21/02/2013
Milene Massucato, autora do blog www.diiirce.com.br e mãe de Nicolas, quase 4, e Lorena, 9 meses.
“Desculpa
Meu parto foi cesárea, eu desmamei porque estava cansada da rotina, eu dei papinha industrializada, eu liberei açúcar antes de 1 ano de idade, eu perdi a paciência e dei uma palmada no meu filho, já dei analgésico achando que era dor, mas no fundo eu só queria dormir uma noite inteira, já deixei filho pendurado no tablet para eu poder fazer minhas coisas.
Eu já senti culpa.
E por isso senti-me menos mãe muitas vezes.
Foi nesses momentos de fracasso materno que busquei mudar. A culpa me fez encontrar uma desculpa para ser diferente.
Eita sentimentozinho mais controverso!
Então vem o tal do Winnicott dizer que precisamos ser suficientemente boas, criando condições para que nossos filhos se desenvolvam com saúde e segurança. A teoria é linda, mas a prática é polêmica: aquilo que eu considero saudável e seguro para meus filhos, pode não o ser para os seus. Logo, a culpa também é divergente: a mãe pode sentir culpa porque trabalha o dia todo, mas não sente culpa ao abrir o potinho de comida pronta, pois ela não gosta de cozinhar.
E são essas divergências entre mães o que nos torna humanas, ainda que busquemos a perfeição. Ser mãe é sentir-se responsável por tudo o que acontece na vida dos filhos. Seja bom, seja ruim. Mas queremos sempre acertar. Além disso, é difícil para a mulher construir a independência e a autonomia dos filhos. Depois que os pequenos crescem, a responsabilidade direta pelas ações deles não será mais da mãe, mas a culpa vai perdurar.
E para nos tornarmos aquela mãe suficientemente boa é preciso lidar com o sentimento de culpa, sem nos sentirmos rés ou delinquentes. A culpa deve existir, mas não no sentido de dano, de mal, de crime. A culpa, no caso da maternidade, é, na verdade, aquele sentimento de angústia causado por um conflito. O conflito da mulher e mãe. Queremos ser multicompetentes, onipresentes, oniscientes. E é esse choque de papéis que gera nossa culpa.
E esse sentimento nos faz desejar mais horas, mais braços, mais olhos. Julgamos outras mães como quem sentencia um marginal. E nessas, vamos refletindo sobre nossos próprios erros e acertos, tentando corrigir nossas falhas, desenvolvendo nosso maternar ao mesmo tempo em que nossos filhos se desenvolvem.
Mães não são perfeitas, e ninguém tem culpa disso.”