Gabriel viajou hoje pela quarta vez para um acampamento sem a família. Destemido ele, viu? Nunca hesitou em dormir na casa dos amigos, da vovó e de viajar sozinho. Mas toda vez que ele sai o meu coração aperta.
Mãe é bicho doido mesmo. Pede toda hora um minuto de paz. Mas, quando o filho vai passar três dias fora, fica doidinha de saudade. Essa sou eu. Toda carente e saudosa. Mas muito orgulhosa pela atitude corajosa dele.
Desde que recebemos o comunicado do acampamento, Gabriel falou que iria. Quando avisamos que avaliaríamos as possibilidades financeiras, ele disse que pagaria uma parte. Juntou um terço do valor da viagem, mesada por mesada, e pagou mesmo a quantia que cabia a ele.
Ao fazer a mala, separou sozinho as roupas, escolheu as mais velhas, seguiu as orientações da lista e as quantidades necessárias. Pediu para levar o secador de cabelo, porque a noite fará frio (a provisão é de oito graus) e ele não quer ficar com o cabelo molhado.
Meu filho está crescendo. Dono das próprias vontades, já sabe o que é certo ou errado, já faz as escolhas e entende as consequências dos seus atos. Ele me dá liberdade para ser mulher, para sair e correr ou para passar a manhã no cabeleireiro. Entende que eu preciso do meu momento, assim como ele às vezes precisa do dele. Ele me respeita.
E lá foi ele. De mala pronta, com o seu lanche de emergência na mochila, o remédio para enjoo no bolso e cheio de coragem e vontade para a sua viagem de três dias com os amigos.
Meu pai sempre me falou que a gente tem de criar os filhos para o mundo. E, quando o vejo assim, penso que estamos no caminho certo. Esse menino vai correr atrás dos próprios sonhos. E, por mais que eu sinta saudade, o orgulho de criar um filho que sabe o que quer é muito maior.
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