Nós, do PAISdemia, percebemos que a pandemia nos obrigou a desenvolver novos hábitos e a absorver mudanças em nossos espaços e em nossas formas de viver. Tem sido uma reviravolta nos hábitos, nos costumes, nas posturas, nas condutas e nas necessidades de juntar vida doméstica e trabalho.
Levantamos algumas questões: Como está sendo a reorganização da vida em casa, com a presença de todos: marido/esposa, filhos, necessidades de trabalho e vida doméstica? E o convívio intenso, que efeitos gerou em você e sua família? Como foi a adaptação do trabalho em casa com a presença de todos, a organização dos espaços, dos tempos, trabalhar e conciliar com a experiência doméstica? Como está a vida nesse momento da retomada?
Como se pode ver, a seguir, as respostas que obtivemos são um vivo exemplo da intensidade dos efeitos gerados pela pandemia na vida dessas pessoas e nas formas de organização que encontraram. Elas também falam das dificuldades que enfrentaram e dos arranjos e alternativas que construíram para viabilizar a vida e o trabalho em casa. Além disso, e principalmente, falam de como ocorreram efeitos na aprendizagem sobre si mesmas e de como se solidificaram os vínculos afetivos.
Kelly Souza, pedagoga, influenciadora-criadora de conteúdo digital, casada com o Willian, programador de TI. Mãe do Cê, 10 anos e da Cé, 6 anos. Moram em Presidente Epitácio-SP – e relatou: “Fui estudar pedagogia para ser professora e também ajudar a ensinar os meus filhos, isso foi antes da pandemia, parecia que eu estava prevendo que alguma coisa iria acontecer e eu ia precisar dar conta disso. Só que quando fui estudar mais a fundo sobre educação, me deparei com um universo. Sabe, eu acho que todo pai, toda mãe, deveria passar um dia inteiro por mês na Escola de seu filho(a), assim teriam a noção do que é ser professor. Aprendi muitas coisas durante a minha formação, entre elas, a refinar a minha escrita, escrevo com o coração, expresso nos meus conteúdos o que sinto e percebo que as minhas palavras transmitem muitas coisas para as pessoas.”
“Quando veio a pandemia, meu marido e eu achamos que logo iria passar e que as crianças não iriam deixar de frequentar as escolas. Só que não foi assim!”
“Precisamos rapidamente nos reorganizar, ficamos totalmente perdidos, nos damos conta que não teríamos mais a mesma disponibilidade que tínhamos para os nossos trabalhos. Decidimos focar na reorganização da nossa rotina e na educação dos nossos filhos; então montamos um esquema entre nós. Combinamos que eu ficaria com as crianças no turno da manhã e o meu marido durante a tarde e também parte da noite, pois eu tinha aulas da faculdade online todas as noites. Foi uma loucura!”
“Me vi de uma hora para outra administrando os afazeres da casa, a Escola remota, mais os meus estudos – e TODOS em casa”
“Lembro de uma noite, em uma das minhas aulas online, quando a professora nos falou que gostaria que não desligássemos a câmera e que precisávamos ficar olhando para ela. Nesse momento, eu pensei: como vou fazer isso com duas crianças pequenas em casa? E veja só, nessa mesma noite, minha filha, que tinha 4 anos, ganhou uma moeda de 0,25 centavos e veio me mostrar. Imagina a cena: estava eu administrando a professora me demandando olho no olho e com outro olho na minha filha, que de um segundo para o outro colocou a moeda na boca e… Engoliu… Pensa o meu pânico… A minha filha engasgada e eu apavorada! Graças a Deus eu consegui prestar rapidamente os primeiros socorros e ela cuspiu a tal moeda. UFA!… E, a partir desse episódio, me dei conta de que eu não conseguiria dar conta de tudo, passei a me questionar e fiz novas combinações comigo, com as minhas professoras, com meu marido e com as crianças.”
“Afinal, as coisas não eram mais do mesmo jeito e eu faria do jeito possível, adaptado ao momento que estávamos vivendo”
“Percebo que o fato de termos ficado um longo período em casa entre nós melhorou a compreensão da rotina para os meus filhos: eles entenderam e a seguem melhor, como os horários de comer, de fazer as tarefas e de estudar. Respeitam quando estamos fazendo reuniões online e procuram não interromper: sinto que eles se apropriaram mais das responsabilidades deles. Inclusive, nesse momento que estamos conversando, minha filha Cé chegou da Escola, se deu conta que estou numa reunião online e não veio interromper. Sobre a retomada, no início, tive medo e fui voto vencido dos filhos retornarem presencialmente para a Escola. Eles pediam muito para voltar, pois não aguentavam mais ficar em casa. Para mim, como mãe, não como professora, foi assustador. Eu tinha receio de que eles, ao retornarem depois desse longo período em casa, ficassem mais doentes, mais vulneráveis. Foi difícil, mas enfrentei e as coisas estão andando bem: os vejo contentes do retorno, do convívio com os colegas e amigos. Sabe, eu amadureci na marra e digo que isso é culpa, no bom sentido, dos meus filhos. Quando o meu primeiro filho nasceu, há 10 anos, eu decidi que ele iria se orgulhar de mim. Já passei por muitos perrengues, mas encaro que eles serviram de escada para o meu amadurecimento e crescimento. Não é fácil, mas vale a pena!”
Vini Campos, 42 anos. Nasceu em São Paulo e mora há 17 anos em Buenos Aires. É ator, jornalista, escritor e pai. Casado com Edu, 48 anos, executivo de uma Multinacional. São pais do Pablo, 16 anos, do Alfredo, 18 anos e da Milagros, 19 anos, além da gata Lula. Edu e os filhos nasceram na Argentina. Vini observou: “Sobre o período em que ficamos todos em casa, nos damos conta que fomos privilegiados, pois moramos em um espaço amplo e cada um tem o seu quarto: então, essa privacidade foi mantida. Eles usaram MUITO os quartos. Às vezes, conversávamos o quanto isso nos preocupava e, então, propusemos a eles que subiríamos diariamente para o terraço do nosso apartamento para, juntos, fazermos alguma atividade física, nem que fossem apenas alguns abdominais. Para as tarefas domésticas, contávamos com a ajuda da nossa fiel escudeira, a Sílvia, mas, quando tudo parou, ela também ficou na casa dela e nós precisamos nos reorganizar na divisão das tarefas. Então, o Edu ficou encarregado da comida, eu de lavar a louça, as roupas e os banheiros – e os filhos se ocupariam dos seus quartos e da nova rotina escolar, como as aulas online, as tarefas e os estudos”.
“Na Argentina, durante o período em que as Escolas ficaram fechadas, foi decretado que não haveria reprovação escolar, o que de certo ponto foi ruim, pois sabendo disso, ficou mais difícil a dedicação com os estudos. Eu via nos nossos filhos uma tristeza, compreensível, afinal, perderam dois anos de contato com os amigos, as turmas, os primeiros beijos, as festas”.
“Para você ter uma ideia, meu filho Pablo foi na primeira festa de 15 anos com 16 anos”
“Nesse período de confinamento, eles jogaram muito vídeo game, interagiram com pessoas de outros países, inclusive o Brasil, pois também falam português. Pensando do ponto positivo da pandemia, onde ficamos todos em casa por um longo período, para a nossa família foi muito bom, pois quando adotamos nossos filhos, em 2015, o primeiro momento foi de nos apropriarmos e organizarmos a vida com eles, a logística, o operacional. Quando um bebê nasce, geralmente ele fica por um período longo em casa com os seus pais, mas nós não tivemos isso. Tínhamos algumas arestas nas nossas relações que, com o convívio intensificado, oportunizou que nos compreendêssemos mais e de maneira mais profunda, fortalecendo nossos vínculos, ficando mais claro o tempo e o jeito de cada um: uma maior intimidade, que só a fartura de tempo e convívio proporcionam”.
“Na pandemia, tivemos a possibilidade de ressignificar a relação com os nossos filhos”
“Obviamente que tivemos momentos muito difíceis: por exemplo, eu perdi meu tempo de escrever sozinho em casa, minha privacidade, minha liberdade. Nessas horas, eu pensava que estávamos numa guerra, que iria passar, que teria de encarar até que as coisas melhorassem. Neste momento, as coisas estão retomando, os filhos estão de volta para as Escolas, os amigos e o convívio social – e isso tem sido motivo de muita alegria e alívio. Sílvia, nossa fiel ajudante do lar, voltou e eu, quando não estou gravando, estou em casa escrevendo”.
“Às vezes me pego pensando como eu era antes da pandemia, me sinto em processo de recuperação do meu eu de antes da pandemia”
Raka Minelli, 37 anos, carioca, mora no Rio de Janeiro, influenciadora digital e designer, casada com o Daniel, mãe do Davi, de 7 anos, e do Joaquim, de 10 meses, falou: “Eu trabalho em casa desde antes da pandemia: como sou influenciadora digital, já produzia conteúdos, muitas vezes, de casa. Bem no início, eu não me assustei com a mudança da rotina em casa e o susto maior veio quando saí para comprar uma coisa na farmácia, lá no início do confinamento. e vi tudo fechado. Daí sim foi assustador. Em relação ao meu filho mais velho, o Davi, eu dividi os tempos com o pai dele, que trabalha de casa. No início do ano de 2020, o Davi trocou de Escola, frequentou apenas dois meses e todas instituições de ensino fecharam, foi um período bem complicado. Por mais que a Escola desse suporte, não tinha a presença, o contato com os colegas. Educar em casa é muito complicado, é difícil fazer o papel da professora – e foi um período bem desgastante”.
“O aspecto importante e positivo que eu vejo da pandemia é que eu me senti mais conectada comigo”
“Tínhamos mudado de casa, estávamos em obras e, estando mais tempo em casa, sem compromissos externos e horários, eu pude me dedicar mais para a casa, para a decoração. Foi um tempo em que eu me senti mais livre, estava mais tranquila e pude curtir tudo isso. Meu marido e eu pudemos nos reaproximar mais, resgatar coisas para quais não tínhamos mais tempo, como tomar café da manhã juntos todos os dias, cozinhar, ver séries e, quando o Davi estava em casa comigo, curtia conosco todos esses momentos também. Como moramos em um prédio bem pequeno, sempre que podíamos, levávamos ele no play para tomar sol e sair um pouco de dentro do apartamento. Profissionalmente, para mim foi um bom período, pois a Internet ‘bombou’ muito na pandemia – e eu produzi muito conteúdo, fazendo vídeos relacionados também a decoração”.
“Do ponto de vista das relações, da intimidade, na pandemia para nós foi melhor – e fruto disso foi o amadurecimento do desejo de um outro filho. No início de 2020 planejamos e, hoje, temos também o Joaquim, com 10 meses”
“Sobre os efeitos, tinha (e ainda tenho) uma ansiedade em relação ao desconhecido – além de medo das coisas nunca mais serem como eram. Eu pensava: será que vou voltar a fazer eventos presenciais? E também senti muita falta do contato físico, do olhar sem a máscara, dos abraços, pois, para mim, o contato físico faz toda a diferença”. Me paro pensando e parece que vivemos um filme de ficção científica, algo surreal. Na retomada, tenho me sentido bem, sabe, eu não fui aquela neurótica da pandemia, procurei fazer as coisas com responsabilidade e bom senso. Minha mãe, minha irmã e eu moramos perto, não deixamos de nos ver e quando tinha feira, eu dava uma fugidinha, pegava um ar e comia um pastel”.
Gabriella Bordasch, 36 anos, gaúcha, jornalista, empresária e criadora de conteúdo digital, casada com o Daniel, 46 anos, jornalista e editor. São pais da Joana, 4 anos, da Tereza, 2 anos e ainda dos gatos Lemmy e Estamira. Ela relatou: “Quando vieram as notícias da pandemia, veio o estranhamento e a dúvida de quanto tempo isso duraria, principalmente o confinamento. Em relação ao meu trabalho na produtora de vídeo, o que tínhamos de trabalhos agendados foram cancelados ou adiados. Lembro de falar com outras pessoas e muitos estavam na mesma situação, daí veio o medo e a sensação de que algo muito sério estava acontecendo no mundo”.
“Em casa, a sensação era boa, pois estávamos no nosso núcleo e protegidos – se o mundo acabasse, estaríamos juntos”
“Eu ouvia, lia, assistia que o mundo todo estava passando por isso: estávamos todos no mesmo barco. Nessas horas, eu pensava que teria de reinventar o meu negócio ou ele poderia não existir mais, mas que isso não tinha a ver comigo, não era fracasso ou incompetência minha, pois tinha uma pandemia acontecendo. De uma hora para a outra, um estúdio de rádio e televisão foi montado na nossa casa. Meu marido, que também é jornalista e editor, todo dia entrava no ar às 5h30 da manhã no rádio, às 6h na TV e às 8h ele comandava mais um programa de rádio. Com isso, cabia a mim me ocupar das meninas, da casa, da minha agenda e de ‘blindar’ o meu marido até, no mínimo, às 10h, quando acabavam os programas ao vivo. Obviamente que os ouvintes e telespectadores já conheciam a Jojô, que no início da pandemia tinha 2 anos e a Tetê, 6 meses. Por mais que eu cuidasse, a Jojô algumas vezes invadiu o estúdio do papai ou um choro era escutado. Vou te contar… foi um caos!”
“Mesmo no meio do caos, eu aprendi muito sobre mim nesse período”
“Se eu tivesse que resumir em uma frase o que passamos, diria que era como se a gente trocasse um pneu por dia com o carro rodando em alta velocidade. Me dei/nos demos conta de que as coisas provisoriamente não seriam mais como eram, principalmente em relação ao trabalho. As minhas reuniões seriam em casa, eu não teria como estar sempre com o cabelo arrumado, a cara seria a lavada e sem maquiagem, sem as unhas feitas, bem como as roupas seriam as que eu usava também em casa – e ainda por cima com as meninas por perto, o que não impediria que elas entrassem no quarto onde improvisei um escritório, como de fato um dia aconteceu… Eu tinha uma reunião marcada com um cliente, uma empresa familiar – e estavam conversando comigo para fazer um documentário. Nesse meio tempo, a Jojô entrou no quarto, onde era também o meu escritório improvisado, subiu na cama, a mesa que era improvisada balançou, desequilibrou o meu computador, o cliente e eu ficamos de ponta cabeça e eu fiquei com a sensação de que aquele cliente não achou a cena engraçada… Enfim, esse trabalho não rolou”.
“Outra história que temos para contar dos nossos trabalhos em casa foi um dia que o meu marido entrevistou o prefeito de Porto Alegre ao vivo. Eu estava amamentando a pequena de 6 meses, a Tetê, e a Jojô me escapou, passou no banheiro, pegou a saboneteira com sabonete líquido, abriu e foi mostrar para o papai. O Daniel, de canto de olho se dá conta que o sabonete está escorrendo pelo piso e ela pode cair, pede licença e desculpas ao prefeito e pega a Joana no colo, toda lambuzada de sabonete. Até o prefeito se sensibilizou com a angústia do meu marido e carinhosamente conversou com a Jojô até que eu pudesse vir resgatá-la. Sobre as meninas, nos afligia a ideia delas passarem muitas horas plantadas na frente da televisão. Nesse momento, desejei muito ter uma casa com pátio, pé na grama, mais espaço para elas correrem, brincarem, o que não foi possível. Diante disso, reinventei espaços no nosso apartamento, deixei que pintassem uma das paredes, que os brinquedos pudessem ficar mais espalhados. Me permiti relaxar, me dando conta que a casa não seria mais organizada como era e tudo certo, faz parte”.
“Aprendi na pandemia a flexibilizar mais as coisas, tentar ser mais leve, segurei as minhas manias e excessos sempre que possível. A situação já era difícil por si só, cada um precisava se administrar para acabar não pesando mais do que a situação demandava”
“Paciência, rotina, amor, parceria, música, culinária, ouvir e contar histórias para as nossas filhas e colocá-las para dormir faziam parte do nosso dia a dia. Quando elas finalmente dormiam, eu e o Daniel conversávamos sobre tudo: o medo do vírus, do desconhecido, do futuro. Imagina, nós, dois jornalistas, vivendo intensamente as notícias, os números de mortes… Tivemos que aprender a separar um pouco isso tudo para não pirarmos. Nessas horas de conversas entre nós, acomodávamos o que estava acontecendo, nos ouvíamos, era a nossa dose diária de alívio”.
“Dia desses eu estava ouvindo um Jazz e me dei conta da beleza do improviso, nem sempre os instrumentos tocam exatamente como no ensaio e eu acho que essa palavra diz muito do que sou hoje. Eu aprendi a improvisar, me autorizei a fazer isso e de certa forma me trouxe mais leveza. A vida é um Jazz!”
Thaís Starling, 46 anos, psicanalista. Mãe do Diego, 16 anos e Clara 5 anos, comentou: “Aprendi com a pandemia que as zonas que limitam o dentro e o fora são constantemente revisáveis. O grupo familiar precisou em grande quantidade estar perto para descobrir realmente o estar-junto – e os que ficaram distantes tiveram que garantir o futuro buscando nas vivências de amor que tiveram antes. Penso que o medo precisa de um olhar sustentado na esperança e acreditando no outro. Todos cuidando de todos é a única saída.”
“Todos cuidando de todos precisa ficar sempre entre nós”
“A convivência em alta escala veio pra mostrar que lidar com as diferenças nos torna mais potentes e mais amplos. Atacar a diferença nos enfraquece – e aprender com ela nos enlaça. Vencemos olhando uns aos outros. Vasculhando nosso profundo e assim, apoiados no profundo do outro alçamos o voo da esperança e do futuro. Com a pandemia, ficou mais claro para mim que a potência está na sustentação em grupo: só assim sobrevivemos, só assim voamos alto. O coletivo se fez efetivo. As dores ainda se fazem presentes, ainda estamos estranhos da nossa nudez revelada, ainda não sabemos se somos melhores, mas tivemos a chance de ainda sermos contextualizados: escritos pelo outro, revivemos a origem. O desamparo, primeiro, só se torna criação quando o empático encontra o lúdico”.
“Sorte minha que nessa batalha sobrevivi assistindo ofertas criativas que crianças me deram. A minha criança e a criança que vivem nos meu filhos”
“Quanto a retomada, como estamos hoje, o que mais me alivia é o fato das meninas estarem indo para a Escola, um lugar cuidadoso, amoroso, lúdico e brincante, o que eu acredito ser fundamental na vida de uma criança e com isso eu também posso retomar a minha vida profissional”.
Como esses depoimentos mostram, o lar, a casa, a morada, a habitação, se converteram em nosso refúgio compulsório. Na verdade, habitar, hábito e habitação compartilham a mesma raiz. A casa é como uma parte do mundo, para o qual fomos lançados sem escolher, mas é exatamente aquela parte em que podemos nos sentir abrigados – o nosso mundo.
Nesta pandemia, acabamos aprendendo muito sobre os outros e sobre nós mesmos, desde as atividades e necessidades de cada um: de ruídos e silêncios, de apetites, manias e rituais – inclusive o prazer de estar junto e compartilhar espaços e tempos, sob a proteção da casa e isolados dos perigos externos.
Além disso, integração e funcionalidade se tornaram objetivos a serem buscados. E isso tem relação com o que se falava, antes da pandemia, sobre o futuro do trabalho – de como as inovações irão impactar as nossas atividades laborais e a forma de produzir – além, é claro, de quais profissões irão surgir e desaparecer. Pois a pandemia acelerou o processo.
Imagine como se estivéssemos em um jogo de tabuleiro e a casa trabalho remoto estivesse lá na frente. De repente, caímos na casa “avance sete passos” e nos vimos diante de uma nova realidade do trabalho sem contato, digital e isolado – e de como quer que o chamemos: teletrabalho, trabalho remoto ou home Office.
A pandemia nos impôs a escola dentro de casa, o trabalho dentro de casa, as interações sociais – trabalho, família e amigos – tudo dentro de casa. E não se tinha para aonde ir.
Tivemos necessidade de organizar o caos. E, nessa organização, nos (re)inventamos. Como diria Nietzsche: “É preciso ter um caos dentro de si para criar uma estrela bailarina”