A saúde pública brasileira está prestes a comemorar um feito histórico. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil está muito perto de receber uma certificação inédita da Organização Mundial da Saúde (OMS): a de país livre da transmissão vertical do HIV, aquela que pode acontecer da gestante para o bebê durante a gravidez, o parto ou a amamentação.
Esse reconhecimento não é qualquer selo simbólico: ele mostra que o país atingiu padrões técnicos rigorosos estabelecidos pela OMS. Em 2023, a taxa de transmissão vertical do HIV ficou abaixo de 2% e a incidência da doença em crianças foi inferior a 0,5 caso por mil nascidos vivos. Ou seja, os dados mostram que proteger os bebês contra o HIV deixou de ser apenas uma meta, virou uma realidade possível e concreta.
Como o Brasil conseguiu chegar tão longe?
Esse avanço não aconteceu da noite para o dia. Ele é resultado de uma soma de esforços entre políticas públicas bem aplicadas, acesso facilitado ao diagnóstico e tratamento precoce, e um cuidado mais atento nos serviços de saúde, especialmente durante o pré-natal e nas maternidades.
“A redução da transmissão vertical do HIV no Brasil é resultado direto da consolidação de políticas públicas eficazes, como a ampliação da testagem de triagem nas maternidades, a padronização do protocolo intraparto e o início oportuno da profilaxia em recém-nascidos. Esses avanços mostram que quando o cuidado perinatal é estruturado com base em evidências e acesso, a prevenção se torna realidade. É uma vitória da ciência, do SUS e de todas as pessoas que lutam por uma saúde pública mais equânime”, explica o infectologista Dr. Klinger Soares Faíco Filho, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Testagem, tratamento e cuidado especializado fizeram a diferença
Um dos pontos mais importantes foi a adoção de medidas práticas dentro das unidades de saúde. Entre elas estão a testagem universal nas maternidades, o uso de antirretrovirais durante o parto, a profilaxia imediata nos recém-nascidos e o acompanhamento especializado de gestantes com HIV.

O médico reforça que esse conjunto de ações estruturadas com base em evidências científicas foi essencial: “Reduzir a transmissão vertical do HIV a níveis tão baixos é uma conquista histórica da saúde pública brasileira. Isso mostra que quando há investimento contínuo, acesso universal e atuação integrada entre os profissionais de saúde, é possível proteger mães e bebês com dignidade e ciência. Um marco que deve ser celebrado, e mantido”, completa Dr. Klinger.
O papel da PrEP e do pré-natal fortalecido
Além disso, o Brasil também tem investido pesado em prevenção. Um dos destaques é a profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP), uma estratégia em que pessoas em situação de maior vulnerabilidade tomam medicamentos diariamente para evitar a infecção. Só em 2023, o país bateu recorde com 185,6 mil usuários de PrEP.
O acompanhamento pré-natal também ganhou reforço. Com mais acesso à informação e testagens, as gestantes com HIV passaram a receber o cuidado certo, na hora certa. Tudo isso colaborou para que o número de mortes por AIDS no país caísse para 3,9 por 100 mil habitantes, a menor taxa desde 2013.
Um reconhecimento que pode chegar em 2025
A documentação com todos esses dados já foi entregue à OMS, e a expectativa é que o Brasil receba a certificação oficial ainda em 2025. Caso isso aconteça, o país entrará para um grupo seleto de nações que conseguiram eliminar a transmissão vertical do HIV como problema de saúde pública.
Mais do que um reconhecimento internacional, esse marco mostra o que pode acontecer quando ciência, políticas públicas e humanidade andam de mãos dadas. É um lembrete poderoso de que cuidar da saúde das próximas gerações é uma missão coletiva, e possível.