Você já parou um minutinho pra pensar quantas informações sobre a vida dos nossos filhos estão transitando nos ambientes dentro e fora da internet? E não estou falando somente dos filhos de celebridades ou pessoas públicas. Nos ambientes presenciais ainda havia algum controle e privacidade sobre esses dados. Mas agora com as assistentes baseadas em inteligência artificial, até os momentos inocentes do livre brincar das crianças acabam sendo base de dados para interação das plataformas e redes sociais.
Nossos filhos estão com seus dados pessoais depositados no ambiente cibernético sem que haja muito critério de quem coleta e faz uso disso (no jurisdiquês diz-se tratamento de dados). E por que isso deveria ser uma fonte de atenção e proteção para nós, pais? Bem, já não é de hoje que dados pessoais são usados para definir se somos confiáveis, capazes para uma vaga de trabalho, elegíveis para um empréstimo ou uma oportunidade de negócios. Até mesmo se somos vítimas potenciais de um golpe criminoso.
Um pouco diferente da nossa geração, nossos filhos já têm milhares de dados deles espalhados, definindo quem eles são desde agora. Ou pior, definindo o que eles serão a partir de uma projeção realizada por um algoritmo. Toda essa potência dos nossos dados pessoais em mãos alheias e desconhecidas vira uma arma contra o nosso bem-estar e a nossa dignidade.

Aqui no Brasil as leis caminham para buscar nos proteger desse universo tão vasto e tão desconhecido da maioria de nós. A proteção de dados pessoais agora é considerada direito fundamental com base na Constituição. Isso significa mais atenção na hora da criação de regras que busquem nos proteger como cidadãos. E claro, abre espaço para uma atuação mais severa do poder público em nossa defesa.
Mas principalmente sinaliza algo muito importante: que a proteção dos nossos dados pessoais, nossa dignidade e nosso futuro ficam ameaçados o tempo todo. E que é preciso cuidar desse bem e desse direito com muita atenção. Nós, pais, podemos ir além da força da lei e usar a nossa força cidadã. Como? Cobre da escola, do médico do seu filho, do plano de saúde, da portaria do prédio, essas duas simples informações: como eles protegem os dados pessoais das crianças? Se eles já se adequaram às exigências da nossa Lei Geral de Proteção de Dados.
Só cobrando e exigindo que qualquer um que use nossos dados os trate com dignidade e responsabilidade construiremos um caminho de respeito com a nossa e com as próximas gerações.