A cada temporada de premiação, as discussões sobre a transparência e imparcialidade do processo de votação do Oscar ganham força. Em 2025, os relatos revelados por membros da Academia, que tradicionalmente compartilham suas escolhas com veículos como Gold Derby, Variety e Entertainment Weekly, mostraram que alguns votantes nem sempre assistem a todos os filmes indicados, o que tem gerado um grande desconforto entre os fãs de cinema. A indignação é ainda maior quando os próprios votantes demonstram desinteresse em conhecer as obras, muitas vezes decidindo seus votos com base em critérios duvidosos ou até mesmo em informações superficiais.
A surpresa maior neste ano ficou por conta do filme brasileiro Ainda Estou Aqui, que sequer foi visto por parte dos votantes. Apesar de ser uma produção que carrega uma forte carga emocional e temática, alguns membros da Academia afirmaram nunca ter assistido à obra, o que pode comprometer sua chance de ser reconhecida como favorita na categoria de Melhor Filme Internacional. Uma das entrevistas revelou que “ainda não assisti a Ainda Estou Aqui” e, apesar de seu potencial, o filme não figura entre os cinco favoritos de muitos votantes para a vitória.
Em entrevista à Variety, 84 membros da Academia revelaram que Ainda Estou Aqui não estava entre suas escolhas para Melhor Filme Internacional. Além do filme brasileiro, outros longas de grande destaque também parecem não ter sido devidamente avaliados por alguns membros. Em uma declaração exclusiva ao Gold Derby, um dos votantes confessou: “Eu nem consegui terminar o primeiro e não estou com tempo para aguentar mais 3 horas de Duna: Parte 2″.
A declaração ilustra um dos maiores problemas do processo: o tempo dedicado à avaliação dos filmes. A obrigação de assistir a todas as produções indicadas parece estar longe de ser uma prioridade para muitos votantes, que acabam tomando decisões baseadas em fragmentos de informações ou simplesmente ignoram certos filmes.
Em um movimento quase irônico, o cineasta brasileiro Daniel Rezende, que vota na Academia desde sua indicação por Cidade de Deus em 2004, revelou que muitos membros da Academia confiam até mesmo na opinião de seus netos para escolher o vencedor da categoria Melhor Animação. “É muito comum que se baseiem na opinião dos netos”, comentou Rezende em tom de brincadeira.
Além da falta de atenção aos filmes indicados, outro fator que tem gerado críticas é a prática de alguns membros da Academia de escolher premiados com base em uma visão mais ampla do futuro da franquia. Um exemplo disso foi a expectativa em relação à sequência do filme Wicked, que, por questões de continuidade da saga, pode acabar recebendo votos por uma suposta “premiação como um todo”, tal como ocorreu com O Senhor dos Anéis. Este tipo de abordagem acaba por distorcer os méritos individuais das obras, fazendo com que a avaliação de um filme seja condicionada à promessa de uma sequência ou ao sucesso da franquia como um todo.
A atitude de esperar o segundo filme para “premiar a franquia como um todo” não é algo isolado, mas está longe de ser uma prática justa ou que reflita uma análise profunda de cada produção. Isso levanta sérias questões sobre como as decisões de premiação estão sendo feitas e se a meritocracia está, de fato, sendo respeitada no processo.
As declarações anônimas de membros da Academia geraram um clamor nas redes sociais, com fãs do cinema e críticos questionando o comprometimento de muitos votantes com a premiação mais importante da indústria. “Se for assim, era melhor deixar a gente votar”, escreveu uma internauta indignada no X (anteriormente conhecido como Twitter). Muitos defensores da arte cinematográfica apontam que a falta de dedicação e a falta de rigor nos critérios de escolha acabam prejudicando a integridade do Oscar.
O processo de votação do Oscar, que envolve mais de 9 mil membros da Academia, deveria ser baseado no conhecimento profundo das obras indicadas. No entanto, a cada ano, novas revelações sobre as escolhas questionáveis dos votantes colocam em xeque a credibilidade da premiação, fazendo com que os espectadores se sintam distantes de uma cerimônia que deveria, idealmente, celebrar o melhor da sétima arte.