Uma das primeiras reações ao perder um bebê durante a gravidez é questionar. Por quê? Como aconteceu? Bom, as causas são variadas: desde má formação do bebê, infecções que podem gerar o rompimento prematuro da bolsa que contém o líquido amniótico, descolamento da placenta ou do saco gestacional (dependendo da idade gestacional do bebê) até a abertura precoce do colo do útero, baixa produção de progesterona, choques – como quedas ou acidentes -, diabetes, desnutrição e problemas cardíacos.
“Infelizmente, existem também outras causas, que ainda podem permanecer um enigma mesmo após a morte do bebê”, complementa a psicóloga Renata Kraiser, mãe de Nicole e Laura. Sabendo ou não vem o sentimento: “Será que poderia ter feito algo diferente?” Não se culpe.
A diferenciação de tipo sanguíneo – mães com RH negativo, que tomam vacina para conceber filhos de RH positivo na primeira gravidez e, numa segunda gestação, entram em conflito com bebês desse RH – e alterações nos cromossomos também são causas importantes. “Tanto no aborto espontâneo, como no nascimento de um bebê natimorto, a decorrência pode vir dessa alteração. Os casos de sífilis também precisam ser mencionados, já que a mãe pode passar para o bebê por meio da placenta”, acrescenta o obstetra e professor do departamento de Obstetrícia da Unifesp, Júlio Elito, pai de João.

Alguns fatores psicológicos e emocionais, como estresse e emoções negativas muito intensas, também podem contribuir para agravar um quadro e levar ao aborto. “Nosso corpo e nossa mente não são separados. Somos um ser único e indivisível e, por isso, não podemos separar os aspectos psicológicos dos físicos e vice-versa”, finaliza Renata. Durante a gravidez, mãe e filho formam uma unidade cujo equilíbrio pode ser afetado por, por exemplo, a descoberta de uma malformação no bebê.
“Quando descobrimos que o bebê tinha um problema no intestino que poderia estar ligada a alguma síndrome genética, entrei em curto. Esperar 40 dias pelo resultado da amniocentese foi muito angustiante. No fim, o exame deu normal, não havia síndromes, mas fiquei muito abalada. Não sei se isso contribuiu para que eu perdesse o bebê já com 34 semanas de gravidez, mas acho que pode ter influenciado. Acho que toda mãe que passa por situações delicadas na gravidez deveria procurar apoio psicológico”, diz Larissa Purvinni, mãe de Carol, Duda e Babi, e que perdeu Rafael em 2006.
Consultoria:
Júlio Elito, obstetra e professor do departamento de Obstetrícia da Unifesp, http://www.unifesp.br/dobstetr/obstetricia/
Renata Kraiser, psicóloga, http://www.terapeuta.psc.br/