A vida de duas famílias em Alagoas foi transformada de forma irreversível após a descoberta de que seus filhos gêmeos haviam sido trocados na maternidade. O caso veio à tona quando Débora, moradora de São Sebastião, teve um choque ao ver um vídeo de uma criança de dois anos na escola. Ao investigar, ela descobriu que o menino da filmagem, Bernardo, era idêntico ao seu próprio filho, Gabriel. Essa revelação levou a uma série de eventos que desafiaram a compreensão das duas famílias, resultando em uma ação judicial e uma investigação policial.
A história de Débora e Suelson, agricultores da cidade alagoana de São Sebastião, começou a mudar com a chegada de seus filhos gêmeos, Guilherme e Gabriel. Durante a gravidez, Débora enfrentou complicações de saúde, desenvolvendo pressão alta no oitavo mês e sendo encaminhada para um hospital maior em Arapiraca, onde os bebês nasceram prematuros em 21 de fevereiro de 2022. Para ganhar peso, eles precisaram passar um tempo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Eu até pensei que iria todos os dias para amamentar, mas não fui. O pediatra me ligava e passava o relatório de como eles estavam”, relembra Débora, em entrevista ao Fantástico, que enfrentou o dilema de não poder visitar os filhos devido aos protocolos do hospital em meio à pandemia de COVID-19. O hospital, em nota oficial, justificou a restrição de visitas como uma medida para proteger a saúde dos recém-nascidos e de outros pacientes.
![](https://paisefilhos.com.br/wp-content/uploads/2024/11/bebes-gemeos.jpg)
Após três semanas, em 12 de março de 2022, os bebês foram liberados e Débora, embora tivesse a expectativa de que seus filhos fossem gêmeos bivitelinos, nunca recebeu a confirmação definitiva sobre a identidade deles. O obstetra responsável pelo pré-natal e o parto nunca informou se as crianças eram idênticas. No entanto, isso mudou quando Débora e Maria Aparecida, mãe de Bernardo, descobriram a troca.
A história começou a tomar outro rumo quando, aos dois anos, o filho de Maria Aparecida, Bernardo, entrou na creche. Uma amiga de Débora, ao ver um vídeo de Bernardo, percebeu a semelhança impressionante entre ele e Gabriel. Surpresa, Débora publicou nas redes sociais um vídeo emocionado, dizendo: “Eu fiquei tão atordoada. Postei um vídeo, o vídeo dele na creche rezando e postei um vídeo chorando: ‘Vocês me perguntando se esse menino é o Gabriel, mas não é o Gabriel. Estou emocionada porque o menino é idêntico ao Gabriel”.
A coincidência se confirmou após um encontro entre as duas mães. Maria Aparecida também havia vivido uma gestação tranquila até o oitavo mês, quando deu à luz Bernardo, que também passou pela UTI, no mesmo hospital e com a mesma necessidade de ganhar peso. Após a visita de Débora à casa de Maria Aparecida, as duas mães concordaram em fazer exames de DNA para esclarecer a situação. O resultado foi devastador: o DNA de Bernardo era compatível com o de Débora e Suelson, confirmando que ele era irmão de Gabriel, enquanto Guilherme, filho de Débora, compartilhava o DNA com Maria Aparecida.
“Esses meses estão sendo, tipo, que meu mundo caiu”, desabafou Débora, tentando entender o que havia acontecido. O choque foi imenso para ambas as famílias, que agora enfrentam a realidade de que seus filhos biológicos foram trocados na maternidade.
Diante dessa descoberta, foi instaurado um inquérito policial para apurar as circunstâncias da troca. O hospital Regional Nossa Senhora do Bom Conselho, onde os partos ocorreram, se manifestou oficialmente, informando que está colaborando com as autoridades para esclarecer o ocorrido.
A advogada de Débora aponta que exames feitos durante o pré-natal já indicavam que os gêmeos eram idênticos, mas essa informação não foi repassada pela equipe médica. Em razão disso, a família de Débora entrou com uma ação contra o obstetra responsável pelo pré-natal e parto. O profissional, no entanto, se recusou a comentar o caso.
Enquanto isso, a situação legal das crianças ainda está em aberto. Débora busca na justiça a guarda de Bernardo, o gêmeo biológico, e deseja manter a guarda de Guilherme, que tem sérios problemas de saúde. Já Maria Aparecida, que está representada pela Defensoria Pública, deseja continuar com Bernardo, mas também deseja uma convivência próxima com Guilherme, a fim de manter o vínculo com o filho biológico.
A Defensoria Pública, que representa Maria Aparecida, defende que as mães devem manter os filhos que saíram com elas da maternidade, mas com o direito de manter uma relação com os filhos biológicos. “A convivência e o bem-estar das crianças devem ser priorizados, e as famílias devem buscar soluções que não prejudique os laços afetivos”, afirmou a defensora pública.