O minoxidil, um medicamento amplamente utilizado no combate à calvície, está no centro de uma polêmica na Europa, após ter sido identificado como responsável pelo crescimento anormal de pelos em bebês, condição conhecida como hipertricose. O uso do medicamento, especialmente por pais que aplicam o produto para tratar a calvície, tem gerado sérias preocupações sobre os efeitos colaterais inesperados que surgem em seus filhos pequenos. Esses bebês, principalmente em fase de amamentação, desenvolveram uma série de sintomas adversos, incluindo o aparecimento de pelos em várias partes do corpo, o que levou autoridades de saúde a revisar as recomendações sobre o produto.
A descoberta
A primeira evidência desse efeito foi observada em abril de 2023, quando um caso de hipertricose foi notificado em um lactente na Espanha. A criança começou a apresentar um crescimento progressivo de pelos nas costas, pernas e coxas, logo após o pai iniciar o uso de loção de minoxidil para tratar a alopecia androgênica (calvície masculina). De acordo com Gabriela Elizondo, chefe da seção de controle do Centro de Farmacovigilância de Navarra, o pai passou a utilizar a loção com 5% de minoxidil enquanto estava de licença para cuidar do filho. Ao ser interrompido o uso do medicamento, os sintomas na criança desapareceram rapidamente, o que levantou suspeitas sobre a relação entre a aplicação do minoxidil e o aparecimento da hipertricose.
Após investigar o caso, a equipe médica revisou registros no Sistema Espanhol de Farmacovigilância (FEDRA) e identificou outros seis casos suspeitos de bebês que também apresentaram sintomas semelhantes, possivelmente devido ao contato com o minoxidil. A análise foi estendida para a Eudravigilance, base de dados europeia, e o número de casos aumentou para 11. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) foi imediatamente notificada e, em outubro de 2023, a entidade concordou que a bula do minoxidil deveria ser atualizada para refletir o risco de efeitos adversos como a hipertricose.

O impacto da hipertricose nos bebês
Hipertricose é uma condição caracterizada pelo crescimento excessivo de pelos em áreas do corpo onde normalmente não se desenvolveriam. Pode ser dividida em dois tipos: a hipertricose adquirida, que pode ser provocada por fatores externos, como o uso de produtos químicos, e a hipertricose genética, que é hereditária. Quando causada por substâncias externas, a hipertricose pode afetar a distribuição dos pelos, que tendem a ser mais finos, e não está necessariamente associada a um excesso de hormônios masculinos, como ocorre no hirsutismo.
O uso inadvertido do minoxidil em bebês através do contato com a pele dos pais é uma forma de exposição que não havia sido claramente documentada até os recentes casos na Europa. A condição pode ter implicações emocionais e físicas, afetando a autoestima das crianças afetadas, embora, em muitos casos, o impacto no desenvolvimento físico seja limitado.
A resposta das autoridades de saúde
Em resposta à crescente preocupação sobre os efeitos do minoxidil em bebês, a EMA tomou a decisão de atualizar a bula do medicamento. A alteração inclui a informação sobre a possibilidade de hipertricose em crianças expostas ao produto por meio do contato com a pele dos pais. A medida visa garantir que os consumidores estejam cientes dos riscos e adotem precauções ao utilizar o medicamento, especialmente em ambientes onde bebês ou crianças pequenas possam ter contato com a substância.
A mudança na bula reflete uma mudança importante na regulação de produtos cosméticos e medicamentos de uso tópico, com foco na segurança dos usuários, incluindo os mais vulneráveis, como as crianças. Os especialistas alertam que o uso do minoxidil deve ser restrito a adultos e sempre com acompanhamento médico, além de ser fundamental evitar o contato com bebês e crianças pequenas durante o tratamento.

O preconceito histórico da hipertricose
A hipertricose, também conhecida como a “Síndrome do Lobisomem”, tem uma longa história de estigmatização. No passado, pessoas afetadas pela doença eram frequentemente tratadas como “monstros” ou “curiosidades” em circos e feiras. O caso mais famoso foi o de Petrus Gonsalvus, um homem espanhol nascido em 1537, que vivia com uma forma de hipertricose. Sua vida foi marcada por um grande preconceito, mas também se acredita que sua história tenha influenciado a criação do conto de fadas “A Bela e a Fera”.
Embora a hipertricose não cause danos físicos severos quando não está relacionada a um distúrbio hormonal, ela pode ter sérios efeitos emocionais. Crianças com a condição podem sofrer com a rejeição social, distúrbio da imagem corporal e baixa autoestima. Assim, o acompanhamento psicológico e apoio emocional são essenciais para ajudar esses pequenos a lidarem com as questões sociais e psicológicas que surgem com a condição.