage como se fosse uma inflamação”, explica Dr. Marcos.
Como é feito o diagnóstico?
Na maioria dos casos de endometriose, o diagnóstico é tardio. Muitas mulheres acabam descobrindo a doença durante as tentativas para engravidar ou depois de sofrer muitas dores por cólicas. Mas a endometriose pode ser diagnosticada logo na adolescência, se a informação dos sintomas forem cada vez mais conhecidas pelos especialistas e pacientes. Agendar a primeira consulta com um ginecologista a partir da primeira menstruação, mesmo que a menina não tenha iniciado uma vida sexual é o primeiro passo para uma melhor prevenção e tratamento.
Para o diagnóstico, existem exames de ultrassom e de sangue, mas também é necessário prestar atenção nos sintomas que indicam a existência da endometriose:
- Dor aguda ao menstruar: cólicas muito fortes, que impedem ou prejudicam as atividades do dia a dia
- Dificuldade para engravidar: se você está tentando há mais de um ano e não consegue, pode ser um sinal de endometriose
- Dor durante a relação sexual: esse é um momento onde dores não devem existir, se você sente desconforto, procure o médico
Como é feito o tratamento?
Segundo Dr. Marcos, diminuir a menstruação de alguma forma é uma boa maneira, já que cerca de 15% de todas as mulheres que menstruam têm endometriose. Além disso, praticar atividades físicas e evitar estresse no dia a dia também são fatores que ajudam.
Mas nos últimos anos, vem acontecendo uma mudança de paradigma em relação à terapia com hormônios. “Além de não tratar efetivamente a doença, traz efeitos colaterais, como aumento de peso, diminuição da libido e alteração do humor. O tratamento mais inovador hoje é a cirurgia laparoscópica avançada, na qual eliminam-se todos os focos de endometriose. Quando retirada de forma completa, a endometriose não volta e não há mais necessidade de tomar qualquer medicamento”, explica Dr. Waldir.
Reprodução assistida
Cerca de um terço das mulheres inférteis pode ter endometriose e, apesar de estar presente em torno de 10% das mulheres, mais de 30% das pacientes com esse diagnóstico enfrentam problemas de fertilidade. “Um dos grandes esforços que as sociedades médico-científicas têm feito é para que os diagnósticos sejam cada vez mais precoces, mesmo em adolescentes”, ressalta a presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
A médica explica que técnicas de reprodução assistida aumentam as chances de realizar o sonho da maternidade já que proporcionam ganhos em relação à correção dos fatores que interferem com a fertilidade. Esse tipo de tratamento deve ser escolhido conforme a idade da paciente, o histórico familiar, o tempo de infertilidade, o grau da doença, as condições tubárias e dos espermatozoides.
Os especialistas reforçam que não existe uma regra geral que possa ser feita para todos. Cada caso tem de ser individualizado.