Aviso de gatilho: o texto a seguir não é fofo e traz informações chocantes. E não se trata de um parágrafo “click bait”. Mas algo que somente nós, adultos, podemos resolver de verdade. Você percebeu a quantas cenas de violência, agressão ou abusividade você foi exposto no ano que passou?
Talvez você nem quisesse saber ou ver, mas a sua timeline de redes sociais e grupos de WhatsApp não te deixaram em paz. Para mim foi sufocante. Agora pare e pense comigo: nossos filhos estão diariamente expostos aos mesmos conteúdos. E isso afeta as emoções e as escolhas deles no agora e futuro.

Frases como “as cenas a seguir são fortes”, “conteúdo sensível” são alertas que continuam tanto na mídia regulada quanto nas redes sociais. Quando eu era criança, essas mensagens apareciam na tv, somadas a expressão de tristeza e contrição do apresentador do noticiário. Havia uma triagem, inclusive, pelos pais que tiravam os pequenos da sala nesses momentos.
Hoje o acesso direto e sem mediação real dificulta essa triagem e cuidado tão necessários. Parece que quando o aviso surge, a curiosidade fica mais aguçada. Se para os adultos, com juízo de valor desenvolvido sobre ficção e realidade, é difícil processar cenas assim, imagine para os nossos filhos.
O cérebro e coração deles estão sendo bombardeados com a mesma violência, agressividade e abusividade agonizantes. Resultado: temos colhido frutos dessa enxurrada de conteúdos nocivos, mais visivelmente dentro do ambiente escolar.
O ano de 2023 foi considerado o ano mais violento em ambientes escolares no Brasil. A frase “ataque violento às escolas” se tornou frequente nos noticiários. E isso é somente uma amostra muito triste dos efeitos dessa exposição. Crianças e adolescentes não foram poupados. Nem do acesso às notícias e imagens, nem de serem alvo. Precisamos nos atentar ao fato de que crianças e adolescentes estão crescendo superexpostos a conteúdos ficcionais e pouca exposição às experiências que humanizam.
Milhares de crianças estão em grupos nas redes sociais que são verdadeiras escolas de violência. Como se estivessem se preparando para um campeonato de games. Perguntas sobre “como atacar uma escola”, “como matar mais pessoas com menos munição”, “como superar Columbine” são frequentes em redes que congregam literalmente milhares de pessoas entre 9 e 18 anos.
Para 2024 fica o grande desafio: realmente nos empenharmos em poupar nossas crianças e adolescentes das coisas para as quais o cérebro deles não esteja preparado. Além de poupar, reduzir seus acessos a conteúdos danosos dentro e fora dos ambientes cibernéticos.
De modo algum negar acesso a games, redes sociais ou plataformas de vídeo seria aliená-los da realidade. O fato é que a realidade tem sido dura demais e, naturalmente, tem nos desumanizado. Por qual motivo entregaríamos aquilo que nos fere e entristece como “entretenimento” acessível para nossos filhos? Cuidar do coração. Assim, num futuro não muito distante, veremos mais beleza e menos tristeza.