Desde novembro, a República Democrática do Congo tem enfrentado um surto de uma doença misteriosa que já causou 406 casos e mais de 50 mortes confirmadas, conforme dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora ainda não se saiba a causa exata da doença, especialistas estão empenhados em identificar os fatores envolvidos e controlar sua disseminação. O surto tem atraído atenção internacional, especialmente por afetar um público vulnerável: crianças, especialmente as com menos de cinco anos.
A doença, que apareceu inicialmente na zona de saúde de Panzi, na província de Kwango, tem levantado preocupações sobre sua natureza e os riscos de uma propagação mais ampla. Neste contexto, a OMS está mobilizando uma equipe de especialistas para investigar a situação mais de perto e ajudar as autoridades de saúde locais a desenvolver uma resposta eficaz.
Onde os casos estão sendo registrados?
Os primeiros casos da doença misteriosa foram notificados em novembro de 2024, na zona de saúde de Panzi. O surto, que teve um pico significativo na semana epidemiológica 45 (entre 3 e 9 de novembro), continua a afetar diversas áreas dessa região. Até agora, foram identificados casos em nove das 30 áreas de saúde da zona de Panzi, incluindo localidades como Kahumbulu, Kambandambi e Tsakala Panzi. O maior número de notificações foi registrado em Tsakala Panzi, Makitapanzi e Kanzangi.
Quem são os mais vulneráveis?
A maioria dos casos de infecção é relatada entre crianças, representando 64,3% do total. Dentro desse grupo, a maior parte das infecções acomete crianças de 0 a 59 meses (53% dos casos), seguidas por crianças de 5 a 9 anos (7,4%) e de 10 a 14 anos (3,9%). Além disso, as mulheres também têm sido amplamente afetadas, constituindo 59,9% dos casos.
O impacto mais trágico se reflete nas mortes, com 71% das vítimas sendo menores de 15 anos. Entre as vítimas fatais, 54,8% são crianças com menos de cinco anos. No entanto, também foram registrados 145 casos entre adultos com 15 anos ou mais, dos quais 9 resultaram em óbitos.

Sintomas e diagnóstico: O que se sabe até agora?
Os sintomas da doença misteriosa incluem febre, tosse, fadiga e coriza. Nos casos mais graves, os pacientes apresentam dificuldade respiratória, sinais de anemia e desnutrição aguda. Essas manifestações clínicas, que se assemelham a várias outras doenças, dificultam a identificação imediata da causa.
Devido à semelhança com outras condições, testes laboratoriais estão sendo realizados para excluir doenças como sarampo, gripe, pneumonia, síndrome hemolítica-urêmica, malária e até Covid-19. A OMS está realizando uma série de exames para identificar qual agente patogênico está por trás dessa infecção, uma tarefa desafiadora diante da falta de um diagnóstico definitivo.
Taxa de letalidade: como a doença está afetando a população?
Com uma taxa de letalidade de 7,6%, o surto no Congo tem gerado grande preocupação. Até o momento, 406 casos foram registrados, com 31 mortes, o que torna a doença mais letal que muitas outras infecções comuns. Para contextualizar, durante o início da pandemia de Covid-19, a taxa de letalidade variava entre 0,8% e 11%, de acordo com pesquisadores da Universidade de Oxford, o que coloca essa nova doença em um espectro de risco significativo.
A OMS não está poupando esforços para identificar a causa da doença e controlar o surto. A organização enviou uma equipe de especialistas, incluindo epidemiologistas, clínicos e técnicos de laboratório, para a República Democrática do Congo. Essa equipe está apoiando as autoridades de saúde locais na investigação epidemiológica, coleta de amostras e reforço das atividades de vigilância da doença.
Além disso, a OMS está entregando medicamentos essenciais, kits de diagnóstico e materiais para coleta de amostras. As equipes estão trabalhando para investigar o modo de transmissão da doença, promover a conscientização pública sobre as medidas de prevenção e fornecer cuidados médicos adequados às vítimas.
Uma das principais ações em andamento é o desenvolvimento de mensagens informativas para alertar a população sobre o risco de contágio e as formas de proteção, como o uso de máscaras, lavagem das mãos e distanciamento social, entre outras medidas sanitárias.
O mundo está em alerta?
Embora a doença tenha se espalhado dentro da República Democrática do Congo, a OMS considera o risco de disseminação internacional como baixo no momento. No entanto, dada a proximidade da região afetada com a fronteira de Angola, a possibilidade de transmissão transfronteiriça preocupa as autoridades de saúde.
Além disso, a OMS está monitorando de perto as condições na zona afetada e reforçando a coordenação nas fronteiras para evitar que a doença se espalhe para outras regiões ou países. A vigilância contínua e a colaboração entre as nações serão cruciais para prevenir uma propagação em maior escala.










