Queria voltar com as minhas colunas aqui na Pais&Filhos falando de coisas boas. Mas ontem eu tive uma notícia triste e resolvi mudar o tema da semana: a feira livre do nosso condomínio vai acabar. E o que isso tem a ver com a vida? Vou contar…
Moro num condomínio grande e, apesar de termos muita gente do bem, convivemos também com gente egoísta, que só olha para o próprio umbigo e que não sabe viver em comunidade. Muito se fala de rede sociais, das amizades virtuais e de engajamento. Mas cada dia que passa percebo que o que está em falta é o engajamento real, aquele de corpo e alma. Ficou mais fácil dar unfollow do que tentar estabelecer um diálogo, um discurso.
Tornou-se cômodo estabelecer amizades virtuais e conversas à distância –daquelas que a gente silencia quando não está dentro da nossa linha de raciocínio. Ficou mais fácil cada um se fechar em seu mundinho, mesmo quando vivemos e podemos conviver harmoniosamente com mais de 300 famílias, como no caso do meu condomínio (trezentas!).
Porque não é a feira pela feira, entende? Era aquela noite de quinta que as crianças desciam sozinhas para comer pastel e se aglomeravam em grupinhos, jogavam conversa fora e trocavam figurinhas. Era aquele momento que a gente encontrava o vizinho, entre um quilo de tomate e um pé de alface, e sabia da família, da programação do fim de semana ou do cachorro, o periquito e o papagaio. Era o programa de mãe e filha. Era aquele momento que dava vida ao condomínio. Dava.
Certa vez ouvimos que a feira empobrecia o nosso espaço. Ah!, que horror aquelas barracas e as Kombis paradas na porta do prédio. Depois reclamaram da qualidade, do preço (naturalmente mais caro que uma feira de rua) e da localização. Até que votaram pelo fim. Fim de feira, pessoal. Quando eu vejo atitudes assim dentro da nossa comunidade, volto a pensar no aumento das amizades virtuais e cada vez menos amizades reais. Já era o olho no olho, a convivência, as discussões e os desencontros de ideias. No mundo politicamente correto, se tá dando tilt, deleta. Socorro!
O fim da feira é, para mim, o fim de um conceito, de uma ideologia e de uma tentativa de interação e humanização dentro de um mesmo espaço físico. Uma pena perder isso. Até porque um like nunca vai substituir um abraço.
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