O perfil das mulheres que decidem ser mães tem mudado drasticamente nas últimas décadas. Hoje, há mais nascimentos de filhos de mulheres com mais de 40 anos do que de adolescentes, especialmente nos Estados Unidos, onde esse marco foi alcançado pela primeira vez na história. No Brasil, o movimento é semelhante: aumentaram em 56% os partos em mulheres de 35 a 39 anos, e em 36% na faixa dos 40 aos 44.
Segundo a Dra. Márcia Mendonça, diretora científica da Clínica Origen BH, “a escolha por adiar a gestação é legítima e reflete conquistas sociais, mas é preciso compreender os limites biológicos envolvidos”.

Queda na fecundidade é um fenômeno global
As estatísticas mostram que a taxa de filhos por mulher tem diminuído consideravelmente em países como Portugal, França, Espanha e também no Brasil. Por aqui, a taxa caiu de 2,32 filhos por mulher em 2000 para 1,57 em 2023, uma marca que compromete a renovação populacional.
Esse declínio é atribuído à maior inserção feminina no mercado de trabalho, à busca por qualificação acadêmica e ao alto custo de criar filhos. A mortalidade infantil mais baixa e o acesso ao planejamento reprodutivo também contribuíram para essa mudança cultural.
Infertilidade em alta: o outro lado da moeda
Ao mesmo tempo em que a fecundidade cai, o número de casos de infertilidade aumenta. Estimativas da Organização Mundial da Saúde indicam que uma em cada seis pessoas pode enfrentar dificuldades para ter filhos. Muitas dessas situações só podem ser resolvidas com o auxílio das técnicas de reprodução assistida (TRA), que, infelizmente, ainda não são acessíveis a todas.
De acordo com a Dra. Márcia Mendonça, “muitas mulheres acreditam que poderão contar com a medicina para engravidar quando quiserem, mas a idade segue sendo o fator mais determinante para o sucesso dos tratamentos”.
A importância de compreender a reserva ovariana
Com o passar do tempo, o número de óvulos disponíveis nos ovários diminui, um processo que se acelera após os 35 anos. Esse é um dado biológico incontornável. A partir dos 41 anos, as chances de infertilidade podem chegar a 50%, e aos 45, esse número se aproxima de 90%.
Para aquelas que ainda não decidiram sobre a maternidade, o congelamento de óvulos é uma alternativa estratégica. “É uma forma de preservar o potencial fértil da mulher, especialmente quando ela ainda não está pronta para engravidar, mas quer manter a opção no futuro”, explica a especialista.
Tecnologia aliada à liberdade de escolha
Os avanços em medicina reprodutiva oferecem novas possibilidades para mulheres e casais que desejam ter filhos em diferentes contextos. Além de casais heterossexuais com infertilidade, as TRA também beneficiam casais homoafetivos, mulheres que passaram por menopausa precoce e até mesmo aquelas sem útero, por meio de técnicas como a fertilização in vitro e a gestação por substituição.
Segundo a Dra. Márcia, “as novas tecnologias não apenas tornam possível a maternidade em casos antes impensáveis, como também ampliam o conceito de família”.
Desafios contemporâneos: entre a maternidade e a carreira
Muitas mulheres enfrentam dilemas profundos ao tentar conciliar a vida profissional com a vontade de ter filhos. O esgotamento físico e mental (burnout) tem sido cada vez mais comum, especialmente em um ambiente de trabalho que, muitas vezes, não acolhe bem a maternidade. Isso se reflete em desigualdade salarial, limitações para promoções e falta de apoio, como ausência de creches ou licença parental ampliada.
As mulheres da geração Z, observando as dificuldades enfrentadas pelas millennials, estão optando por adiar ou até mesmo abrir mão da maternidade para preservar sua saúde mental e investir na carreira.

Por um futuro com escolhas reais
Mulheres que recorrem às técnicas de fertilização também encontram barreiras emocionais e financeiras no ambiente profissional. É urgente que haja políticas públicas e corporativas que respeitem o direito de cada pessoa decidir como e quando formar sua família.
“A liberdade reprodutiva é um direito humano básico. Precisamos garantir que as mulheres não tenham que escolher entre uma carreira promissora e o sonho de ser mãe”, conclui a Dra. Márcia.