Pra começar o ano com um foco ajustado, proponho aqui uma reflexão: o quanto temos sufocado nossos filhos? Antes de você ficar bravo comigo, te proponho olharmos ao nosso redor e elencar o quanto nos tornamos intolerantes com as “coisas de criança”. E minha proposta tem tudo a ver com o uso excessivo e não intencional de telas.
Logo que as aulas terminaram e as férias começaram, as crianças no meu prédio começaram a “brotar” dos apartamentos. E junto com a alegria e farra delas começaram a surgir as reclamações. Houve quem sugerisse que os pais mantivessem as crianças dentro dos apartamentos. Para não incomodar os demais. Houve uma mãe de pré-adolescentes (sim, você não leu errado) que se “gabou” do filho ficar somente em casa, brincando com videogame. Por consequência, o filho dela não incomoda ninguém.
E aí, alongando o nosso olhar para fora do meu prédio, olhamos ao nosso redor e vemos crianças nas telas, enquanto sentados nos restaurantes. A princípio, podemos pensar que os pais são “desinteressados”. Mas se formos mais a fundo, podemos concluir que esses pais estão cansados.
Além do cansaço natural do maternar também estão cansados de terem que se desculpar por terem filhos que, como qualquer criança, estão sendo educados a conviver de forma sadia em espaços públicos. Sem perceber sufocamos os sons e o livre respirar das nossas crianças.
Veja, apesar dos vários alertas das Sociedades de Pediatria no mundo sobre sedentarismo infantil, prejuízos no desenvolvimento neuropsicomotor por ausência de estímulo físico, redução na capacidade de pleno desenvolvimento pela redução do brincar livre, comprometimento emocional por baixa interação social, muitos adultos ainda saem na defesa de que criança “sob controle” é criança parada, quieta.
Aos poucos estamos sufocando crianças e adolescentes. Estamos adoecendo e neurotizando a vida deles em sociedade com a necessidade extrema e excessiva de controle. E toda essa neurose coletiva, que também sufoca pais e mães, vai produzir toda uma sociedade cada vez mais doente e entristecida.
O uso excessivo e não intencional de telas é o tempero amargo nesse processo. Vai desconstruindo a nossa capacidade de perceber vida ao nosso redor, nossa vontade de mais cores e sons e reduz nossa tolerância ao que não está sob nosso controle. Vai deixando o nosso mundo, interno e externo, triste e cinza demais.
E como sempre gosto de apontar minhas conversas aqui na direção da vida, do que é de bem, quero concluir a minha proposta assim: vamos permitir o direito das nossas crianças de “serem crianças, como crianças”? Daquelas que riem alto, discutem e já fazem as pazes, que chegam com ralados nos joelhos, que brinquem nos condomínios, ruas, praias ou parques, como crianças? Você topa? 2024, estamos prontos para curar nossas intolerâncias, respirarmos melhor e sermos mais felizes!