Estou em Paris. Sim, a coluna está sendo escrita aqui. Meu presente: depois de 5 anos, 5 meses e 8 dias. Eu simplesmente amo ficar sozinha. Claro que fico morrendo de saudades do marido e das crianças. Mas é impagável poder passar
uns dias acordando quando quero, comendo o que quero, me metendo a falar um francês que não sei e sentando em cafés com mesinhas fofas na calçada apenas assistindo às pessoas e à vida que passam.
Lembro que uma vez saí de um grupo de mães no Facebook durante uma discussão sobre mães poderem, deverem, quererem ou não ter um tempo só para elas. Naquele grupo, a turma era unânime: não, não pode e não deve.
Naquele dia, cometi o erro de postar um comentário dizendo que eu gostava, sim, de tirar um tempo só para mim de vez em quando. Pedras voaram em minha direção. Uma resposta me marcou: Lamento por você, Ana.
Fiquei alguns minutos pensando em uma resposta. Palavrões vieram a minha cabeça. Achei mais educado clicar no botão “sair do grupo”. Costumo dizer que uma das coisas que eu acho mais interessantes sobre a maternidade é a contradição entre uma solidão absurda e uma vontade louca de ficar sozinha de vez em quando. Solidão porque só eu sou mãe dos meus filhos, só eu sei os meandros dessa aventura.
Por mais que eu tenha outras amigas que sejam mães, só eu sou mãe dentro do meu contexto. Com minha história,
com a história dos meus filhos, com minhas inseguranças. E uma saudade louca de ficar sozinha porque entre
o trabalho, colegas, clientes e a vida em casa com marido, filhos, babá, médico, vacinas, é bem raro não estar ocupada.
Então, não sei se eu devia, mas estou feliz andando sozinha sem rumo por essas ruas apertadas que trazem alguma
surpresa a cada esquina. Tem sempre um prédio lindo, um jardim florido, uma música inesperada, um bar charmoso
(minha parte preferida). E, quando a saudade aperta, sempre tem aquela ligação de vídeo por Whatsapp. Como aquela
que minha filha desligou na minha cara porque tinha mais o que fazer. Que bom. Mamãe também te ama, filha.
*Ana Castelo Branco
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