Na última quinta-feira, 24 de outubro, o mundo do boxe perdeu uma de suas figuras mais icônicas: Maguila, que faleceu aos 66 anos devido a complicações de uma doença neurodegenerativa chamada encefalopatia traumática crônica (ETC), popularmente conhecida como demência do pugilista. A notícia de sua morte chocou fãs e admiradores, que relembraram sua trajetória brilhante nos ringues e sua personalidade marcante fora deles.
O velório de Maguila aconteceu nesta sexta-feira, 25 de outubro, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Durante a cerimônia, seu filho mais velho, Adenilson Rodrigues, conhecido como Maguilinha, prestou uma emocionante homenagem à madrasta, Irani Pinheiro. Em seu discurso, Adenilson destacou o papel fundamental que Irani teve na vida e na carreira do pai, ressaltando a força e a dedicação que ela sempre demonstrou.
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“Essa mulher guerreira sempre esteve ao lado dele, sempre o fortaleceu. Mesmo quando meu pai queria desistir, ela era a voz que o incentivava a continuar, mesmo sabendo que ele era turrão e, às vezes, ignorante. Ela nunca o abandonou”, declarou Adenilson, visivelmente emocionado.
Adenilson não poupou críticas aos parentes que não compareceram ao velório. “Você vê que ela está aqui e muitos da família que falavam dela não estão. Aí a gente vê quem é quem. Ela sempre lutou por ele, até quando não podia lutar mais”, enfatizou.
Ao lado de Irani e de seu irmão Júnior, Adenilson continuou exaltando a importância da madrasta em suas vidas. “Ela viu coisas acontecerem que muita gente não sabe. Se não fosse essa mulher guerreira ao lado dele, ele não teria chegado onde chegou. Temos muito a agradecer a ela por tudo que fez por ele e por todos nós”, completou.
Maguila, cujo nome verdadeiro era Sebastião Rodrigues de Souza, deixou um legado inestimável no boxe brasileiro. Conhecido por seu estilo agressivo e carismático, ele conquistou o coração de muitos fãs ao longo de sua carreira. Infelizmente, as consequências de sua profissão vieram à tona com o diagnóstico da ETC, uma condição que afeta muitos ex-pugilistas devido aos impactos repetitivos sofridos durante as lutas.
Quem é Maguila?
Maguila nasceu em Aracaju, Sergipe, mas se mudou ainda jovem para São Paulo, onde começou a trabalhar na construção civil. Durante seu tempo livre, ele se dedicava ao boxe, muitas vezes usando pneus para treinar de maneira improvisada. Seu talento não passou despercebido, e logo atraiu a atenção do renomado jornalista e empresário Luciano do Valle, que passou a ser seu assessor e o apresentou ao famoso treinador norte-americano Angelo Dundee. Dundee, conhecido por treinar lendas como Muhammad Ali e Sugar Ray Leonard, ajudou Maguila a refinar suas habilidades e a se tornar uma força no ringue.
A alcunha “Maguila” surgiu de sua semelhança com o personagem de desenho animado Magilla Gorilla, da Hanna-Barbera, e rapidamente se tornou sinônimo de força e carisma no mundo do boxe. Ao longo de sua carreira, Maguila se destacou em um cartel impressionante de 85 lutas, conquistando 77 vitórias, sendo 61 delas por nocaute, além de ter registrado apenas sete derrotas e um empate.
Durante sua trajetória, Maguila não apenas se tornou campeão brasileiro, mas também conquistou títulos importantes como o Sul-Americano, Latino-Americano e o Mundial pela Federação Mundial de Boxe (WBF). Enfrentou grandes nomes do boxe mundial, como Evander Holyfield e George Foreman, em combates memoráveis que, apesar das derrotas, solidificaram sua reputação no cenário internacional.
Após encerrar sua carreira de lutador em 2000, Maguila tornou-se uma presença constante na televisão brasileira. Sua participação no programa “Aqui Agora”, do SBT, como comentarista, revelou um lado irônico e carismático que cativou o público. Além disso, ele fez parte do humorístico “Show do Tom”, onde sua personalidade divertida o destacou entre os outros convidados.
Além da carreira no boxe e na televisão, Maguila também aventurou-se na música, lançando um álbum de samba intitulado “Vida de Campeão” em 2009. Mesmo com seu sucesso em várias áreas, ele enfrentou dificuldades em sua vida pessoal. Em 2010, tentou uma carreira política ao se candidatar a deputado federal pelo PTN (atual Podemos), mas não obteve a quantidade necessária de votos para ser eleito.
A saúde de Maguila começou a deteriorar após um diagnóstico equivocado de Alzheimer em 2010, que foi posteriormente corrigido para encefalopatia traumática crônica. Esta condição trouxe grandes desafios, afetando sua memória e comportamento. O ex-pugilista passou os últimos anos em uma clínica de reabilitação em Itu, São Paulo, onde recebeu cuidados especializados.
A vida de Maguila também foi marcada por tragédias pessoais. Em 2006, ele sofreu a perda de seu irmão, Gilson Rodrigues dos Santos, que foi assassinado durante um assalto. Gilson, que trabalhava como segurança, foi surpreendido por assaltantes e acabou falecendo após ser baleado. Esta perda profunda deixou uma marca indelével na vida de Maguila, que sempre teve uma forte conexão com sua família.
