Início escolar é sempre um trauma para qualquer mãe. Aquele bebezinho que até então era seu e tão somente seu será de outras pessoas. Será que ele vai se adaptar? Será que vai chorar? Será que vai se esquecer da mamãe? Será que vai gostar mais da professora? Socorro!!!! Mas, temos que trabalhar. Sim, conquistamos esse direito e agora mais do que nunca o salário da mulher é importantíssimo no núcleo familiar. Tentamos, rebolamos, fazemos mandinga para o tempo se multiplicar e podermos ficar um pouco mais com nossos filhos, porém o dia só tem vinte e quatro horas. Quem foi a mulher que tirou o sutiã e reivindicou direitos iguais? Poxa, poderia ter reivindicado para trabalharmos meio período! Enfim, agora é essa a situação, temos que trabalhar e ponto final.
Sou médica e não tenho a menor pretensão de parar de trabalhar. Atrelado a esse fato tenho duas filhas: a Marina de quase três anos e a Lorena de sete meses, com Síndrome de Down. Por várias vezes fui questionada por estar trabalhando desde passados três meses do nascimento da pequena. Já cheguei a chorar por me questionar se estaria fazendo a escolha certa de deixar na escolinha. Mas, depois de deixar a Lorena por três meses com a babá, resolvi que realmente estava na hora dela ir para o berçário. Percebia que a pequena não estava se desenvolvendo como deveria. A pessoa que cuidava da pequena era extremamente carinhosa, porém não realizava os exercícios preconizados pela fisioterapeuta e por muitas vezes vi a Lorena deitada na cama ou carrinho sem o menor estímulo. “Chega!”, um dia pensei. “Com seis meses a pequena vai para o berçário e pronto”.
Quando estava grávida da Lorena fui muito acolhida pela coordenadora da escola da Marina, que me orientou sobre a possibilidade das crianças com Down frequentarem escolas regulares, coisa que realmente nunca havia me passado pela cabeça. Eu achava que crianças sindrômicas deveriam ir para escolas especiais. A coordenadora me incentivou a trazê-la ao berçário assim que sentisse a vontade, ou seja, quando eu quisesse.
Todos nós, pais de crianças com necessidades especiais, sabemos das dificuldades das escolas em aceitarem nossos filhos. É lei, mas ainda falta muita adequação. Acredito e tenho esperanças que dentro de alguns anos as coisas irão melhorar porque as crianças com alguma síndrome estão “aparecendo”, saindo das casas e indo para o mundo. A coordenadora explica que gostaria muito de receber todos que a procuram, mas nem sempre é possível acolher por motivos estrutura, porém para ela é muito gratificante ter uma criança especial na escola, pois desafia diariamente e o progresso é visível.
E para minha felicidade Lorena melhorou muito após a entrada no berçário. Graças ao trabalho das berçaristas, que aceitaram com prazer realizar os exercícios da fisioterapia quando possível, mas também pela pequena estar em contato com outras crianças, que é um estímulo imenso.
Fico muito satisfeita por ter tomado a decisão correta. Minhas duas filhas estudam na mesma escola, são felizes e a Lorena está melhorando dia a dia. Não tem sentimento melhor no coração de uma mãe que a PAZ.