Dizem que quando um livro é publicado é como se o autor desse à luz a um filho. Então, neste outubro de 2024, o meu segundo bebê chegou ao mundo, meu primeiro livro infantil “Terra do Contrário”. Só agora eu posso compreender com profundidade esta comparação. Uma história carrega muito do escritor. Seus medos e dúvidas, alegrias e desejos… A maneira única de ver o mundo e seus sentimentos mais íntimos, podem estar impressos, de uma maneira ou de outra, numa obra literária.
Nesse sentido, publicar um livro é como se parte de você estivesse sendo colocada para o mundo, como um filho. Algo que você gestou e cuidou por um tempo, a partir daquele momento não está mais sob o seu controle. Publicar é deixar ir… É deixar o filho crescer e alçar voos inimagináveis. Dá um medinho! Mas também traz muita alegria e satisfação. Essa é a mistura de sentimentos que me acompanha neste momento em que meu primeiro livro entra na pré-venda. Agora já não é mais meu… É de quem o ler. E eu só espero que você leitor, faça muito bom proveito e se divirta com a história de Caio. Desejo que esse menino inspire crianças e suas famílias para que tenhamos infâncias mais inclusivas e empáticas.
Na adolescência, escrevia muito. Esses textos ficavam engavetados, eu não ousava mostrar pra ninguém. Lembro da minha professora de redação da quinta série (sexto ano do Ensino Fundamental II) dizendo que eu seria escritora, tamanha era o minha satisfação por escrever histórias.
Mas quando comecei a trabalhar na televisão, parei de escrever com frequência. Na faculdade de jornalismo, o texto ficcional deu lugar ao informativo. Com a Celebrando Amor, pude exercitar os textos poéticos nas cerimônia de casamento que fazia. Mas foi durante a pandemia, que voltei a escrever histórias e rascunhar algumas ideias. Depois do nascimento do meu filho, o plano era fazer uma pausa para viver a maternidade por completo durante 1 ano inteiro. Veio o lockdown e esse um ano se transformou em dois. Então, tive tempo para me dedicar a escrita criativa e a narrativa literária, nos intervalos ociosos entre uma fralda e outra na madrugada.
Com a chegada do Gabriel, passei a ler os livros infantis. Percebi que os meus escritos reetiam aquele momento de vida. A ludicidade tomou conta do meu dia a dia e eu sentia uma alegria imensa nos momentos das brincadeiras com ele.
Estava novamente imersa no universo infantil, algo que fez parte da minha vida por muitos anos. Foram mais de 10 anos ao lado da Angélica, trabalhando no Clube da criança (Tv Manchete), Casa da Angélica(SBT) e Angel Mix (TV Globo). E mais 7 anos apresentando o infantil Tv Globinho, também na Rede Globo). Foi na rotina da hora de dormir que me reconectei com os livros infantis. A nossa “hora da história”era acompanhada da leitura de muitos livros e de histórias inventadas, como o Gabi costuma chamar as contações de narrativas que improvisava na tentativa que fugir da repetição dos títulos. Cada madrugada acordada pela insônia, ou pela preocupação com o filho doente, me rendia muitas ideias que eu anotava depois no papel.
“Terra do Contrário”, surgiu de um desses momentos. Eu vou te contar! Durante o período do lockdown, meu lho tinha 11 meses. Gabriel engatinhou, cou de pé e começou a andar durante o início da pandemia no Brasil. Passamos muito tempo juntos e isolados, e nesse período percebi um comportamento recorrente: ele adorava ficar de cabeça para baixo.
Seja assistindo televisão, deitado no berço ou brincando, ele sempre buscava aquela posição de cachorro olhando para baixo, como dizemos no Yoga. Eu cava curiosa, pensando: por que esse menino gosta tanto de fazer isso? Até postei um vídeo no meu Instagram perguntando se alguém sabia a resposta para aquilo. Me disseram que quando a criança faz isso, ela está pedindo um irmãozinho! (Rs) Fato é que aquilo me intrigou e a imagem dele de cabeça para baixo ficou na minha cabeça.
Durante a reabertura, procurei uma creche para que ele pudesse iniciar a socialização com outras crianças e me vi, diariamente, dentro da salinha do berçário por dois meses. Nesse período, pude acompanhar de perto o desenvolvimento do meu lho e das outras crianças também.
Foi uma adaptação muito difícil para todos eles, mas, a cada dia, percebia que cada criança tinha o seu tempo, suas diculdades e preferências na convivência com o outro. Os passeios na pracinha ao lado de casa também me proporcionaram ricos momentos de observação da interação entre os pequenos. Uma coisa cou muito clara para mim: como algumas crianças eram deixadas de lado ou afastadas em certos momentos. E por quê? Anal, todos nós somos diferentes, únicos em nossas belezas e fraquezas. Algo estava errado…
Via muitos ‘Caios’ e algumas ‘Isabelas’ em cada lugar que visitava com o meu filho. Decidi, então, sentar ao computador e criar uma Terra onde todas as pessoas gostariam de viver. Um planeta onde as coisas estão em lugares diferentes dos que vemos hoje, e, por isso mesmo, é mais divertido! Onde o diferente também é legal.
Reuni imagens e referências da minha própria infância, misturando-as com essa nova que estava vivendo com meu filho. E foi assim que, aos poucos, surgiu o universo deste livro que agora compartilho com vocês. Espero que você, leitor, se divirta com o olhar de Caio e me ajude a tornar o nosso mundo cada vez mais parecido com o universo de Caio e Isabela. Boa viagem!