A história de Jéssica e Flávio, conhecido como Tenente Gonçalves, comoveu o Brasil. Logo que a notícia chegou até a Pais&Filhos, decidimos entrar em contato com a família e amigos para tentar transmitir pelo menos um pouco da dor que eles estão sentindo.
Aos 30 anos, a enfermeira faleceu de um AVC na porta da igreja, minutos antes de subir ao altar. Jéssica estava grávida de 7 meses e precisou ser levada às pressas ao hospital para fazer uma cesárea de emergência. Sophia, filha do casal, nasceu prematura e está na UTI neonatal da maternidade Pro Matre de São Paulo. De acordo com a família, a criança está bem.
Em entrevista exclusiva, Flávio contou como ele e a noiva se conheceram e relembrou a descoberta da gestação. “Eu conheci a Jéssica no colégio, a gente estudou na mesma escola. Sempre gostei dela, mas ela não dava bola para mim. Então a vida seguiu e a gente se reencontrou na rua, trocamos contato para marcar um cinema, mas ela voltou a namorar”.
“Depois de um tempo a gente se encontrou de novo, começamos aquele relacionamento e assim passaram 7 anos juntos. 7 anos de muita alegria e harmonia. Mas este ano foi um divisor de águas. Além de eu ter uma boa fase na carreira, decidimos nos casar ainda este ano”.
“A gente queria marcar o casamento para o dia 15 de novembro, Proclamação da República. Começamos a nos organizar. Fizemos os preparativos e tudo mais. Foi quando veio a notícia de que a Jéssica estava grávida e precisamos adiantar as coisas”. O tenente explica que engravidar agora não estava nos planos do casal, mas que a família foi à loucura com a notícia.
“Foi uma grande emoção. Ela tinha um irmão mais velho, que também tem uma filha (nossa afilhada), mas Jéssica era a caçula da família e ainda morava com os pais. Tinha todo um xodó em cima dela”. O casal ainda enfrentou uma barra, surgiu um alarme falso de câncer.
A preocupação acabou quando os exames confirmaram que a enfermeira estava saudável. “Ela não fumava, fazia musculação, era enfermeira, se cuidava super”.
A gestação
Algumas semanas depois, ele e a Jéssica descobriram que a Sophia não estava se desenvolvendo como o esperado. “Minha noiva começou a ficar muito preocupada, tanto que na sexta-feira, 13 de setembro, eu passei o dia correndo atrás de remédios. A médica tinha dito que a Jéssica estava com alteração na tireoide. No dia do casamento, ela passou mal”. O pai da Sophia contou que a noiva chegou a ser internada naquele mesmo dia pela manhã, mas logo se recuperou.
O casamento
Por volta das 14h, Jéssica foi para o salão. Se encontrou com a família para ter o dia tão sonhado de noiva. “Ela estava superfeliz. E eu queria fazer uma surpresa. Queria chegar na igreja em um caminhão de bombeiros. Sou policial, mas já fui bombeiro por anos”, conta Flávio sobre os planos do casamento.
O caminhão não deu certo, mas isso não ia impedir o grande dia do casal. “Cheguei na igreja e depois que a limusine da Jéssica estacionou, percebi que ela não saia. Eu comecei a ficar preocupado, todo mundo falando que ela não tava legal. Foi então que a prima dela me chamou e contou que ela estava desmaiada”.
“Aí começou o desespero, eu já estava entrando com a mãe dela e saí correndo até o carro que a gente tinha alugado. Começamos com os primeiros atendimentos, checando o batimento cardíaco e a respiração. Ela ainda estava consciente. Estava de olhos fechados, mas falava comigo”.
O tenente disse que Jéssica dizia: “Amor, eu to aqui, eu to aqui. Mas tá doendo muito. Tá doendo a nuca e a barriga“. Flávio disse que ela parecia muito pálida e fraca. “Foi um momento difícil”. Ele acionou os amigos bombeiros e o socorro se deslocou para igreja.
“Eu pedi para chegar na igreja em um carro de bombeiro, mas eu saí de lá em um. Indo para o hospital”, desabafou emocionado. Antes de chegar na maternidade Pro-Matre, eles passaram em um hospital que não tinha estruturas para cuidar do caso.
No hospital
Flávio contou que assim que chegaram na maternidade, Jéssica foi levada para a emergência e ele encaminhado para uma sala especial, onde viu a filha pela primeira vez. “As enfermeiras foram carimbar o pé dela no meu braço. Me contaram que aquela era a Sophia. Mas não me falavam da minha noiva”.
“Começou outro sofrimento, era um entra e sai de médicos. Até que me disseram que o útero e o fígado estavam sangrando e era preciso retirar o útero. Foi tudo muito rápido. Depois eles voltaram e disseram que a cirurgia tinha sido um sucesso, mas que a Jéssica estava sem atividade cerebral”.
Eles ainda tiveram que se deslocar para outro hospital e ver se realmente havia acontecido a morte cerebral. Infelizmente a confirmação foi feita e eles então voltaram para a maternidade. De volta, o tenente teve contato com os valores dos procedimentos e da internação.
Flávio não sabia de onde ia tirar tudo aquilo, ele e noiva tinham feito empréstimos para pagar as coisas do casamento. Ele então se lembrou dos amigos e usou as redes sociais para falar o que tinha acontecido para pedir ajuda.
“Foi nessa hora que eu mandei uma mensagem. Uma mensagem só. Para a minha família e meus amigos. Coloquei no status do aplicativo de mensagem. Essa mensagem foi compartilhada e chegou nessas proporções de agora. Uma ajuda absurda de tudo que é tipo de mensagem e de gente”.
“Isso foi me dando forças, mas também uma angústia porque ela estava com morte cerebral, mas eu sentia ela ainda quentinha. Então começou uma corrente de oração de amigos, pastores, todo mundo esperando por um milagre”.
Gratidão
Encerrando a conversa, o tenente Gonçalves abre o coração e relembra a importância da rede de apoio: “São nessas horas que a gente vê como é essencial ter o apoio da família e dos amigos”.
E o tempo todo ele reforçou o quanto a Jéssica tinha sido forte. “Ela foi uma mãe-heroína, o tempo todo batalhou e deu a vida pela Sophia. A Sophia que é um ser de luz”. Flávio ainda contou que Jéssica tinha comentado sobre a doação de órgãos, então eles resolveram ajudar outras pessoas e autorizar o procedimento.
O tenente ainda disse que vai fazer tudo como a noiva queria, tudo mesmo. Da escolha do nome até o chá de bebê. Sobre o apoio que vem recebendo, ele comentou que não tem como mensurar todo o carinho que estão recebendo. Flávio comentou ter recebido mensagens de políticos, famosos, jogadores e principalmente dos companheiros de farda, quem ele chama de família Polícia Militar.
“É isso que nos faz seguir, mas todas as manhãs são difíceis. Você acorda e vê que é real. Estamos com campanha de doação de sangue, estamos numa corrente de ajuda muito grande e é isso que importa. Eu nem tenho como mensurar o que tem acontecido comigo”.
“A Jéssica era um ser de luz, com todas as qualidades do mundo. Vou falar, é como naqueles filmes tristes, você chora com a história, mas depois sai bebe uma água e fica tudo bem. Mas é puramente real e está acontecendo comigo”.
“Mas eu queria mais uma vez agradecer todo mundo, não é o dinheiro da Vakinha que está me deixando feliz, é o carinho, é o apoio. Um abraço apertado para todo mundo, que a gente possa ter um mundo melhor”.
A Pais&Filhos deseja toda força do mundo para Flávio e sua família. Reforçamos, mais uma vez, que juntos tudo é possível e o que cabe a nós agora é unir forças para dar qualquer tipo de apoio.
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