O palhaço Ronald McDonald sorria e abraçava as pessoas para os flashs, que eram muitos. Todos se transformam em crianças ao deparar com a personagem, inclusive os engravatados da noite que comemora os 25 anos do Mc Dia Feliz. De um lado, o palhaço; do outro, o sorridente – e não menos disputado – Francisco Neves, superintendente do Mc Dia Feliz e do Instituto Ronald McDonald, voltada para o tratamento e acolhimento de crianças e adolescentes com câncer.
A história de Francisco Neves, mais conhecida como “Chico” é inspiradora. Ele, pai de dois filhos, “um do céu e outro da Terra”, como afirma, Carlos e Marcos, respectivamente, luta há 25 anos pela causa das crianças. Foi Francisco Neves quem teve a ideia de trazer as Casas do Ronald McDonald para o Brasil quando, infelizmente, perdeu seu próprio filho para a doença. Marcos era criança e, “carequinha” (como Chico lembra carinhosamente), lutou contra o câncer em uma casa Ronald em Nova York.
Há 25 anos, o câncer matava muito. No Brasil, ainda é a doença que mais mata crianças e jovens entre 5 e 19 anos, mas a melhora do tratamento e o avanço da tecnologia permitiram que as chances aumentassem de 15% (há 25 anos era a média de cura) para 65% a 85%, hoje.
Francisco e sua esposa, Sônia, decidiram transformar perda e dor em sorrisos e esperança. Hoje, ele comemora vitórias – muitas vezes invisíveis para a sociedade em geral-, mas tão importante para as milhares de famílias que se beneficiam com o Instituto Ronald McDonald, que comemora 15 anos em 2014. “Me sinto emocionado e muito contente de poder comemorar tantos anos do Mc Dia Feliz e de tudo o que está por trás desse dia. Se o mundo parasse hoje, poderia dizer, com toda a firmeza, que nós fizemos tudo o que poderíamos para ajudar crianças, adolescentes e essas mães, essas famílias que sofrem junto”, contou Francisco Neves.
“A dor que nos uniu, só Deus separa”
Por ano, o Instituto apoia cerca de 30 mil crianças e jovens com câncer e, com as casas Ronald, as mães recebem o conforto que necessitam para cuidar dos seus filhos. As casas estão em algumas cidades do Brasil; em São Paulo, a gente encontra famílias de todos os lugares do país, como a Roberta Freitas, que veio de Canindé, no Ceará, há 9 anos, com seu filho Lucas Emanoel, de 13 anos. Eles lutam contra um tumor cerebral e, dia a dia, criam esperanças e forças juntamente com as outras famílias hospedadas na casa. “Nós somos muito unidos. Nós, mães, aprendemos a ter uma convivência forte, aprendemos a nos amar e a amar os filhos das outras como se fossem nossos. A gente só consegue superar essa dor, que é enorme, porque dividimos tristezas, alegrias, dúvidas… É uma casa fora de casa. Eu costumo dizer que essa dor nos uniu e só Deus nos separará”, desabafa Roberta.
Ao seu lado, outra mãe, Lana Figueiredo, ouve atenta e concorda com a cabeça a tudo que Roberta conta. Ela veio do Amazonas com a filha Sara, de 8 anos. Lana está na casa há um ano e lembra que todas dividem os serviços domésticos, além das dores e do amor fraternal. “A gente faz crochê, tricô, costura… Como a Roberta falou, somos irmãs. Irmãs de coração. Somos mais chegadas que muita gente de família, de sangue”, afirma Lana.
Nas casas, as mães moram juntas, com uma suíte para cada – para dividir com seus filhos. Fazem os trabalhos domésticos e, quando uma mãe está com o filho muito mal, elas cuidam da parte desta com carinho e empatia.
A maior campanha para crianças com câncer no Brasil
Tudo começou bem devagar. Em 1988, quando teve o primeiro Mc Dia Feliz, foram arrecadados cerca de mil dólares. Os anos foram passando e, com eles, a sociedade brasileira abraçou a causa. O ano passado, 2012, o Mc Dia Feliz teve seu recorde de vendas – algo em torno de 18 milhões de reais em todos os 700 restaurantes do país – tornando-se, assim, a maior campanha em prol de crianças e jovens com câncer no Brasil.
Este ano, o Mc Dia Feliz será em 31 de agosto e os responsáveis pelo evento lançaram um desafio na noite de comemoração: querem bater outro recorde e vender mais de 2 milhões de sanduíches em um só dia.
Nos 25 anos, o Mc Dia Feliz vendeu 23 milhões de Big Mac, número que ajuda as famílias como de Roberta e Lucas Emanoel e Lana e Sara.
Entre as várias homenagens realizadas na noite, que teve como mestres de cerimônia Cris Flores e Celso Zucatelli, um dos homenageados disse que “o pessimismo da razão nunca vai vencer o otimismo da vontade”.
A frase resume e descreve o objetivo da campanha – e o trabalho dos milhares de funcionários dos restaurantes, dos milhares de voluntários em todo o país, dos mais de 13 mil médicos treinados no Instituto, das mais de 100 instituições parceiras do Mc Dia Feliz e, claro, das mais de 30 mil crianças e famílias que passam por ano pelas casas. Uma luta diária que, como disse Chico, um dia não existirá mais, se Deus quiser.