Por Nicole Caccavo Kear / Tradução de Julia Rabahie, filha de Marina e Gilberto
Minha filha de 4 anos estava esperneando no chão do supermercado. Ela queria bolachas. Eu disse que ela poderia comê-las só depois do jantar. “Você precisa se levantar do chão”, sussurrei no ouvido, bem discreta. “É sujo!”. Quando vi que essa tentativa não funcionou, tentei ser doce: “Seja uma menina boazinha, querida”. Nada. Tentei até chantagem. “Se você levantar, eu deixo você ver Scooby-Doo mais tarde”. Por fim, apelei para as ameaças: “Se você não levantar agora, não vai assistir televisão hoje. Vou contar até três. Um, dois…” Minha filha começou a gritar que nem louca. Fiquei paralisada, sabendo que assim que eu chegasse ao “três”, provocaria um acesso de raiva ainda maior. Então, cedi de novo.
Se você também é uma “molenga”, provavelmente não consegue se impor e ainda se sente culpada depois. Já deve ter descoberto, como eu, que usar técnicas disciplinares tradicionais não é o seu forte. Quando a gente lê ou ouve por aí dicas para lidar com a birra, parece tudo muito simples. Mas, na prática, não é tão fácil.
Calma! Você não está sozinha. Claro que existem as mães mais firmes, que conseguem manter a disciplina sem dar uns escorregões. Mas se você faz parte do grupo das molengas, saiba que existem técnicas um pouco mais simples de cumprir.
“As mães molengas são mais sensitivas em relação aos sentimentos”, diz Judy Arnall, autora do livro Discipline Without Distress. “Para evitar essas reações, elas procuram não criar regras e castigos”. Infelizmente, isso significa que filhos de mães molengas aprendem que agir mal pode ser um jeito de conseguir tudo o que eles querem. Mas esse não é o único problema que aparece quando os pais são muito permissivos, diz Jane Nelson, autora da série Positive Discipline. “Isso impede a criança de ter a oportunidade de desenvolver seu próprio ‘jogo de cintura’ e autoconfiança para lidar com os problemas e desapontamentos”, explica. Falamos com especialistas para descobrir as estratégias mais eficazes e te ensinar a escapar dos escândalos – e da culpa.
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Finja de surda
Desde a primeira vez que seu filho falar besteiras para chamar sua atenção, lá no comecinho da birra, finja que não ouviu, sugere Arnall. Crianças querem atenção, e fazer dos pequenos maus comportamentos um grande problema só vai reforçar que aquele é um jeito eficiente de consegui-la. Se fingir de surdo tem sido uma boa estratégia para a mãe Laura Moreira: “Quando minha filha de um ano e quatro meses não ganha o que quer ela grita e se joga no chão. Aprendi a simplesmente sair andando”, diz. “Quando vê que o choro não me afeta, ela para”.
Deixe ele escolher
“Quando meus filhos tinham 9 e 6 anos, eles costumavam me ignorar quando eu dizia para irem para cama”, diz Carolina Macedo. “Então comecei a dar escolhas: ‘querem ir sozinhos ou acompanhados?’ Se eles escolhessem ir acompanhados, eu pegava no braço como se estivéssemos indo a um baile e os levava.” Oferecer controle sobre pequenas decisões ajuda a criança pequena a entender que seus desejos também são levados em consideração e que ela não precisa ter ataques para ser ouvida. Só tenha a certeza de que você está oferecendo opções que sejam viáveis. Não diga: “Coloque suas roupas sujas no cesto, ou use-as sujas”.
Distraia seu filho
Pode parecer óbvio, mas para crianças novas, tirar o foco do objeto ou da situação em questão faz maravilhas. Mais até do que repreensão e punições, diz Arnall. Até para crianças mais velhas, o humor ajuda bastante a desviar a atenção. “Quando minha filha está reclamando, saio pela porta e entro de novo em casa, como se estivesse acabado de chegar”, diz Tânia Rodrigues. “Eu digo: ‘Oi, Nina, como foi seu dia?’ Geralmente ela fica tão surpresa que começa a rir e a crise de birra acaba”.
Crie uma tarefa
Se você sabe que na hora de um ataque normalmente não consegue segurar as pontas, pense em situações que evitam os chiliques. Você pode, por exemplo, criar um ambiente que distraia as crianças. A mãe Pamela Costa faz isso quando tem que levar seus filhos ao supermercado. “Uma coisa que ajuda bastante é pensar em tarefas para manter a criança ocupada, como ajudar a achar alguns itens e pedir para ela riscar outros da lista”, diz.
Pensem juntos
Focar em achar soluções em vez de punir e castigar, acaba com o sentimento de culpa da mãe, além de ajudar as crianças a desenvolver a habilidade de encontrar soluções para os impasses. “Meu filho de 7 anos ficava brincando com minha câmera fotográfica, mesmo que eu pedisse para não fazer isso. Um dia ele deixou cair, e ela quase quebrou”, diz Pedro Dias. “Nós conversamos sobre o valor que a máquina e as fotos tinham, e perguntei se ele tinha alguma ideia para prevenir que acontecesse de novo. Então, ele sugeriu que quando quisesse ver a câmera, teria que me pedir primeiro. Desde este dia, ele não tocou mais nela sem falar comigo”. As soluções dificilmente irão surgir no calor do momento, portanto, espere por uma oportunidade em que você e o seu filho estejam calmos e possam realmente se ouvir.
Já para o seu quarto!
Não há técnica de disciplina mais difícil de ser realizada do que a hora de mandar o filho para o quarto, ou para qualquer outro ambiente em que fique sozinho, quando faz algo de errado. Mas não tenha culpa! Às vezes você vai precisar mandar, sim, e é importante para os pais e para os filhos que tenham esse tempo para se acalmarem, aponta Judy Arnall. Esse tempo é uma ótima chance para as crianças relaxarem quando estiverem nervosas ou chateadas.
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Guia para as mães permissivas
A parte mais difícil de disciplinar seu filho vem antes, e não depois do mau comportamento dele. Saiba quando precisa ser mais dura.
• Passo 1: Seja realista.
Tenha expectativas razoáveis, o que significa entender o que a criança é capaz ou não de fazer. Por exemplo, a incapacidade de uma criança de 3 anos de dividir. Insistir nisso só vai resultar em brigas entre vocês.
• Passo 2: Saiba como você é.
Só estabeleça regras que você sabe que conseguirá impor. Você pode até sonhar com o mundo em que seu filho
faça a própria cama todos os dias, mas se você sabe que irá ceder quando ele começar a se negar, estabeleça regras mais flexíveis.
• Passo 3: Torne a regra oficial.
Faça uma reunião de família para estabelecer algumas regras essenciais. Deixe as crianças participarem do processo oferecendo ideias. Assim, quando elas quebrarem alguma delas, você pode recorrer ao acordo que elas mesmas ajudaram a criar.