Outro dia recebi um telefonema de uma pessoa que gosto muito, a Maria Antônia, coordenadora do Movimento Down. Ela me convidou a participar de um programa na TV Brasil que seria gravado em São Paulo, juntamente com o Breno Viola e a Estefânia. O tema? Direitos humanos. Confesso que fiquei um pouco temerosa com o convite, afinal falar de direitos humanos já é complexo e fica ainda mais em se tratando de pessoas com síndrome de Down, motivo pelo qual lutamos diariamente. Mas confirmei de imediato, afinal, pelo Movimento, pela conscientização e pela minha filha Lorena, perdi todos os meus medos de falar em público.
O programa foi muito bem dirigido. Irá ao ar em agosto. Com perguntas amplas e sem caráter de piedade (como muitas vezes a TV reproduz), a platéia se emocionou várias vezes com as falas do Breno, que tem síndrome de Down, é atleta e um grande defensor do Movimento Down.
Peço, aqui, uma pausa para contar uma história minha. Quando minha filha nasceu, eu somente via a síndrome a frente. Era, para mim, uma tortura, pois não conseguia relaxar e ver, simplesmente, um bebê. Certa vez, conversando com outra mãe, ela me garantiu que, com o tempo, eu iria “acostumar” e não notaria mais as alterações da pequena Lorena.
Os meses foram se passando, contudo, e eu passei a me preocupar porque achei que a profecia desta mãe nunca que se concretizaria. Paralelo a isso, um grande atraso motor foi se manifestando e eu comecei a perder o rumo. Cada dia que se passava, ficava mais tensa e não conseguia relaxar e curtir o desenvolvimento, mesmo que alterado, da minha filha. Foi, então, que decidi procurar ajuda médica e realizar algumas sessões de terapia. Sim! Tem horas que precisamos gritar, clamar por ajuda. Não podemos sofrer a vida toda por um filho que nasceu deficiente.
Ao sentar e analisar a minha angústia, fui percebendo que nunca vou conseguir anular a presença da síndrome na pequena. E isso não é, em si, um sintoma ruim. Pelo contrário: percebi que o fato de vê-la com características incomuns a outras crianças me proporciona questionar, buscar respostas e melhorar seu desenvolvimento. Então, o que por um longo tempo foi sofrimento, agora eu encaro como “itens de melhoria”.
Retornando da pausa
Estou descrevendo essa história toda para dizer o que senti ao estar ao lado do Breno Viola. Ele é um rapaz de 32 anos, ativo, bom de papo, inteligente. Impossível não querer ficar horas conversando e trocando experiências. Confesso que no início comecei a reparar sua desenvoltura, vi suas características e torci para que minha filha crescesse como ele. Mas, com o decorrer do dia, as comparações foram se desaparecendo. O Breno, com toda sua sabedoria, me mostrou realmente que “ser diferente é normal”. E, com essa experiência maravilhosa de gravar um programa de TV ao lado dele, pude concretizar o que comecei a perceber nas sessões de terapia: somos quem podemos ser.
Obrigada Breno, quisera toda mãe passar uma tarde ao seu lado. Aprendizado eterno garantido.