Quando eu era criança, morava em uma cidade muito pequena, onde era muito comum que as mulheres cuidassem da casa e das crianças, enquanto seus maridos saíam para trabalhar. Como minha mãe era mãe solteira, ela não tinha essa opção. Eu ficava muito triste por minha mãe não participar das reuniões da escola, não assistir as apresentações do teatro, não me ajudar a fazer os deveres, sempre estar muito cansada para brincar comigo no fim de semana, enfim, de não estar presente na minha vida tanto quanto eu gostaria. Assim, decidi desde muito cedo que não teria filhos. Essa realidade não teria mais espaço na minha vida.
Muita coisa aconteceu. Engravidei no final da faculdade, no susto, casei e vim morar em São Paulo, longe da família, dos amigos e de tudo que me era conhecido. No início, pensei em trabalhar, mas conciliar trabalho, filha, marido, cidade (enorme) nova era muito difícil. Virei uma dona de casa feliz!
E a culpa? Ah! Ela existe! Além do fato de ter um diploma de fundo de gaveta, há o enorme problema do exemplo que você dá aos seus filhos. Eles querem ter alguém em quem se espelhar, a quem admirar. É como se passássemos uma imagem de inutilidade para eles, pois o nosso trabalho seria facilmente resolvido com a contratação de uma babá, um motorista e uma cozinheira.
Como passamos muito tempo com os filhos, temos que nos policiar para não sufocá-los com uma superproteção negativa. Acabamos por deixar que não façam nada sozinhos. A independência necessária vai sendo cada vai mais protelada.
Quanto tinha 4 anos, minha filha me perguntou por que só ela não voltava de transporte escolar para casa e eu expliquei. Mas ela só entendeu no dia que ela viu a mãe da amiguinha chorando porque não chegou do trabalho a tempo de assistir a apresentação da peça da filha.
Entre eu sentir falta de trabalhar ou meus filhos sentirem falta da minha presença, ainda fico com a primeira opção. Mas quem souber de um emprego de meio período, por favor, me avise!!